Como Copa do Mundo, peso da torcida e problemas no ataque explicam duelo que define rival do Flamengo no Mundial

A seleção de Marrocos foi uma das grandes sensações da Copa do Mundo. Entrou para a história como primeira africana a chegar a uma semifinal. Por outro lado, a Arábia Saudita foi a única equipe que superou em campo a campeã Argentina. O sucesso destas seleções elevou o ânimo do futebol árabe e embala as expectativas de Wydad Casablanca e Al-Hilal neste Mundial de Clubes que, não por acaso, foi marcada para o Marrocos.

Os clubes que se enfrentam neste sábado (4) têm contribuições importantes para o sucesso de suas seleções. O título da Champions africana, conquistado pelo Wydad, impulsionou o nome do técnico Walid Regragui a assumir a equipe que foi ao Qatar. E o Al-Hilal tinha vários titulares na seleção saudita – inclusive os autores dos gols na vitória sobre o time de Messi: Al-Shehri e Al- Dawsari.

Experiência não falta. Para Wydad Casablanca e Al-Hilal, o Mundial não é novidade. Ambos já participaram da competição recentemente e têm muito peso em seus países e continentes. O novo ranking de clubes criado pela gigante das estatísticas esportivas Opta coloca o Al-Hilal (conhecido como “o patrão” em seu país) como líder não só da Arábia Saudita, mas também de todo o continente asiático. O time azul ocupa a posição número 105 no mundo. Já o Wydad é o melhor marroquino, terceiro entre os africanos e o 189º do planeta. O Flamengo, para constar, está em 66º.

A vantagem do “Lua Crescente” (tradução de Al-Hilal) também está no valor de seu elenco. Enquanto os jogadores do Wydad custam somados 20,23 milhões de euros (pouco acima de R$ 112 milhões), os seus estão avaliados pelo site Transfermarkt em 39,63 milhões (R$ 221 milhões).

Por isso a grande aposta do “Amor” (Wydad em árabe) é na sua apaixonada e espetacular torcida. Jogar em casa, sabemos, ajuda muito. As estatísticas mostram que os mandantes ganham a maioria dos jogos. E quando se tem um 12º jogador que faz a diferença, as chances aumentam. As imagens dos mosaicos e o som dos cânticos dos ultras marroquinos já ganharam destaque na mídia brasileira.

O momento dos times

Os dois times estão em meio de temporada e na corrida pelos títulos nacionais. Após 16 jogos o Wydad é segundo colocado na Botola Pro (Liga marroquina), com nove vitórias, cinco empates e duas derrotas. Está dois pontos atrás do líder, o FAR Rabat. Campanha muito parecida com a do Al-Hilal, terceiro colocado na Pro League saudita com as mesmas nove vitórias, os mesmos cinco empates e uma derrota a menos, em 15 jogos. Está um ponto abaixo do rival local Al-Nassr, de Cristiano Ronaldo, e a dois do líder Al Shabab, que tem um jogo a mais.

Apesar das boas colocações, ambos já tiveram desempenhos melhores. O Al-Hilal tem mostrado dificuldade em fazer gols nesta temporada. Sua média é de apenas 1,63 por jogo, o que contrasta com a posse de bola, que está na casa dos 62%. São praticamente dez gols marcados a menos que o esperado pelos números de xG da Wyscout. A defesa é a terceira menos vazada do campeonato, mas sofreu 12 gols – o dobro do que o rival Al Nassr permitiu aos adversários. O último jogo foi pela Supercopa da Arábia Saudita: a derrota para o Al Feiha por 1 a 0 eliminou os azuis.

Falta gol também no Wydad. A média é de 1,3 por jogo. Ao todo o time tem dez a menos que o rival na corrida pelo título, FAR Rabat. Mas a defesa vai bem, com apenas nove gols sofridos, só atrás do FUS Rabat, que tem oito. O Wydad bloqueia bem sua área e dificulta muito as chances dos adversários, que precisam de 14 finalizações em média para acharem as redes da equipe.

O Wydad Casablanca

Quem comanda a equipe vermelha de Casablanca é o tunisiano Mehdi Nafti, de 44 anos. Ex-volante, defendeu a seleção de seu país na Copa de 2006. Trilhou a maior parte da carreira de atleta na Espanha, embora tenha passado por clubes de França, Inglaterra e Grécia. Também em solo espanhol se desenvolveu como treinador comandando equipes da segunda divisão. Até outubro do ano passado estava no Levante.

Nafti assumiu no início do ano. Ele é o segundo técnico do Wydad após a saída de Regragui. Ammouta Houcine esteve no comando de agosto até novembro, mas foi trocado na parada para a Copa do Mundo. Nafti coleciona quatro vitórias e dois empates, tendo perdido apenas um jogo no comando do time.

Ele tem mexido muito na escalação de um jogo para outro, mas alguns jogadores que formam a espinha dorsal do time estão sempre lá. Tagnaouti é um deles. Esteve na seleção que foi semifinalista na Copa do Mundo na condição de terceiro goleiro. Outra referência é o zagueiro Aboufath, de 25 anos. No meio-campo Jebrane, outro reserva mundialista, é o ponto de equilíbrio da equipe. Marca forte e tem visão de jogo, orientando posicionamento e passes dos companheiros.

No ataque o nome mais importante é o do camisa 10, El Hassouni. Aos 27 anos ele é prata da casa e jogou praticamente toda a carreira no Wydad. Hassouni joga como meia-atacante ou mais avançado como um “falso 9”. Ele bate bem na bola e tem habilidade, mas fisicamente deixa a desejar. Na última hora, pode desfalcar a equipe porque sentiu a coxa nos treinamentos da semana.

O lateral esquerdo Attyat foi quem mais representou o clube na histórica campanha da seleção. Entrou em campo seis vezes, duas delas como titular (contra Portugal e na disputa do terceiro lugar com a Croácia).

O Wydad não contará neste Mundial com o ponta-esquerda Moutaraji, peça importante do elenco. Ele sofreu uma lesão no joelho no final do ano e ficará três meses sem jogar. O seu lugar pode ser ocupado pelo habilidoso Bouhra, que tem passagem pela seleção marroquina sub-23.

Sob o comando de Nafti a equipe vinha jogando no 4-2-3-1, mas na última rodada antes do Mundial, empate em 0 a 0 com o Fath Union Sport (terceiro colocado), adotou uma linha de três zagueiros variando o esquema para o 5-3-2. Não será surpresa se repetir a estratégia contra o Al-Hilal.

Com raras exceções o Wydad não tem feito gols a partir de construções coletivas. Gosta mais da transição rápida a partir de bola roubada no campo de ataque e de lances de bola parada, como escanteios ou faltas indiretas.

O Al-Hilal

O argentino Ramon Diaz está em casa no Al-Hilal. Vai completar durante o Mundial um ano no cargo, em sua segunda passagem pelo clube onde já acumula três títulos sauditas e uma Copa do Rei. É homem de confiança do presidente do clube.

Seu time joga prioritariamente no 4-3-3, variando para o 4-1-4-1. Tem muita posse de bola, com média de 62% na temporada. Mas o rendimento ofensivo caiu desde a lesão do centroavante nigeriano Ighalo, no início de janeiro. O artilheiro do time marcou dez gols em 15 jogos, convertendo impressionantes 25% de suas finalizações. Quando se machucou ele havia enfileirado um gol por jogo nas últimas cinco apresentações. A participação dele no torneio ainda é uma incógnita, mas seu nome estava na lista de viagem para o Marrocos.

Diaz não muda tanto as suas escalações. A defesa titular tem o goleiro Al-Muaiouf, os laterais Abdulhamid e Nasser Al-Dawsari e os zagueiros Jan-Hyun Soo (sul-coreano) e Al Boleahi. No meio-campo o colombiano Cuellar tem ao seu lado o peruano Carrillo (agora mais recuado) e Kanno. Mais à frente o brasileiro Michael tem jogado na direita com o argentino Vietto no comando de ataque e Salem Al-Dawsari na esquerda. Todos os sauditas do time estiveram na Copa e quatro deles foram titulares absolutos. Há outros, no banco de Ramón Diaz, que foram titulares no time de Hervé Renard que atuou no Qatar.

O Al-Hilal, que foi eliminado pelo Flamengo em sua estreia em 2019, tem dois ex-rubro-negros e também já foi casa de Jorge Jesus, antes de sua passagem pelo time da Gávea. É um adversário mais conhecido.

O time ainda tem o centroavante francês Marega, que jogou no Porto, mas tem enfrentado vários problemas de lesão nas últimas semanas. Para o Mundial, a ausência mais comentada pela imprensa saudita é a do meia Al Faraj, que se machucou no jogo da seleção contra a Argentina, na estreia da Copa, e ainda não voltou. O retorno era esperado no Mundial, mas ele sequer viajou com o elenco para Rabat.

Nos últimos jogos a produção do ataque tem sido pequena, mas o estilo da equipe é construir pelos lados do campo a partir de tabelas e alcançar a lateral da área de onde os pontas buscam assistências para o centroavante. Como o sistema não tem funcionado bem a salvação tem sido os pênaltis batidos por Al-Dawsari (autor daquele golaço sobre a Argentina). Mas um pênalti perdido por ele no último jogo custou a eliminação na Supercopa da Arábia Saudita.

O jogo deste sábado vai nos mostrar quem chega com mais força ao torneio e o que o vencedor por propor ao Flamengo no jogo de terça-feira (7).

Próximos jogos do Flamengo:

Al Hilal ou Wydad Casablanca – 07/02, 16h – Mundial de Clubes
Volta Redonda (F) – 15/02, 21h10 – Campeonato Carioca
Resende (F) – 18/02, 16h – Campeonato Carioca