Convocado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com a missão de cuidar de sua imagem em meio à “guerra das vacinas” contra a Covid-19, o marqueteiro político Marcos Eraldo Arnoud Marques, o Markinhos Show, ou Marquinhos Maniçoba como é conhecido no meio aqui em Roraima, chegou a Brasília causando controvérsia dentro do ministério por conta do seu perfil beligerante, mas conta com a confiança do chefe.
Em poucas semanas, ele já dominou a área de comunicação da pasta, mas teve que conviver com críticas de que sua atuação provoca mais crises do que traz soluções.
Internamente, a principal crítica ao trabalho de Markinhos, como gosta de ser chamado, é que ele tem colocado o marketing acima da comunicação institucional. O diagnóstico é que, desde sua chegada, instalou-se o caos na divulgação de informações da Saúde.
Markinhos passou a assessorar o responsável pelo combate à maior pandemia dos últimos cem anos logo depois de comandar campanhas eleitorais para prefeituras como a de Cláudio Burrinho, em Iturama (MG), cidade de 39 mil habitantes, e Kelly Destro, em Ulianópolis (PA), que tem 60 mil moradores — ambos venceram.
Em 2018, o paraense de 45 anos trabalhou para eleger o bolsonarista Antonio Denarium ao governo de Roraima, onde foi secretário de Comunicação até o começo deste ano. Foi lá que conheceu e se tornou amigo de Pazuello.
Retoques na imagem
A chegada do marqueteiro ao governo federal foi revelada na semana passada pelo colunista Lauro Jardim, do GLOBO. A percepção de que Pazuello precisava de retoques na imagem encontra eco fora do Ministério da Saúde. Gestores em outras esferas da administração pública avaliam que o ministro perdeu o controle da pasta.
E que seus subordinados têm dificuldades de resolver qualquer questão internamente, colocando por água abaixo o principal atributo do ministro exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro: o de que Pazuello é um especialista em logística e manteria o operacional da pasta em pleno funcionamento.
Markinhos teve o primeiro contato com o general do Exército há pouco mais de dois anos, quando o então governador eleito Antonio Denarium se tornou o interventor federal de Roraima e nomeou Pazuello como secretário da Fazenda.
Antes, o militar coordenava a Operação Acolhida, que cuidou da recepção de refugiados venezuelanos no Brasil. De perfil assumidamente bolsonarista, exibido em uma rede social, o marqueteiro continuou em Roraima até fevereiro deste ano, quando saiu para trabalhar em campanhas pelo país.
Com a reputação chamuscada, Pazuello recorreu ao marqueteiro pela segunda vez. Markinhos conta que o ministro já havia feito um convite a ele para que integrasse sua assessoria pessoal logo que assumiu o ministério.
Na época, no entanto, recusou por estar comprometido com outros trabalhos. Recentemente, diz ele, Pazuelllo voltou a fazer contato e, desta vez, o convite foi aceito.Ainda sem nomeação oficial para o cargo, o que, segundo ele, “está por sair”, o marqueteiro tem clara ideia sobre sua função na pasta:
Minha missão é levar a informação de forma assertiva e disruptiva, chegando nos quatro cantos do Brasil. Realmente, o Ministério da Saúde precisava de um ajuste na comunicação. Tenho uma dura missão que é combater o fake e boatos. Não estamos em campanha eleitoral e sim numa campanha para salvar vidas, disse Markinhos.
Graduado em Marketing e Neurociência, ele enviou ao GLOBO uma longa lista sobre suas qualificações, que vão de uma pós-graduação em gestão pública a especializações em escrita persuasiva, desenvolvimento humano e master coach.
Em uma plataforma de vídeos, que não tem nenhuma publicação, ele se apresenta ainda como hipnólogo (estudo do sono e de seus efeitos) e palestrante motivacional. O currículo foi bem-visto pelo ministro.
Em sessão do Senado na última quinta-feira, Pazuello falou sobre sua dificuldade de alinhar a comunicação da pasta, que agora, diz o ministro, conta com “profissionais de primeira linha”.
— Eu tenho hoje uma equipe que eu finalmente consegui construir, que é a equipe de comunicação do ministério. Aceito a minha incapacidade de colocar essa equipe funcionando há bastante tempo, tentei e já é a quarta tentativa de compor uma equipe nesse padrão— disse, acrescentando: — Acho que os profissionais de hoje que estão trabalhando conosco na missão são de primeira linha e nós vamos juntamente com as empresas contratadas e os planos de divulgação atingir toda população brasileira e vamos reverter a compreensão da segurança, da eficácia e da necessidade de vacinação ampla no nosso país.
Dentre as ações gestadas por Markinhos, está a conturbada divulgação do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19. Dias antes de o ministério enviar o documento ao Supremo Tribunal Federal, ele achou que seria uma boa ideia o ministro entregar, na frente das câmeras, os papeis com o plano ao repórter que o entrevistava.
Na ocasião, Pazuello falou que a vacinação poderia começar já a partir deste mês, depois de ter dito, em diferentes ocasiões, que o início deveria ocorrer em março ou janeiro.
Ele também arquitetou um vídeo em que o secretário-executivo do ministério, coronel Élcio Franco, rechaça a polarização política ao mesmo tempo em que ataca o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
As críticas, no entanto, não têm abalado o novo assessor do ministro, que se considera preparado por Deus para ocupar o cargo. Segundo a pasta, ele deve ser nomeado “em breve” para um posto de Direção e Assessoramento Superior (DAS). Para Markinhos, o “Ministério da Saúde não pode ser demonizado”, e sim visto como uma autoridade no cuidado com as pessoas.
— É uma responsabilidade inigualável. Acredito que Deus me preparou todos esses anos para essa missão. Já perdi vários amigos para a Covid-19. É meu dever defender o Ministério da Saúde, o SUS, combater com fatos as inverdades e construir um bom relacionamento com todos da imprensa. Críticas, opiniões adversas fazem parte do dia-a-dia da vida política — disse ele.
Informações: Blog do Perônico/ Jornal O Globo.