Indígenas relatam medo após garimpeiros abrirem estrada clandestina na Terra Yanomami

Estrada foi descoberta por indígenas Yanomami, que denunciaram a entrada de maquinário pesado na Terra Indígena. A rota clandestina tem 150 quilômetros e fica próxima à região onde vivem indígenas isolados Moxihatëtëa.

“Se demorar, nossas casas vão ser destruídas. As crianças estão com medo e fugindo”. O relato é de lideranças da Terra Indígena Yanomami, a maior reserva indígena do país, após garimpeiros ilegais abrirem uma estrada clandestina em meio à floresta Amazônica. A via de terra tem 150 quilômetros de extensão e fica próxima à região onde vivem os indígenas isolados Moxihatëtëa. O relato foi divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Greenpeace.

“Eu não estou enganando. Chegou até nós do Alto Catrimani uma estrada de onde veio a retroescavadeira. Todos nós estamos preocupados porque nós não sabíamos que chegaria aqui três escavadeiras. Os garimpeiros não foram convidados para vir, mas eles estão aqui”.

O relato divulgado pelo Greenpeace ocorreu no dia 14 de novembro, e foi feito por radiofonia, o meio mais comum de comunicação dos indígenas com pessoas que vivem fora da reserva. Nele, os indígenas também pediram que a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) retirassem os garimpeiros da Terra Yanomami.

A estrada, na avaliação do Greenpeace, está “abrindo espaço para a entrada de maquinário pesado dentro do território” o que garante aos invasores o poderio “de aumentar, entre dez e quinze vezes, o potencial destrutivo do garimpo ilegal”.

“Nós lideranças estamos avisando vocês. Nós precisamos avisar a Polícia Federal urgentemente e com a Funai para retirar os garimpeiros de lá. Se demorar, nossas casas vão ser destruídas. As crianças estão com medo e fugindo. Por isso nós, os pais deles, estamos preocupados. Porque eles não conhecem as escavadeiras que chegaram aqui no Alto Catrimani. A gente não sabia que elas chegavam até aqui na região. Estão precisando de vocês para vocês verem”, cita outro trecho do pedido de socorro enviado pelos indígenas ameaçados pela rota do crime.

A descoberta da estrada foi confirmada durante a operação Guardiões do Bioma, deflagrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para combater a ação de criminosos na Amazônia. A fiscalização tem apoio da Polícia Federal.

Fantástico, à convite do Greenpeace, acompanhou o sobrevoo que flagrou a existência da estrada. Do alto, foram registradas imagens dos longos trechos da estrada entrecortada por entre as árvores.

om cerca de 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e em Roraima, onde fica a maior parte, a Terra Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil.

Geograficamente, é um território de difícil acesso onde vivem quase 30 mil indígenas – ameaçados pela presença de 20 mil garimpeiros que exploram e degradam a floresta em busca de minérios como o ouro e a cassiterita.

No sobrevoo foram flagradas uma das inúmeras consequências da estrada: três retroescavadeiras em plena atividade, a serviço do garimpo na região do Rio Catrimani, um dos mais poluídos por mercúrio dentro da reserva. Essas e uma outra máquina pesada foram destruídas pelo Ibama.