MPF apura possível crime de injúria racial em declaração de governador de RR sobre os Yanomami

MPF apura possível crime de injúria racial em declaração de governador de RR sobre os Yanomami
Governador Antonio Denarium – Foto: Reprodução/Redes Sociais

O Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para apurar se há crime na declaração do governador Antonio Denarium (PP) sobre os Yanomami. O órgão emitiu nota pública na noite desta segunda-feira (30).

Neste domingo (29), o governador concedeu entrevista à Folha de São Paulo. Nesse sentido, tentou minimizar a tragédia que os Yanomami vivem em Roraima. Além disso, ele afirmou que os indígenas “têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata parecendo bicho”. Dessa forma, o MPF considerou a declaração como discriminatória contra a cultura dos Yanomami.

“O procurador signatário ressalta que “as declarações do Governador Antonio Denarium literalmente no sentido de que os indígenas devem ‘se aculturar’ e que ‘não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho’, além de ofender a imagem coletiva dos Yanomami, rotulando-os como ‘bichos’, expressam opinião depreciativa que implica, ao que parece, a conclusão de que os povos indígenas não podem viver seu modo de vida tradicional”, diz trecho da nota do MPF.

O MPF instaurou inquérito para apurar a responsabilidade cível do Governo do Estado de Roraima. Então encaminhou o documento ao procurador-geral da República, autoridade a quem cabe, caso haja indícios de ato criminoso, instaurar apuração criminal de conduta. O órgão também é quem deve denunciar o governador junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Minimizou

Na entrevista à Folha de São Paulo, o governador ainda tentou minimizar o problema dos Yanomami. Ele afirmou que a crise é um problema “localizado”. Ou seja, restrito a alguns grupos.

No último dia 20 de janeiro, o Ministério da Saúde  decretou estado de emergência na TI Yanomami, após casos de desnutrição e malária na região. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou Roraima no dia seguinte à publicação da portaria e então divulgou a situação que ele descreveu como “desumana”.

Por fim, mais uma vez ignorando a cultura dos Yanomami, o governador de Roraima defendeu também que os indígenas devem explorar suas terras, férteis em minérios. Então citou o exemplo de cassinos em reservas indígenas nos Estados Unidos da América (EUA).

“Imagine você, desempregado, passando fome, doente. Dentro da sua casa tem um quadro do Picasso que vale US$ 1 bilhão. O que você faria? Venderia. Aí pega o dinheiro e melhora sua qualidade de vida. Igual os indígenas americanos”, disse.

Corrupção

Além do avanço do garimpo na TI Yanomami, a corrupção também colaborou para o aumento de casos de fome, desnutrição e doenças dos indígenas.

Em novembro do ano passado, por exemplo, a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar o desvio de verba de medicamentos no Dsei Yanomami. O órgão é o responsável pela saúde dos indígenas em Roraima.

Nos últimos quatro anos, os dirigentes do Dsei Yanomami foram indicados pelo senador Mecias de Jesus e por seu filho, o deputado Jhonatan de Jesus.

A PF investiga a participação deles no descaso com os Yanomami, bem como no desvio de verbas dentro do órgão. Conforme a PF, a empresa contratada para fornecer os remédios, entregava apenas 30% do que estava no contrato.

E como resultado, crianças morreram por falta de tratamento para verminose. É que elas não recebiam o albendazol.

Citado

Em nota, a Secretaria de Comunicação do Governo disse que recebeu com estranheza a citação. Disse ainda que as informações que o governador repassou estavam retiradas de contexto. E, por fim, negou qualquer fala discriminatória contra os Yanomami.

Fonte: Da Redação