Tão logo foi publicada no Diário Oficial da União dessa quinta-feira (17) a determinação do presidente Jair Bolsonaro para suspensão do uso dos radares eletrônicos nas rodovias federais, agentes da Polícia Rodoviária Federal em Roraima recolheram os equipamentos.
Conforme a determinação presidencial, foram suspensos o uso do estático, instalado em um suporte ou veículo; do móvel, instalado em veículo em movimento e do portátil, que é direcionado manualmente. O objetivo da medida é evitar o desvirtuamento do caráter pedagógico e a utilização meramente arrecadatória dos instrumentos e equipamentos medidores de velocidade.
Por enquanto, fica funcionando apenas o radar fixo, que já existe nas rodovias.
Especialistas em trânsito ouvidos pela Folha criticaram a medida do presidente Jair Bolsonaro em suspender o uso dos radares eletrônicos nas rodovias federais. Eles disseram que a consequência será um aumento no número de mortos por acidentes. Para Marcos Duarte, especialista em trânsito do Crea-RR, o Brasil irá voltar para a década de 50.
“Em 2017 ocorreram quase 90 mil acidentes graves em rodovias federais, que resultaram em muitas pessoas mortas e tantas outras feridas, com sequelas que vão levar para o resto da vida. Isso porque se conseguiu reduzir nos últimos três anos os acidentes nas estradas. E uma das medidas que mais ajuda nessa redução é exatamente o controle e a fiscalização, dentre elas se destaca o de excesso de velocidade. É um absurdo uma decisão como essa. O presidente está trabalhando na contramão de tudo que se estudou. É como pegar todos os estudos de engenharia de tráfego no Brasil e jogar no ralo. É desrespeitar a vida do cidadão brasileiro”, disse Duarte.
Outro especialista em trânsito do Detran, Vilmar Florêncio, afirmou que concorda com a opinião do presidente quando diz que a fiscalização de velocidade não deve ter caráter arrecadatório, mas quem trabalha com fiscalização de trânsito tem visto com preocupação algumas dessas medidas. “Essa ação deve ter cunho ostensivo, de prevenção, educativo, mas também de repreender quem insiste em desobedecer às leis de trânsito, colocando em risco a vida das pessoas. Ficamos apreensivos com as medidas, pois isso pode trazer um aumento na velocidade que é uma infração que potencializa, e muito, a ocorrência de acidentes graves. Não se pode banir esse tipo de fiscalização porque vai se abusar da velocidade nas rodovias e, mais na frente, qualquer um de nós podemos ser vítimas de acidentes de trânsito”, comentou Florêncio.
Agentes da PRF ouvidos pela reportagem, que pediram para não ser identificados, afirmaram ser contra a decisão do Bolsonaro. “Essa suspensão, esperamos que seja por tempo curto, com certeza vai trazer como consequência mais acidentes e mortes na BR-174. Essa rodovia tem grande fluxo de veículos, mas um número pequeno de acidentes por causa da presença desse posto da Polícia Rodoviária Federal na via, o que não é comum em outros estados que têm grande fluxo de carros e de acidentes com vítimas fatais”.
Informações: Folha de Boa Vista