Um áudio obtido com exclusividade pelo G1 nesta terça-feira (12) mostra que a deputada estadual Ione Pedroso (SD) foi alertada por um agente penitenciário de que ela não poderia ter retirado a tornozeleira eletrônica que usava.
Investigada e presa pela Polícia Federal por desvios milionários no transporte escolar, a parlamentar retirou o equipamento no dia 14 de janeiro, quando tomou posse como deputada na Assembleia Legislativa, após uma decisão do juiz federal Helder Girão Barreto. A ordem, no entanto, não excluía o uso da tornozeleira e ela foi obrigada a recolocá-la após nova decisão.
A deputada foi presa no dia 14 de dezembro na operação Zaragata da PF. Um mês depois, Ione, acompanhada de um advogado, foi à Secretaria de Justiça e Cidadania e retirou a tornozeleira, quando deveria alterar apenas o horário de monitoramento.
Após perceber que a decisão judicial havia sido interpretada de maneira errada, o agente da Sejuc enviou um áudio à deputada a alertando que ela não deveria ter retirado. A defesa da deputada nega que ela tenha descumprido a ordem judicial (veja abaixo).
“Deputada, deixa eu só lhe falar. Na decisão aqui fala só a questão do recolhimento noturno, certo? Na verdade, ‘tô’ lhe orientando aqui para não dar problemas para a senhora e nem pra questão do monitoramento aqui. E aqui não tá dizendo que é para tirar a tornozeleira. O que deveria acontecer aqui, como é recolhimento noturno e as folgas da senhora, é monitoramento, é alteração desse horário aqui do sistema. É para alterar só no sistema, é o horário que a senhora deve tá em casa. Então não era para a senhora ter tirado a tornozeleira nesse momento. Aqui só diz o seguinte na decisão, é substituir a prisão domiciliar imposta senhora pro recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, então era para alterar só no sistema daqui tornozeleira. Então, a senhora vê direitinho com o advogado da senhora aí para não dar nenhuma implicação judicial para senhora também e nem para central de monitoramento aqui né?! Então, tô olhando aqui né?! Agora que vim ler com mais calma aqui a decisão tá? No mais aí, boa posse, pra senhora aí, tudo de bom!!”, explica o agente.

Ela ainda questiona o servidor se “substituir” não seria o mesmo de “retirar”, supondo que as palavras seriam sinônimos: “Amor, mas quando ele disser substituir, ele (juiz) já não tá autorizando a retirada, quando ele diz substituir?”.
Ione ficou sem o equipamento por quase três semanas. No entanto, uma nova decisão a obrigou a recolocar a tornozeleira. Nesta terça o Ministério Público Federal informou que pediu novamente a prisão preventiva da parlamentar em razão do descumprimento de ordens judiciais.

De acordo com uma fonte da Sejuc, a deputada, mesmo proibida de manter contato com outros investigados no mesmo esquema pela PF, fez visitas ao marido José Wallace Barbosa na Cadeia Pública.
Um dos encontros ocorreu no dia 16 de fevereiro, mesma data em que José Wallace chegou a Boa Vista. Ele foi preso em São Paulo após ficar quase um mês foragido.
As outras visitas ocorreram nos dias 18, 20, 24, 27 e 28 de janeiro e no dia 3 de fevereiro. No dia 4, Ione recolocou a tornozeleira eletrônica que havia sido tirada sem autorização da Justiça.
No dia 6, já com a tornozeleira, foi registrado através do sistema de monitoramento, que a deputada esteve na Cadeia Pública visitando o marido.
Diante das infrações cometidas quando ainda estava em recolhimento domiciliar e sob monitoramento, o MPF pediu a prisão preventiva da política.
Defesa nega descumprimento
A defesa Ione Pedroso, em nota, negou veementemente que ela descumpriu de forma deliberada a ordem judicial de usar tornozeleira.
“Trata-se de equívoco não provocado pela deputada e que foi prontamente reparado quando ela tomou ciência de que deveria continuar usando tornozeleira. A deputada tem absoluto respeito ao Poder Judiciário e ao honrado Juiz Federal, está acatando e irá acatar todas as determinações da Justiça”, afirma nota enviada pela assessoria.
Por meio da nota, a parlamentar reiterou que está à disposição da Justiça para todos os esclarecimentos, inclusive para demonstrar e provar que as acusações não são verdadeiras.
Informações: G1 Roraima