Milhares de professores fazem fila na manhã desta quarta-feira (19) no Palácio da Cultura, no Centro de Boa Vista para fazerem prova de vida. Eles se apresentam a militares do Exército que inspecionam a frequência e documentação dos servidores, que reclamam da desorganização e do número reduzido de militares para atendê-los.
A operação iniciada nessa terça (17) pretende detectar fraudes em folhas de pagamento das secretarias estaduais. As filas também foram vistas no decorrer do dia em várias secretarias. Os trabalhos, segundo o governo interventor, devem se encerrar nesta quarta.
Na ação desta quarta, servidores da Educação estão se apresentando. Nas filas, há professores e servidores da rede pública estadual efetivos e comissionados, além de servidores da União que exercem funções de comissão.
Na terça, o estado havia informado que a prova de vida não era necessária aos servidores da educação e nem da saúde porque eles recebem por fundo próprio e não estão sem salários. Nesta quarta o G1voltou a questionar o governo sobre o assunto e aguarda retorno. (Veja abaixo quem deve se apresentar)
Professores e servidores começaram a chegar ao Palácio da Cultura ainda na noite de ontem. Eles portavam documentos com fotos e as frequências de outubro e novembro. A movimentação de servidores seguiu pela madrugada e continuou pela manhã. Alguns levam banquinho, café e lanche para aguentar o tempo na fila.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima (Sinter), ao menos 20 mil servidores estão lotados na educação. O número inclui as duplicidades por recebimento de cargo de função e comissão.
Para Flávio Bezerra, presidente do Sinter, a forma como o trabalho é feito “é desumano ao servidor”.
“Infelizmente a intervenção federal está ocorrendo desorganizada. A gente fica numa situação difícil, porque a forma que isso está sendo feito é desumana para o servidor. Se tira a presunção de inocência de todos e colocam como culpados para os desvios no estado”, disse Flávio.
Marilene de Souza, que dá aulas no estado desde 2002, chegou por volta da 2h da madrugada e acredita que a operação é importante para encontrar problemas, mas ocorre de forma desorganizada.
“Não houve informações oficiais, apenas as conversas nos grupos entre nós, professores e gestores. Teve muito desencontro de informações, não sabiamos exatamente quem deveria vir e aqui a gente vê o mesmo, desorganizado”, disse ela.
Por volta das 7h40 servidores ainda não tinham sido atendidos. Houve um principio de confusão entre eles e os militares que estavam no auditório do prédio lotado. Um coronel chegou a pedir a palavra e explicar a forma como o serviço seria feito e houve gritaria.
“Eles queriam priorizar mais prioridades do que a gente que chegou aqui de noite e não concordamos. Quem se enquadra tem que ser atendido, mas tem que pensar na gente aqui também que tá há muito tempo”, disse uma professora que não quis se identificar.
Os trabalhos iniciaram as 8h e as filas seguiam do lado de fora. No auditório do prédio, militares atestam a frequencia e a documentação e em serguida o servidor é liberado.
Para o Sinter, o certo seria se fazer uma investigação e encontrar servidores que recebem iliciatamente e forçar a devolução dos valores recebidos indevidamente “e não colocar toda a categoria dessa forma desumana e desastrosa que os servidores estão sendo expostos”, finalizou.
A regra de apresentação é igual a de terça:
- A prova de vida é para todos os servidores da Educação (efetivos e comissionados);
- Quem foi exonerado recentemente e está sem receber tem que se apresentar;
- Quem está de férias/licença médica cujo afastamento foi informado ao RH não precisa se apresentar;
- Servidores em licença maternidade/paternidade têm que se apresentar;
- Servidores da União que exerçam cargo em comissão também devem se apresentar.
Entenda a crise no estado
A intervenção federal em Roraima tenta amenizar os efeitos de uma crise desencadeada por problemas de gestão, falência do sistema prisional e denúncias de corrupção no governo local que também estava há meses sem pagar servidores, forncedores e terceirizadas.
Em meio ao colapso dos serviços públicos por problemas internos, o estado também viu a capacidade de atendimento público comprometido ao se tornar ponto de passagem de venezuelanos que fogem da crise no regime chavista.
Essa a segunda intervenção federal decretada este ano pelo governo Temer. A primeira ocorreu em fevereiro, quando o presidente da República decretou a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
Por Alan Chaves, G1 RR — Boa Vista