Sobrinho impede intubação de tio na UTI do HGR

Segundo Edson Santiago, não há necessidade de intubação do tio Cezarino Pereira Tavares, 78 anos, porque está com saturação entre 96 e 97, falando bem, se alimentando bem e sem auxílio de sonda, e com sinais vitais bons

Devido ao agravamento da pandemia do coronavírus, a palavra intubação passou a fazer parte da vida dos roraimenses de uma maneira mais intensa nesses últimos meses. Por conta disso, aumentaram a preocupação e o medo de famílias e de pacientes infectados com a covid-19.

Para que o tio Cezarino Pereira Tavares, um aposentado de 78 anos, internado no HGR (Hospital Geral de Roraima) não fosse intubado, o sobrinho dele, o advogado Edson Santiago, impediu que médicos dessem início ao procedimento de intubação.

Santiago contou que até às 8h desta terça-feira (06), o tio estava sendo acompanhado pelo médico Joel Gonzaga, que teria dito que o aposentado estaria com bons sinais vitais, tudo tranquilo e que protocolo seria seguido normalmente.

“O protocolo seria a suspensão da medicação que havia sido administrada para ele, que seriam os corticoides, até que ele pudesse se restabelecer e seguir sua vida normalmente”, disse o advogado. Ele lembrou que o senhor Cezarino estava desde o dia 16 de março fazendo tratamento contra a covid em casa, e que só levou o tio para atendimento no HGR somente para recuperação, porque teria ficado muito fragilizado.

Edson Santiago contou que, com o término do plantão do Joel, ontem pela manhã, um outro médico assumiu o atendimento. “Foi quando recebi uma ligação da companheira do meu tio, me informando que o procedimento seria intubação, e que eu, por ser o responsável por ele, precisaria ir até o HGR assinar uma autorização para intubar meu tio”, relatou.

O advogado contou que quando chegou ao hospital, conversou com o médico que, segundo Edson Santiago, não é brasileiro. “Ele queria que eu assinasse uma autorização para que meu tio fosse intubado. Não concordei com esse procedimento, porque meu tio estava saturando entre 96 e 97, falando, se alimentando muito bem sem auxílio de sonda, e respondendo a todos os sinais vitais”.

“O médico alegou que meu tio precisaria ser intubado, porque foi identificado, por meio de tomografia, ar dentro dos pulmões dele, ou pneumotórax. E que meu tio não teria chances de sobreviver se não fosse intubado. Não concordei com isso. Ele chamou uma psicóloga para que me convencesse do procedimento de intubação, e eu fui muito claro, que preferia, já que o tio teria dois ou três dias de vida, que passasse esses dias interagindo comigo como ele está, do que ser intubado e passar 10 dias morto, a partir daquele momento, que é o que acontece nesse processo de intubação. Paciente intubado perde sinais vitais e de lá infelizmente é funerária e cemitério”, afirmou Edson Santiago.

Profissionais teriam tentado convencer paciente a autorizar intubação

O advogado Edson Santiago contou ainda que o médico estrangeiro, a psicóloga e outro profissional, ao perceberem que não autorizaria a intubação, entraram no leito e teriam tentando convencer o senhor Cezarino a permitir o procedimento.

“Como não concordei, disseram que o meu tio estava consciente e que pode decidir por ele mesmo. Aí começamos uma discussão. Então os três afirmaram que eu teria que assinar um termo me responsabilizando por não permitir a intubação. Eu disse que assinaria, mas eles teriam que assinar no mesmo documento que queriam intubar um paciente com saturação 97, sem a minha autorização”, disse Santiago.

“Como foi dito disso, eles mudaram de ideia e desistiram do termo para eu assinar. Mas, para piorar a situação, tiveram a desconsideração de dizer que iriam levar meu tio para a UTI e que na UTI não precisaria de minha autorização para que fosse intubado. Minha reação de indignação, e pedi para não tirarem ele do bloco e que não fosse tomado esse procedimento sem meu consentimento”, ressaltou o advogado, afirmando que o tio continua no leito 206, falando, se alimentando bem, com saturação e sinais vitais bons.

“Como é que um profissional que está ali para salvar vidas, percebe que um paciente está bem e que tem possibilidade de viver, vai realizar um procedimento que no meu pouco entendimento deveria ser em último caso. Não tem mais nada pra ser feito, a gente intuba. Mas se está comendo bem, saturação 97, pressão arterial normal, não justifica uma intubação para a retirada de ar dos pulmões. Será que um procedimento como um dreno no pulmão não seria mais interessante, pelo menos tentar. Se surgir uma complicação que ele fique sem falar, sem se alimentar, a gente toma essa decisão de intubar”, esclareceu o advogado.

“Não vou generalizar, porque cada caso é um caso, mas, nessa situação do meu tio o que vejo é falta de amor pela vida. Parece que é muito mais fácil intubar e dizer eu fiz minha parte, como se isso trouxesse uma resposta para a família. As famílias querem que o médico faça todo o possível antes de intubar. Porque a chance de vida depois que se intuba é mínima. Acredito que muitos hospitais por aí, em outros estados, adotem esse procedimento, coisa que não percebi no HGR”, frisou Edson Santiago.

SESAU – A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, para saber os critérios adotados para intubar um paciente; em quais casos os médicos optam pela intubação, e como é feita essa avaliação, e até o fechamento da matéria não houve retorno. O espaço segue em aberto para um posicionamento da Sesau.

Informações: FolhaBV