Imigrantes venezuelanos vivem sob condições precárias em clube abandonado

O acampamento foi batizado de ‘Káubanoco’, em português significa ‘nosso dormitório’, que serve de moradia para venezuelanos que estavam nas ruas
O acampamento foi batizado de ‘Káubanoco’, em português significa ‘nosso dormitório’, que serve de moradia para venezuelanos que estavam nas ruas

O antigo Clube do Trabalhador, no bairro Jóquei Clube, zona oeste de Boa Vista, se transformou em acampamento para centenas de venezuelanos. O espaço começou a ser ocupado em janeiro por uma família da etnia Warao e dois meses depois 575 pessoas, entre indígenas e não indígenas de mais três grupos étnicos da Venezuela passaram a dividir o local abandonado há anos.

No local convivem em meio a moscas, ao lixo, banheiros sem estrutura, fossa sanitária estourada, água parada entre outras situações que colocam em risco a vida de crianças, adolescentes e adultos, inclusive de mulheres grávidas.

O acampamento foi batizado de ‘Káubanoco’, em português significa ‘nosso dormitório’, que serve de moradia para venezuelanos que estavam nas ruas, dormindo sob marquises de lojas, de árvores, pontos de ônibus, postos de combustíveis e em outros lugares insalubres.

Sem o apoio que precisam para sobreviver, a maior parte deles passa o dia nas ruas pedindo comida, emprego, roupas, remédios, retornando depois para o antigo Clube do Trabalhador.

No grupo, que vive em condições de vulnerabilidade extrema, existem 250 crianças e adolescentes, e desses apenas sete estão estudando. A coordenadora geral do acampamento, Fiorella Ramos, 36 anos, formada em medicina na Venezuela, relatou que muitos estão desnutridos, gripados, com diarréia, verme, malária e há até casos de tuberculose.

“Ainda neste mês morreu uma grávida de 36 anos com tuberculose. Precisamos urgente de um médico para atender essas crianças e todos nós com exames de rotina, inclusive serviço odontológico. É uma situação lamentável”, implorou.

“Embora tenha instituições nos dando apoio precisamos de atendimento médico, principalmente para essas crianças. Estamos aqui no Brasil não é porque queremos e não seremos ingratos pela ajuda que tem sido dada ao nosso povo. Nós entendemos as dificuldades que passa Roraima, e que muitos têm se esforçando para socorrer a gente. Mas gostaríamos de ter pelo menos o básico”, ressaltou.

“Quando me refiro ao básico é a saúde, e pelo menos duas refeições por dia. Não estamos reclamando e somos gratos, mas aqui a gente só se alimenta de sopa, no horário do almoço, em três dias da semana, quando a Pastoral do Migrante da Diocese de Roraima traz. Nós que somos adultos conseguimos ficar sem comer por alguns dias, mas as crianças sofrem bastante, a maioria está doente. Precisamos de médico, que os banheiros tenham portas e janelas, a fossa sanitária estourou. O que conseguimos de alimento pedindo nas ruas fazemos aqui mesmo em fogões improvisados no meio do tempo. À noite, parte desse local fica às escuras”, contou Fiorella.

No acampamento vivem indígenas das etnias Eñepa, Warao, Kariña e Pemón e 50 famílias de não indígenas, todos venezuelanos. Poucos têm barracas e redes, mas a maioria improvisou moradias com restos de madeira e papelão encontrados no lixo.

O grupo está organizado em cinco coordenadorias e um comitê temporário de trabalho, responsáveis pela segurança, limpeza, educação, saúde, esporte e recreação, cultura, religião e telecomunicação. No local há regras como não fazer uso de bebidas alcoólicas, de drogas, entre outras.

Informações: Folha de Boa Vista