‘Desrespeito’: Sem médico e testes, Malacacheta recorre à medicina tradicional na pandemia

Tradicionais eventos silenciados por uma doença desconhecida. Os traçados de uma comunidade tomados pelo isolamento social. Indígenas que viram um vírus se alastrar à medida que o Governo Federal não dava o suporte necessário. O resultado disso coloca a Malacacheta entre as mais afetadas pela pandemia da Covid-19 em Roraima.

O estado tem 728 casos confirmados de coronavírus somente em terras indígenas. Os dados são dos dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei’s) de Roraima até o dia 9 de julho. O Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste (Dsei-Leste) conta com 507 e o Yanomami com 221 diagnósticos.

São 52 mil indígenas sob os cuidados do Dsei-Leste, incluindo a Malacacheta. Já o Yanomami atende aproximadamente 28 mil. Ao todo, estão contabilizadas 14 e quatro mortes para cada área de atendimento, respectivamente. Em todo o Brasil, são 202 mortes em áreas indígenas, segundo o Ministério da Saúde.

Dados do Dsei-Leste, divulgados ao Roraima em Tempo, mostram que a Malacacheta tinha 43 casos confirmados até o fim de junho, com três mortes. Em visita à comunidade, a reportagem conversou com quem sentiu todos os sintomas, se tratou, mas nunca fez o teste devido à baixa quantidade enviada à região, que pertence ao Cantá.

A comunidade está em lockdown desde o dia 10 de julho e deve sair da quarentena total no dia 25. A equipe conseguiu autorização para visitar a localidade, localizada a 40 km de Boa Vista. A RR-207 tem sérios problemas de infraestrutura, como lama e diversos buracos.

Logo na barreira Bacabal, pouco antes de chegar à sede da comunidade, o carro da reportagem passou por processo de desinfecção, para eliminar quaisquer possiblidades de o vírus entrar no solo indígena. O bloqueio se estende aos limites com a Terra Tabalascada e Tronco Malacacheta.

Para enfrentar a doença, as lideranças das comunidades que formam a região da Malacacheta se reuniram para definir estratégias. O tuxaua do polo-base, José Ailton, disse que as equipes buscam conscientizar a população de 1,4 mil indígenas sobre os perigos do vírus.

“Ninguém estava preparado. Formamos as barreiras sanitárias para impedir que nosso povo se desloque até a cidade, e quem vem de lá não entre aqui. A doença não está dentro da comunidade, mas sim na cidade. Depois desses três meses, decidimos decretar lockdown para frear o vírus”, reforçou.

O primeiro caso na Malacacheta foi de um senhor que recebeu familiares no mês de abril. Posteriormente, outros casos foram importados para a região. Quem precisa ser removido tem apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), conforme o tuxaua.

Eles também contam com auxílio do Conselho Regional Indígena de Roraima (CIR), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Prefeitura do Cantá.

Informações: Roraima em Tempo – Foto: Divulgação