O vexame nacional de Chico Rodrigues

Há alguns anos a Saúde Estadual virou antro de corrupção. Desde a gestão de Suely Campos (PP) são constantes as denúncias de irregularidades que se tornaram mais frequentes no governo de Antonio Denarium (sem partido). A Coluna tem levantando a discussão sobre os problemas da área e, neste contexto, ninguém imaginava ter que narrar cenas amplamente divulgadas na imprensa nacional de um escândalo vergonhoso envolvendo o desvio do dinheiro que vem para o Estado combater a pandemia de coronavírus.

Quando era oposição à Assembleia Legislativa, Denarium foi alvo de críticas ácidas dos deputados. As suspeitas levaram à abertura da CPI da Saúde para apurar contratos feitas pelo governo. Contudo, nesta trajetória de investigação, coisas, no mínimo estranhas, foram encontradas. Na prática, entretanto, a CPI perdeu a função quando os deputados se debandaram para a base aliada de Denarium. O silêncio “gritou mais alto” e as irregularidades postas de escanteio. A Assembleia chegou a discutir o impeachment de Denarium. À época, Dhiego Coelho (PTC), Jânio Xingu (PSB) e Betânia Almeida (PV) protocolaram a solicitação. Falaram de valores exorbitantes, contratos com indícios de superfaturamento… Menos de dois meses depois, eles estavam presentes nos eventos do Palácio, batendo palmas para o governador.

PANDEMIA

Em meio à pandemia, o roraimense viu o caos se instalar na Saúde Estadual. O Hospital Geral superlotou. Não havia UTI, leito, maca ou cadeira disponível para atender pacientes da Covid-19. A solução era o Hospital de Campanha, unidade organizada pela Operação Acolhida, em parceria com a Prefeitura de Boa Vista, a Universidade Federal de Roraima (UFRR), Governo do Estado e outras instituições. O governo foi o único que não cumpriu a parte na cooperação. O hospital levou três meses para funcionar e, só abriu as portas, graças às parcerias firmadas com o Banco Itaú e o Hospital Sírio Libanês. Denarium sempre se esquivou em cumprir a responsabilidade.

PACTO

Um pouco antes de a unidade receber os primeiros pacientes, Denarium formalizou o chamado “pacto pela governabilidade”, entregando a Saúde nas mãos de Jalser Renier (SD). Para a população, a promessa foi de resolver os problemas, mas, dias depois, perceptível ficou que o pacto serviu apenas para anular os dois pedidos de afastamento contra Denarium, que tramitavam na Assembleia Legislativa. Denarium se livrou das acusações e conseguiu trazer para a base aliada praticamente todos os deputados estaduais, incluindo os que assinaram o pedido de impeachment. Não houve nenhuma melhoria na Saúde, nem os desvios pararam de acontecer.

SEM CONSCIÊNCIA

Depois desse resumo, a Coluna chega finalmente à Operação Desvid-19, deflagrada ontem pela Polícia Federal após os mandados serem expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações apontam envolvimento do senador Chico Rodrigues (DEM) em esquema de contratos e compras superfaturadas que podem ter causado prejuízo de R$ 20 milhões à Saúde. O detalhe mais assustador é que o dinheiro foi destinado para combater a pandemia, ou seja, para salvar vidas, mas foi desviado para empresas possivelmente ligadas ao parlamentar. Como Chico Rodrigues conseguia dormir sabendo que essas ações causaram a morte de centenas de pessoas? É difícil acreditar que alguém tenha coragem de fazer o que a polícia acusa Chico de ter feito. Ele nega tudo.

NAS NÁDEGAS

Durante o dia, informações circularam sobre o caso. Contudo, a que mais chamou atenção foi divulgada pela Revista Crusoé. Na abordagem feita pela Polícia Federal, Chico teria tentando esconder dinheiro na roupa que estava usando. Quem presenciou a cena vazou à imprensa que o senador chegou ao cúmulo de colocar notas de dinheiro entre as nádegas. É difícil imaginar a cena e acreditar que o senador foi o mais votado em 2018, prometendo solução rápida para os problemas do estado, e usou a proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para se eleger. Chico é vice-líder do governo. O presidente não foi simpático e prometeu “voadora no pescoço” de quem é corrupto.

Informações: Roraima em Tempo – Foto: Agência Senado