A dona de casa Valdilene Sales do Nascimento, de 43 anos, procurou o G1 nesta terça-feira (28) para reclamar da falta de cuidados e de higiene da sua mãe, de 69 anos, que estava internada no Hospital Geral de Roraima, e morreu nesta madrugada. “Houve negligência”, disse.
A idosa Cícera Sales do Nascimento, segundo a filha, deu entrada na unidade após sofrer uma parada cardíaca, há quase um mês. A causa da morte da idosa não foi informada à família, disse Valdilene.
Depois de internada no HGR, o maior hospital público de Roraima, o quadro da idosa se agravou. A filha disse que ela adquiriu pneumonia, paralisou os rins e estava com infestação de larvas, popularmente conhecidas por “tapurus”, na cabeça.
“Eles [os enfermeiros] nunca lavaram o cabelo da minha mãe, nunca cuidaram dela. Ela tinha duas feridas grandes do lado direito da cabeça. Acredito que ela tenha morrido por conta dos ‘tapurus’ que aparecem no início do mês”, disse Valdilene.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), responsável pelo HGR, informou que o estado de saúde da paciente era extremamente grave quando ela deu entrada na unidade.
“A paciente teve parada cardíaca, foi reanimada e entubada, mas devido ao estado de saúde já fragilizado por causa de problemas cardíacos e renais, além da idade avançada, ela desenvolveu uma infecção pulmonar e veio a óbito”, citou a nota, acrescentando que foi feita uma avaliação na paciente, mas não foram encontrados tapurus. (Leia a nota na íntegra abaixo)
Valdilene disse que denunciou o que ela classificou como “negligência e descaso” ao Ministério Público do Estado e registrou um boletim de ocorrência no Núcleo de Proteção ao Idoso da Polícia Civil nessa segunda-feira (28), um dia antes da mãe morrer.
Cícera do Nascimento foi internada no HGR no dia 29 de abril. Depois de sofrer a parada cardíaca, ela foi atendida inicialmente na Policlínica Cosme e Silva, no bairro Pintolândia, zona Oeste de Boa Vista, unidade também administrada pelo governo, mas depois foi transferida.
No dia 30 do mesmo mês, conforme a filha, a idosa foi levada para área amarela da unidade. “Até então, ela estava consciente, falou com a família. Aparentemente estava bem”, lembrou Valdilene.
O quadro de saúde de Cícera piorou quando ela teve pneumonia, o que causou a paralisação dos rins e ela teve de fazer hemodiálise. A idosa também apresentou anemia e precisou de transfusão de sangue. Antes de morrer, ela estava em coma induzido, informou a filha. A idosa também sofria de hipertensão e diabetes.
De acordo com a filha, a família percebeu que a idosa estava com larvas na cabeça no dia 16 de maio, após uma neta da vítima identificar que Cícera tinha duas feridas na região da nuca, abaixo do cabelo.
Diante da denúncia, o MP informou que expediu ofício à Delegacia Geral da Polícia Civil para abertura de inquérito e à Secretaria estadual de Saúde para abertura de sindicância. Os conselhos de enfermagem e de medicina também orientados abrirem sindicância para apuração dos fatos.
A Polícia Civil informou que a Delegacia de Proteção ao Idoso e Portador de Necessidades Especiais “iniciou as diligências investigativas para apurar as possíveis responsabilidades penais”.
Uma técnica de enfermagem que cuidou da paciente dentro do HGR, e preferiu não se identificar, negou que a idosa estivesse com ferimentos na cabeça. A servidora afirmou que Cícera estava com lesões na boca causados pela cânula usada no tratamento do coma. “Todos os cuidados e higienização foram prestados a vítima”, disse..
A família aguarda ainda aguarda a liberação do corpo de Cícera do Instituo Médico Legal de Roraima. A filha disse que o velório e o sepultamento serão na vila Campos Novos, em Iracema, região Sul do estado.
Nota da Saúde sobre a morte da idosa
A Sesau (Secretaria de Saúde) informa que a paciente deu entrada no HGR (Hospital Geral de Roraima) no dia 29 de abril de 2019, conduzida pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em estado de saúde extremamente grave.
A paciente teve parada cardíaca, foi reanimada e entubada, mas devido ao estado de saúde já fragilizado por causa de problemas cardíacos e renais, além da idade avançada, ela desenvolveu uma infecção pulmonar e veio a óbito.
Ao ser informada da possível presença de miíase (tapurus) no ouvido da paciente, a direção da unidade solicitou que um otorrinolaringologista fizesse uma avaliação, porém não foi encontrado pelo profissional a presença no corpo da paciente.
Durante o período de internação, os profissionais da unidade deram todo o suporte médico e assistencial à paciente.
A filha da paciente registrou reclamação na Ouvidoria do HGR (Hospital Geral de Roraima), que segue agora os trâmites internos de verificação, conforme regulamentação da Ouvidoria do SUS.
Informações – G1 Roraima – Foto – Divulgação