Roraima registrou um salto no número de mortes violentas nos primeiros nove meses deste ano. É o que mostra um levantamento do G1 e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública dentro do Monitor da Violência, parceria que tem ainda o Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Foram 244 mortes entre janeiro e setembro, um aumento de 47% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado. Foi a maior alta do país que, na contramão de Roraima, teve redução de 12,4% no número de vítimas nos primeiros nove meses deste ano.
Os dados integram o índice nacional de homicídios, ferramenta criada pelo G1, que permite o acompanhamento dos dados de vítimas de crimes violentos mês a mês no país.
O mês recorde foi o de setembro, quando 40 mortes violentas – o que inclui homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte e latrocínio – foram registradas no estado que, desde o dia 10 de dezembro, está sob intervenção federal.
Especialistas já ouvidos pela G1 afirmam que esse aumento no índice de mortes se deve principalmente à guerra entre facções criminosas rivais que disputam o controle do tráfico de drogas no estado.
O problema repercute dentro e fora dos presídios, alvo intervenção federal específica desde novembro. Em janeiro de 2017, 33 presos foram mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, unidade que concentra presos ligados à facção PCC, e em julho deste ano um adolescente foi decapitado e esquartejado após ser “julgado” em Tribunal do Crime dentro do Centro Socioeducativo.
O risco de reedição de massacres além de atos retaliatórios orquestrados por facções – como os ataques incendiários registrados no estado em julho deste ano – em razão da paralisação de servidores da segurança por salários atrasados foram apontados em relatório recente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A conclusão embasou a decisão de intervenção geral no estado.
Designado secretário de Segurança Pública de Roraima no período da intervenção, Paulo Costa credita o aumento justamente à crise no sistema penitenciário no estado.
“Nós vivemos uma situação de colapso dentro do sistema prisional. É o calcanhar de Aquiles da segurança pública e tem reflexo absurdo nas ruas”, afirmou ele em entrevista ao G1.
O acesso de presos a telefones celulares e as fugas mais recorrentes a partir do início deste ano são, para Costa, as principais explicações para o agravamento da situação.
O secretário cita, como exemplo, a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista. “É a principal de Roraima, e o estado tinha perdido o controle por lá. Com essa desgovernança, os detentos não ficavam presos nas celas”, diz. “Crimes nas ruas eram cometidos a mando de coordenadores de facções criminosas que estavam dentro do presídio.”
Com relação a medidas para reduzir o número de mortes violentas, Costa fala na retomada do controle das unidades prisionais com o início da atuação da Força Tarefa de Intervenção Penitenciária na unidade que retirou os celulares dos detentos e iniciou “obras emergenciais e obras estruturantes”.
O secretário descarta, ainda, que o cenário seja influenciado pela crise migratória, com chegada de venezuelanos a Roraima.
“A crise na segurança pública vem de muito antes da crise na Venezuela”, justifica.
“Em tese, muitos dos crimes praticados pelos venezuelanos não são de grave violência ou ameaça. Não há venezuelanos cometendo homicídio. São furtos, roubos, é a questão de extrema necessidade.”
Monitor da violência
Desde o início do ano, jornalistas do G1 espalhados pelo país solicitam os dados via Lei de Acesso à Informação, seguindo o padrão metodológico utilizado pelo Fórum no Anuário Brasileiro de Segurança Pública para alimentar o Monitor da Violência.
PÁGINA ESPECIAL: Mapa mostra mortes violentas no país
ANÁLISE DO FBSP: Para reduzir homicídios, Brasil precisa conseguir contabilizar as vítimas
METODOLOGIA: Monitor da Violência
O objetivo é, além de antecipar os dados e possibilitar um diagnóstico em tempo real da violência, cobrar transparência por parte dos governos.