A Hutukara Associação Yanomami de Roraima divulgou uma nota alertando para o avanço do coronavírus entre indígenas e cobrou medidas do governo para conter a disseminação da doença nas comunidades. O alerta, divulgado nesse sábado (3), expressou, ainda, inquietação com a presença de garimpeiros.
No documento, a associação que representa cerca de 27 mil índios Yanomami, ressaltou a preocupação com a vulnerabilidade do povo em relação a doença que já fez uma vítima indígena no estado: o adolescente Alvanei Xirixana, de 15 anos, que morreu no dia 9 de abril.
“Não podemos fingir que o problema é pequeno só porque ele não aparece nos dados do governo. Esses casos confirmados mostram que o problema é bem maior, e significa que muitos outros parentes [indíegnas] também estão contaminados.”
“É preciso fazer uma testagem sistemática nas áreas de onde vêm os casos positivos, e onde mais houver suspeita de contaminação, para evitar que a Xawara [epidemia] se espalhe”, diz trecho da nota.
A manifestação ocorreu após a Hutukara receber do Ministério da Saúde um comunicado informado que cinco indígenas e 16 profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) testaram positivo para a Covid-19.
De acordo com a Hutukara, entre os profissionais contaminados, está uma mulher que trabalhava na região do Alto Catrimani, Dsei-Y, e teve de retornar a Boa Vista.
“Já havíamos sido informados da suspeita de que houvessem doentes com sintomas de Covid-19 no Catrimani, e hoje soubemos que uma mulher Yanomami que foi confirmada com o vírus”, pontuou.
Além disso, entre os infectados a Associação mencionou que há 12 profissionais que atuam na Casa de Saúde Indígena (Casai) e, também, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi).
“Isso é uma notícia muito ruim para nossos parentes Yanomami que estão internados, que provavelmente agora também estão com o vírus”, frisou outro ponto da nota, ao se referir à Casai.
A Hutukara atribui aos casos às “muitas falhas no cuidado de saúde” dos indígenas e disse que “ao se omitir, o governo é responsável pelas mortes que podem acontecer pela falta de medidas adequadas.”
“As medidas de contingência precisam ser reforçadas: isolamento adequado, uso de equipamentos de EPI, testes em pessoas que tiveram contato com casos confirmados, testes nas comunidades, e testes em todos os pacientes da Casai.”
Outra preocupação dos indígenas é com relação aos garimpos ilegais na floresta. Na avaliação da Associação, os garimpeiros podem se tornar transmissores da Covid-19 e exigiu que eles sejam retirados. O mesmo pedido foi feito há cinco meses, quando os índios denunciaram risco de massacre.
“Milhares de garimpeiros continuam invadindo nossas comunidades […]. Além de destruir a terra-floresta e ameaçarem nossas famílias, eles agora aumentam o risco de trazer a doença para as comunidades da Terra Yanomami. O governo precisa agir urgente para retirá-los e impedir que retornem”, alertou a Hutukara.
Com quase 10 milhões de hectares, a reserva Yanomami é a maior terra indígena do Brasil e está localizada nos estados de Roraima e Amazonas. O território também contém a referência confirmada de um povo indígena isolado, além de seis outras referências em estudo, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Roraima registrou 806 pessoas infectadas pelo coronavírus e 11 mortes até esse domingo (3).
Procurada, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) confirmou que além de Alvanei Xirixana, outros quatro indígenas e dezesseis profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami testaram positivo para Covid-19.
Todos os indígenas e profissionais positivados seguem sob monitoramento. Ainda de acordo com a Sesai, outros 19 há Xexena também estão sob observação e cumprindo a quarentena na Casa do Índio (Casai) por 14 dias.
Informações: G1 – foto: Associação Hutukara