Um autoexame realizado durante o banho em janeiro de 2018 mudou completamente a vida da professora Santana Lima da Silva, 55. Com a rotina cheia e dividida entre casa e trabalho, ela preferiu realizar a mamografia durante as férias escolares, em julho daquele ano.
“Quando eu recebi o resultado, em setembro, o médico disse que o nódulo era duro, redondo e que estava com três centímetros. Pelo o aspecto que apresentava, ele foi logo dizendo que a suspeita era câncer” relembrou.
A notícia dada à professora Santana foi a mesma recebida por outras 59,7 mil mulheres em todo o país, no ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Em Roraima, cerca de 100 mulheres tiveram este diagnóstico nos últimos dois anos, conforme dados da Secretaria de Saúde (Sesau), solicitados pela Folha.
Em 2019, entretanto, o número dobrou com relação ao ano anterior, quando foram registradas apenas 36 entradas na Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). Até este mês de setembro, 64 novos pacientes iniciaram o tratamento, o que representa um aumento de 78%. Mensalmente, são realizados cerca de 4 mil atendimentos na unidade.
“Eu creio que isso foi o maior problema, porque esperei todo esse tempo pra confirmar que nódulo pequeno era aquele. Quando recebemos a notícia de uma enfermidade grave como esta, logo nos vem o sentimento de tristeza. Mas comigo tudo aconteceu diferente, porque eu consegui transformar o desespero em esperança. O primeiro pensamento foi que minha rotina iria mudar. Então fui tomada por uma força de luta e pela certeza de que Deus tudo pode. Eu me disciplinei no processo do tratamento com paciência e serenidade, pois eu tinha certeza que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam”, relatou a professora que agora iniciou uma nova fase do tratamento, após a mastectomia – cirurgia de retirada da glândula mamária – e o fim das sessões de quimioterapia.
Assim como ela, muitas mulheres acabam deixando a ida ao consultório médico para depois e recebem um diagnóstico tardio. Dentre os diversos motivos para a demora de resultados conclusivos, o coordenador da Unacon, doutor Anderson Benetta, destaca a ausência de sintomas.
“A falta de conhecimento e instrução da pessoa que costuma dizer ‘eu não estou sentindo nada, então por que eu vou ao médico?’, deixando apenas pra quando já percebeu alguma coisa. Outras razões são as falhas no sistema de detecção, especificação nos exames, falhas na rede assistencial e a pessoa não conseguir fazer os exames devido à falta de aparelhos ou por conta da fila de espera. Às vezes a mulher consegue fazer o exame, mas não tem ninguém pra ver”, explicou.
De acordo com o Ministério da Saúde, toda mulher com 40 anos ou mais de idade deve procurar um ambulatório, centro ou posto de saúde para realizar o exame clínico das mamas anualmente Além disso, toda mulher, entre 50 e 69 anos deve fazer pelo menos uma mamografia a cada dois anos.
Porém, isto não significa que mulheres abaixo da faixa etária considerada ‘de risco’, não devam realizar o rastreamento deste tipo de neoplasia maligna. Mas segundo Benetta, a mamografia não é recomendada em mulheres mais jovens.
“São questões técnicas, porque a mama mais jovem é densa, mais dura. Na mamografia isso dificulta a avaliação. Claro, as mulheres devem procurar todos os anos o ginecologista. Ele vai examinar as mamas, mesmo se a mulher for mais jovem, e se tiver alguma alteração ele vai pedir um ultrassom e investigar. Se não tiver nenhuma alteração, quando completar 40 anos, é a mamografia anual”, informou.
Além do fator idade, a presença de casos da doença na família também deve acender um sinal de alerta. Principalmente quando ocorreu a parentes de primeiro grau, como mãe, tias, primas, irmãs e avós, como explica Benetta.
“É ideal que elas comecem o rastreamento 10 anos antes da idade que a familiar teve. Se a mulher tem uma mãe que teve câncer de mama com 43 anos de idade, ela deve iniciar o rastreamento aos 33”, recomendou.
Além do cuidado em realizar anualmente exames de rastreamento, a mulher também pode adaptar sua vida em favor da prevenção.
“No câncer de mama, existem várias causas além da genética. A gente recomenda evitar o uso de anticoncepcional por longos períodos, evitar terapia de reposição hormonal em mulheres pós-menopausadas, alcoolismo, tabagismo e obesidade, que são os principais fatores de risco que a mulher pode prevenir”, finalizou Benetta.
Informações: Folha de Boa Vista