OPINIÃO – Frigo 10 está cada dia melhor; o Mafir, coitado, que Deus o tenha

Abandonado pela gestão Denarium, frigorífico de Roraima fechou em 2019

Somente em fevereiro deste ano, a balança comercial de Roraima chegou ao saldo de quase 29 milhões de dólares. As exportações de carne para a Venezuela estão diretamente ligadas ao resultado. É o terceiro produto que mais exportamos para o país vizinho, atrás da soja e da margarina (que é distribuída mas não produzida aqui).

Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) divulgado pelo Roraima 1 na semana passada mostrou que, em 2021, as exportações de Roraima para o país de Maduro somaram um total de US$ 336 milhões, e uma parte disso, foi para o livro de caixa do único frigorífico industrial de Roraima, o Frigo 10.

Em janeiro de 2018, um dos sócios do empreendimento e então diretor daquela indústria, concedeu entrevista à Rede Amazônica, onde afirmou que o Mafir, Matadouro-Frigorífico do Estado, “não tinha condições para comportar a demanda”. O senhor Olivério Almeida e outros nove ricaços investiram R$ 40 milhões em uma estrutura que tem capacidade para abater 700 cabeças de gado por dia ou 120 por hora, mas naquele início, começou humilde, só com 200, três vezes na semana. Eita rapaz de visão!

Na mesma entrevista, outro sócio, o empresário Luiz Brito foi certeiro na aposta. “A gente espera logo, logo operar com toda capacidade para, inclusive, atender mercados fora de Roraima e até internacionais, que são nossos maiores objetivos”, profetizou.

“Com isso, nós esperamos ter a capacidade para mudar a matriz econômica do estado e o agronegócio poderá alavancar, assim como já ocorre no Brasil, a nossa balança comercial”, destacou naquela ocasião o senhor Olivério. E não é que o sonho de Olivério se tornou realidade? O Frigo 10 é gigante. No tamanho e no faturamento.

Em outubro daquele mesmo ano, o sábio senhor Olivério se candidatou ao governo de Roraima. E ganhou. Em 2019, o Mafir, fechou.

Como já dito aqui em outra ocasião, o governador Antonio Olivério Garcia de Almeida, o Denarium (PP), tem contado muita vantagem por aí por ter “dinheiro em caixa” no seu governo. Imagine então se ele tivesse investido no Mafir ao invés de fechá-lo, não é? Boa parte desse valor das exportações estaria hoje voltando para os cofres públicos, revertido em benefícios maiores à população do que os obtidos pelo governo do estado até aqui. De toda forma, quem governa para poucos, nunca terá esse tipo de visão.

O discurso da iniciativa privada é sempre o de “geramos empregos”. No caso do Frigo 10, segundo a companhia, são 300 diretos. Mas, no setor privado, sabemos que os incentivos fiscais concedidos pela Suframa isentam as indústrias do pagamento de alguns impostos, tornando os negócios desse porte por aqui, cada vez mais atrativos.

Com muito lucro e pouco imposto, realmente, para a turma do Frigo 10, Roraima está cada dia melhor. Para nós, aqui, do outro lado, resta escolher entre Chã de Dentro ou Chã de Fora, enquanto o filé, só dá pra dez.

Suframa

E por falar em Suframa, por onde andam os políticos de Roraima que sequer abriram a boca para contestar o decreto presidencial que reduziu o IPI da indústria brasileira tornando nossa indústria menos competitiva? Ninguém vai falar nada? Aproveite a reunião com o presidente amanhã, governador, e exponha a verdade.

Os parlamentares do Amazonas estão correndo da sala para a cozinha para tentar convencer Bolsonaro a voltar atrás nesta decisão que prejudica Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre e Amapá. E nossos representantes aqui estão todos calados.

Com a isenção de 25% no Imposto sobre Produtos Industrializados para as outras indústrias brasileiras, o governo federal deixa nosso estado menos atrativo aos possíveis investidores. Portanto, senhores parlamentares, reajam. Boa Vista, Pacaraima e Bonfim estão inseridas no modelo econômico da Suframa há muitos anos, não sabiam? Nossa insegurança energética sem o Linhão de Tucuruí tão prometido e nunca cumprido, já é empecilho suficiente para que o setor industriário alavanque por aqui.

Se tem a mesma isenção, como Roraima convence uma indústria de São Paulo a vir para cá? O que o senhor governador diria aos executivos de uma multinacional para que ela se instalasse aqui, nessas circunstâncias? “Vem, mana, tem damurida”. É?

Senhores deputados e senadores, voltem os olhos para as necessidades reais do nosso estado. Enquanto vossas excelências se preocupam com festa de casamento, aumentar preço de multa, concordar com manutenção de estado de calamidade pública e, contraditoriamente, ao mesmo tempo, com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, Roraima está ruindo, debaixo de uma maquiagem muito mal feita, para convencer tuxaua que onça é gato.

Inaugurar bloco do HGR, sair bonito na foto, ainda que no local faltem insumos, profissionais, maquinário e mobílias suficientes para preencher as novas salas, por exemplo, não cola mais.

O povo padece, enquanto os senhores entram para a história de uma maneira que ninguém quer ser lembrado. Enquanto isso, Denarium e sua txurma vão comprovando na prática a eficácia do ditado: “o olho do dono é que engorda o gado”. Chora, Friboi!

Por Rubens Medeiros – Roraima1