Após 30 dias da confirmação dos primeiros casos de coronavírus, Roraima já registra mais de 20 profissionais da enfermagem infectados, informou o Sindicato dos Profissionais de Enfermagem (Sindprer). Esta é quinta matéria sobre o primeiro mês da Covid-19 no estado.
O presidente do Sindprer, Melquisedek Menezes, e outros profissionais da saúde, afirmaram que a situação nas unidades do estado é ‘insustentável’ e temem a contaminação de toda categoria.
“São mais de 20 profissionais infectados no estado e os demais trabalham com medo. Todos os dias recebemos inúmeros relatos sobre a falta de respeito com os servidores por parte do Governo”, relatou o presidente.
De acordo com Menezes, diversas denúncias já foram protocoladas junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nas unidades. Além disso, a falta de assistência aos servidores do grupo de risco é outra queixa da classe.
“A situação só tende a piorar, pois não há condições de trabalho. Nesses últimos dias nós buscamos solução para dar assistência aos servidores, sem isso, a pressão e a insegurança trazem problemas psicológicos a eles. Não há condições de fornecer uma saúde de qualidade desta forma”, declarou.
LINHA DE FRENTE
Um dos profissionais afastados é do Hospital das Clínicas Dr. Wilson Franco (HC). Ele contou à reportagem que não recebeu nenhum tipo de amparo e que a cada dia a insegurança toma conta de toda a categoria dentro do ambiente de trabalho.
“Não me sinto acolhido. Como já disse antes, aceitei que é questão de tempo a minha contaminação”, lamentou o servidor, que segue afastado do serviço por apresentar sintomas da doença.
RESGATE
Para a servidora pública Betânia Savia Magalhães, que atua na equipe de resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), não teve melhorias na rede estadual de saúde mesmo diante de uma pandemia.
“Eu recebo doações de máscaras, protetores faciais e termômetros, mas eles não chegam até nós. Hoje temos que comprar nosso equipamento, porque no governo é tudo regrado. Seria mais justo que essas doações chegassem aos hospitais onde o povo trabalha, pois não sabemos onde são aplicados esses insumos”, afirmou.
A profissional explicou que os atendimentos do Samu estão cumprindo escala quando há demanda, pois nem sempre o estado tem servidores para suprir esse tipo de urgência com ambulâncias. Ela disse que existe uma ambulância exclusiva para atender pacientes suspeitos de coronavírus, todavia, quando há necessidade, qualquer uma é enviada.
“Uma amiga de plantão que removeu um paciente com suspeita de Covid-19 retornou com medo e eu fui lá ajudar na limpeza total da ambulância. No município, a prefeitura nos dá total cobertura em relação aos EPIs, diferente do Estado, pois trabalho nas duas esferas e no Estado estão regrando máscaras”, denunciou.
ISOLAMENTO SOCIAL
Segundo Betânia, a falta de conscientização da população colabora para o crescimento do número de casos. “O que podemos perceber é que temos muitos casos e a tendência é aumentar, pois percebemos pouco empenho da população em seguir o isolamento. No fim de semana trabalhamos dobrado e vimos muitas casas em festas”, lamentou.
A servidora contou que os colegas de profissão temem a contaminação de todos, inclusive dos familiares. Conforme ela, atualmente não consegue ter contato direto com os filhos devido ao medo de infectá-los.
“Estamos com medo da contaminação. O que mais tememos como profissionais de saúde é contaminar nossos familiares. Isso nos causa um estresse maior que o trabalho, pois você ter que se afastar de quem ama para proteger é tão assustador. Ontem, meu filho estava saindo de casa e eu voltava do serviço, ele só acenou para mim. Engoli o choro e entrei, pois precisava tomar banho para voltar ao plantão”, declarou.
CITADO
Em nota, o governo reforçou que no dia 9 de abril de 2020 o Estado recebeu quatro carretas carregadas com EPIs (máscaras faciais incolores, máscaras de proteção respiratória, álcool etílico 70%, óculos de proteção, macacão branco, avental, gorro, luvas e outros) para atender aos servidores e unidades de saúde.
Destacou também que, por meio de uma ação integrada entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) e Secretaria de Justiça (Sejuc), pretende iniciar a produção de EPIs em Roraima.
“A expectativa é confeccionar diariamente cerca de cinco mil máscaras em Roraima, além de outros itens como jaleco e avental. Toda a produção atenderá as demandas das unidades de saúde no Estado”, garantiu o Executivo Estadual.
A Universidade Federal de Roraima (UFRR) doou quatro mil máscaras e 140 litros de álcool em gel produzidos pelos alunos para os profissionais que estão na linha de frente no combate ao coronavírus.
De acordo com a Pasta, nos últimos meses tem reforçado ações que visam melhorar o desempenho das atividades no ambiente de trabalho, incluindo a realização de palestras, treinamentos e capacitações nas unidades de saúde, na capital e interior, de baixa, média e alta complexidade.
“Objetivo foi orientar os profissionais quanto à importância do uso de EPIs, acidentes de trabalho em geral, exposição ao material biológico, Lesões por Esforços Repetitivos, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) e assédio moral, bem como capacitar agentes de combate a endemias. Além de ações de imunização para todos os servidores das unidades hospitalares”, citou a nota.
A Secretaria de Saúde já iniciou a aquisição de novos equipamentos, veículos e itens mobiliários, para garantir melhores condições de trabalho aos servidores que atuam nas unidades de saúde do estado.
Informações: Roraima em Tempo – foto: Reuters
