Pazuello diz que 2ª onda de Manaus pode vir a ocorrer em todo o Norte e Nordeste

Para o ministro, Manaus vive a 2ª onda da covid-19, “tão grave quanto a primeira e com maior numero de mortos” (foto: Reprodução/Youtube)

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta 2ª feira (18)que o agravamento da pandemia de covid-19 e o aumento de mortes em Manaus coincide com o momento de chuvas intensas no Amazonas e a alta umidade do ar –de 94% nesta 2ª feira (18) –, pois, segundo ele, que prejudica a atividade pulmonar.

Para o ministro, o mesmo pode ocorrer em outras regiões a partir da chegada do inverno, começando pelo Norte, Nordeste e, depois, o Centro-Sul.

“A 2ª onda é o que está acontecendo na Europa, Italia, Alemanha, Reino Unido, exatamente o que estou falando: inverno europeu que coincide com momento das novas chuvas intensas da Amazônia e em parte do Nordeste. Sabe a umidade do ar em Manaus hoje? Procurem no Google. Umidade do ar é quase água, 99 ponto não sei quanto. O tempo todo. Imaginem então o grau de dificuldade da atividade pulmonar”, afirmou.

Sem explicar de onde tirou a informação, Pazuello continuou. “Por essa questão temos agravamentos das SRAG em Manaus. Coincide com mesmo tempo que estão acontecendo as coisas na Europa e EUA. Isso sim pode se replicar para outros Estados, agora, do Norte, Nordeste e pode se replicar, quando chegarmos perto do inverno, região Centro-Sul.”

Para o ministro, Manaus vive a 2ª onda da covid-19, “tão grave quanto a primeira e com maior numero de mortos”. Para Pazuello, a 2ª consiste na soma “da busca por atendimento de covid-19 com a chegada de doenças não tratadas do ano de 2020”.

“Aquelas pessoas que não conseguiram tratar as suas doenças e cirurgias eletivas elas estão chegando no seu limite e estão buscando atendimento, e o atendimento está impactado pela covid. Quando esses 2 vetores se encontram, nós temos a 2ª onda, com mais mortos do que a 1ª onda”, disse.

“O número de mortos hoje em Manaus em 1 dia é de 180, onde normalmente está em 26, 30. Desses 180, 80 são covid, 100 já são das cirurgias eletivas não feitas e outras doenças que agravaram”, completou.

O ministro disse ainda que o “sistema de Saúde Manaus já é quase colapsado normalmente”. “Trabalha com 70% a 80% de ocupação. São 2 milhões de habitantes com pouquíssima saúde. Ao longo do tempo não se investiu como deveria, e isso agrava o colapso”, disse.

Para o ministro a única medida eficaz diante do avanço de uma 2ª onda no país é de fato o início da vacinação contra o coronavírus

“Por isso estamos tão ávidos por receber e distribuir vacinas, para imunizar população brasileira. Desenvolvimento de antivirais está acontecendo no mundo, e principalmente manter estrutura que foi criada e leitos ativos nessas regiões que poderão sofrer o impacto”, disse.

“É preciso utilizar a técnica do atendimento precoce. Temos que difundir isso todos os dias em todos os meios de comunicação para que a gente possa permitir que as pessoas tenham chance de nao agravar. Vários remédios deram algum tipo de resultado e os médicos sabem o que deve ser prescrito para os pacientes”, defendeu.

FALTA DE OXIGÊNIO FOI “SURPRESA”

O ministro da Saúde disse ainda que tanto o governo do Amazonas, quanto o governo federal receberam com “surpresa” a possibilidade de poder acabar o estoque de cilindros de oxigênio no Estado.

O ministro disse que a pasta vinha monitorando o aumento de casos e óbitos em Manaus desde dezembro e que em 4 de janeiro enviou uma equipe para fazer o diagnóstico da situação do Estado.

Em 8 de janeiro, o ministério teve conhecimento, a partir de uma carta da fornecedora White Martins, da possibilidade de falta de oxigênio nos hospitais e decidiu adotar medidas para mitigar a crise na rede de saúde de Manaus.

“No dia 8 de janeiro nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que nós mitigássemos o problema, mas aquela foi uma surpresa tanto par ao governo do Estado quanto para nós. Até então, o assunto oxigênio estava equilibrado, mas a velocidade das internações foi muito grande. O consumo quintuplicou”, disse.

“No dia 10 de janeiro, o governador determinou, por sugestão minha, a abertura do CICC (Centro Integrado de Comando e Controle do Governo do Amazonas). A partir daquele momento nos passamos a coordenar todos os trabalhos junto com o governador e prefeitura. Juntos, porque não existe solução na Amazônia senão a união de esforços dos 3 níveis de Poder.”

Apesar do Ministério estar ciente e de dizer que estava adotando medidas, a ações não foram suficientes para evitar que a situação do sistema de saúde amazonense se agravasse na última 6ª feira (15.jan.2021), quando o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus. Ainda não é possível ter dimensão do número de mortos por covid-19 por causa da falta de oxigênio.

ATENDIMENTO PRECOCE

Na entrevista, o ministro voltou a defender o tratamento precoce da covid-19, mas evitou mencionar o uso da hidroxicloroquina. Pazuello disse ainda que não se pode confundir a orientações sobre o atendimento precoce “com a definição de que remédio tomar”.

“Para piorar a situação, vocês sabem como tenho divulgado desde junho, o atendimento precoce. Não confunda o atendimento precoce com definição de que remédio tomar. Nós defendemos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saude. procure o médico e o médico faça o atendimento precoce. Que remédios o médico vai prescrever isso é foro íntimo do médico com o paciente. O ministério não tem protocolos sobre isso. Não é missão do ministério definir protocolo”, disse.

“Tratamento é uma coisa, atendimento é outro”, completou.

O ministro disse ainda que “nunca” receitou o uso da cloroquina para o tratamento da covid-19. Reportagem da Folha de S. Paulo, no entanto, revelou que o Ministério da Saúde montou e financiou uma força-tarefa de médicos que defendem o “tratamento precoce” da covid-19 para visitarem UBSs (Unidades Básicas de Saúde) em Manaus (AM). Mas antes, em 20 de maio, a pasta publicou recomendações para o uso do medicamento.

O presidente Jair Bolsonaro e outros ministros também já incentivaram o uso do medicamento no tratamento da doença diversas vezes em vídeos e em redes sociais.

“A senhora nunca me viu receitar às pessoas para tomarem este ou aquele remédio. O governo federal seguirá distribuindo cloroquina quando solicitado por Estados e municípios. Nunca recomendei medicamentos para ninguém, nunca autorizei protocolo”, declarou.

VACINA DA ÍNDIA

O governo federal tem enfrentado dificuldades em importar a vacina desenvolvida pela desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford produzida na Índia pelo laboratório indiano Serum. A importação do imunizante foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2 de janeiro.

A expectativa era de que as 2 milhões de doses vacinas chegassem ao Brasil sábado (16.jan), no entanto, houve atraso. O diretor-executivo do laboratório indiano Serum Institute, Adar Poonawalla, disse na 6ª feira (15.jan.2021) que a Índia só deve enviar o imunizante ao Brasil daqui a duas semanas. Afirmou que a prioridade do laboratório sempre foi a vacinação da população local.

Pazuello disse que ainda está em negociação com a Índia, mas que o “fuso horário” entre os 2 países complica a conversa. No entanto, disse que um acordo sobre o envio das doses da vacina deve ser definido nos próximos dias.

“Todos os dias estamos tendo reunião com a índia. O fuso horário é muito complicado. Estamos recebendo sinalização de que isso deverá ser resolvido nos próximos dias nesta semana, nao há resposta oficial de saída até agora. Está sinalizado nos próximos dias desta semana da carga para cá. Estamos contado com esses 2 milhões de doses para que a gente possa atender mais ainda essa situação”, declarou.

“ECONOMIA NÃO PODE PARAR”

Pazuello disse também que o governo tem que apoiar os governadores e prefeitos com a difícil decisão de equilibrar as medidas restrições para controlar a pandemia e a manutenção da atividade econômica.

“O importante é que a economia não pode parar. Se parar, vamos acelerar a 4ª onda. [A 4ª onda] É o choque no emocional das pessoas, depressão, automutilação, suicídio, todos [os danos] causados pela queda da capacidade de manter a própria família e de se manter”.

Informações: Poder360