Conselho afirma que criança Yanomami morreu por negligência do Governo Federal

O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) culpou a falta de recursos na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) pela morte de uma criança Yanomami na comunidade Homoxi, próxima à fronteira do Brasil com a Venezuela, no município de Iracema.

A vítima nasceu na comunidade Yarita, que fica na divisa entre os dois países. Os pais se deslocaram até Homoxi, onde a criança deu entrada em uma Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI). Dias depois, ela morreu de desnutrição enquanto aguardava um voo para ser atendida em Boa Vista.

De acordo com o Condisi-YY, diversos fatores contribuíram para a morte da criança indígena, e todos estão ligados, de alguma forma, às negligências cometidas pelo Governo Federal nos últimos dois anos.

SEM ATENDIMENTOS

Uma dessas negligências é a falta de atendimentos para membros da parte brasileira da comunidade Yarita. Assistência em saúde costumava ser presente para os moradores, mas o serviço foi cortado há aproximadamente um ano.

Com isso, o órgão critica a versão da Sesai divulgada pelo Roraima em Tempo nesse domingo (23), quando a secretaria disse que os atendimentos não são feitos em Yarita por se tratar de um território totalmente venezuelano.

O Conselho também questionou os motivos de não terem estabilizado o estado de saúde da criança na comunidade, uma vez que isso seria possível dentro de condições normais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). A entidade sugere que há falta de recursos para atendimento.

“Devido à ausência de condições, as técnicas padronizadas para aferição de peso e comprimento/estatura, provavelmente, na maioria das vezes não foram atendidas de maneira satisfatória, principalmente em crianças menores de dois anos, que necessitam de aferição de comprimento na posição horizontal, em superfície plana, lisa e firme. Ao longo dos mais de 20 anos de existência do Dsei-Y, a descontinuidade das ações tem tido impacto negativo na saúde dos Yanomami”, menciona.

DOIS PROFISSIONAIS

O presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami, mencionou que existem apenas dois técnicos de enfermagem alocados na UBSI de Homoxi, o que soma com a falta de recursos para dar atendimento digno de saúde.

“Falta tudo. A responsabilidade e recursos. O descaso da saúde indígena Yanomami está acima do normal. Como é que esse dois técnicos vão conseguir atender se falta recurso para tudo?”, questionou.

Ainda segundo a Condisi-YY, indicadores de saúde na região são três vezes piores que a média nacional, e taxas de mortalidade infantil, desnutrição, anemia, hepatite, tuberculose, malária são consideradas altas.

Informações: Roraima em Tempo