

Suely Campos (PP) assumiu o governo de Roraima em 2015 e logo nas primeiras decisões causou polêmica. A indicação de parentes para ocupar os cargos de confiança do Estado foi classificada como nepotismo, o que acarretou no primeiro pedido de impeachment da governadora.
Falta de medicamentos e materiais médico-hospitalares trouxe o caos à saúde. As constantes fugas nas unidades prisionais e o domínio das facções criminosas fizeram a população perder o sentimento de segurança.
Das 47 promessas de campanha, Suely Campos cumpriu apenas 15. Com essas características, a governadora se candidatou à reeleição, mas não conseguiu, sequer, ir ao segundo turno.
Para o advogado Pedro Duque, a ex-governadora pode ser responsabilizada criminalmente pelos desvios durante o mandato. Duque explicou que era Suely quem tomava a decisão final.
“Ela pode responder por improbidade, peculato, desvio de recursos públicos e formação de quadrilha. Ela era a chefe do executivo, ela tomava as decisões. Então, deve ser responsabilizada, podendo até ser presa”, avaliou o advogado.
Nepotismo – No início do mandato, a governadora nomeou as filhas Emília Campos dos Santos e Danielle Ribeiro Campos Araújo para a Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social e Casa Civil, respectivamente. A irmã Selma Mulinari tomou posse como secretária de Educação e os sobrinhos Frederico Linhares e Kalil Coelho para as secretarias de Gestão Estratégica e de Saúde (Sesau), respectivamente.
Paulo Linhares, que também é sobrinho da governadora, foi nomeado secretário adjunto da Sesau. Ao todo foram 19 parentes para a estrutura de governo estadual. O governo alegou que as nomeações estavam dentro da legalidade e apreciar os parentes com os cargos é uma tradição de Roraima.

“É uma prática comum na história de Roraima a nomeação de pessoas próximas aos gestores para ocupar importantes secretarias, tanto na esfera estadual como municipal”, justificou.
O Ministério Público de Roraima (MPRR) entrou com um pedido de liminar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a suspenção das nomeações. “A nomeação de tantos parentes não parece ser regra de boa administração e chega a ser desonesto com a população a condição de que boa parte da família da governante se sustente às custas da Administração Pública, situação que ofende a moralidade administrativa”, relata um dos trechos da reclamação. O pedido de liminar foi recusado pelo ministro do STF Dias Toffolli.
Saúde – Mesmo sendo uma das pastas que mais recebe recursos, a Secretaria de Estado da Saúde apresentou problemas durante a gestão de Suely. Em quatro anos, seis gestores passaram pela secretaria. O primeiro a chefiar a Sesau foi Kalil Coelho, sobrinho da governadora. Coelho afirmou que as trocas constantes na secretaria atrapalharam o planejamento e as atividades da Sesau.
“Essa troca frequente quebra qualquer planejamento. Primeiro que o secretario vai levar 45 dias para se colocar a par do que está acontecendo na secretaria. Leva um tempo para aprender como funciona a gestão da Sesau. Porque se você não souber que tipo de gestão que ela faz nunca vai ser possível alinhar para fazer o lugar seguir em uma linha só”, afirmou.

A ausência de planejamento somada à crise migratória gerou uma das maiores crises da saúde já vista no Estado. Hospitais sem remédios, médicos sem materiais necessários para realizar os atendimentos, pacientes esperando por semanas nos corredores dos hospitais por uma cirurgia ortopédica, outros com Lupus sem o medicamento, e a falta de comida para os pacientes internados.
Um médico que atua no Grande Trauma do Hospital Geral de Roraima (HGR) usou as redes sociais para descrever as péssimas condições de trabalho no HGR. “Principalmente no Grande Trauma se recebe os casos de lesões ocasionadas por ação violenta, como as ocorrências de trânsito, quedas e ferimentos provocados por armas brancas ou de fogo. A falta de medicamentos e equipamentos hospitalares impossibilita a gente de fazer um atendimento de qualidade. O problema da saúde de Roraima é político”, disse.
Em julho de 2018 médicos, enfermeiros, e servidores da área da saúde denunciaram ao Conselho Regional de Medicina (CRM) que todos os servidores dos hospitais públicos sofrem agressões constantes. De acordo com o Conselho Regional de Medicina, a falta de condições de trabalho e de estrutura para os profissionais foi a causa do problema.
À época, a presidente do CRM Brenda Avelino comentou que a situação piorou com a chegada dos imigrantes venezuelanos ao Estado, já que os leitos dos hospitais de Roraima não têm condições de atender nem a população do Estado.
“É uma soma de falta de materiais e a falta de leitos que temos aqui. Superlotação no HGR e na maternidade, os leitos não dão conta nem da nossa população, imagina a nossa população somada com os imigrantes venezuelanos. Então, a falta de leitos, a falta de estrutura, de condições de trabalho foram o que ocasionaram essas agressões físicas sofridas pelos médicos”, avaliou.
Segurança Pública – Um dos grandes problemas de Roraima nos dias de hoje é a falta de segurança. As organizações criminosas ganham mais força a cada dia e a guerra entre facções colocou o Estado em 2º no ranking dos mais violentos do país.
A fragilidade da maior penitenciária do Estado ficou escancarada nos últimos anos. A maior chacina já registrada no Estado, em que 33 presos morreram em janeiro de 2017. As forças de segurança foram perdendo o controle para as facções criminosas, que lá de dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) ordenaram assaltos, assassinatos e execuções.

Depois da chacina, foi anunciada uma reforma na Pamc e a construção de um presídio de segurança máxima, mas os projetos ainda não saíram do papel. O Fundo Penitenciário Nacional destinou R$ 44 milhões para realizar as obras, mas há indícios de desvio de dinheiro que está sendo investigado pela Polícia Federal. O sistema penitenciário segue sob intervenção federal até o dia 28 de fevereiro.
Educação – O governo de Suely implantou em Roraima a escola militarizada e algumas passaram a ser dirigidas por policiais militares. Tal situação é comemorada pelo governo como uma vitória, mas visto por especialistas como um sucesso não tão grande assim.
Muitos alunos e pais de alunos denunciaram que os filhos eram obrigados a limpar a escola, lavar os banheiros, mesmo os que possuem alergias e não poderiam realizar aquele tipo de tarefa. Os que se recusam eram punidos. Outro problema foi o valor do uniforme dos alunos que deveria ser providenciado pelos pais.
A falta de merendar escolar também foi denunciada várias vezes nesses quatro anos. Algumas escolas serviam apenas farinha para os alunos comerem. No interior do Estado a falta de pagamento do transporte escolar fez com que milhares de alunos perdessem dias de aulas e até o ano letivo. Um esquema de corrupção neste setor virou alvo de operação que resultou na prisão da deputada eleita e diplomada Ione Peixoto. Seu marido, Walace Barbosa segue foragido.
Calotes – Outra marca registrada do governo de Suely foram os atrasos nos pagamentos e no não cumprimento de prazos. Fornecedores, empresas terceirizadas, servidores conviveram ao longo dos últimos anos com a incerteza de receberem.
Algumas empresas pequenas, que venceram licitações, entregaram o material e não receberam pelo serviço e tiveram de fechar as portas. O duodécimo dos poderes Legislativo e Judiciário só era repassado por meio de decisão judicial, com bloqueios feitos nas contas do Estado.
Essa crise institucional combinada com a má gestão culminou com uma das maiores crises econômicas já vividas em Roraima. Servidores estaduais realizaram uma greve geral para cobrar os atrasos nos pagamentos. Foram mais de 90 sem receber. Os funcionários públicos fizeram greve, as esposas dos Policiais Militares fecharam os batalhões da PM em várias cidades do estado.
Informações: Roraima em Tempo