Crise Yanomami é marcada por doenças, mortes e corrupção

Crise Yanomami é marcada por doenças, mortes e corrupção
Criança Yanomami desnutrida – Foto: Reprodução/Instagram/Júnior Yanomami

No dia 30 de novembro de 2022 a Polícia Federal (PF) bateu na porta do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). Agentes federais buscavam documentos para dar continuidade às investigações sobre desvio de medicamentos que serviriam para tratamento dos povos Yanomami, que passam por uma crise sanitária devido à invasão do garimpo ilegal em suas terras.

O inquérito policial foi instaurado após o recebimento de um inquérito civil, conduzido até então pelo Ministério Público Federal (MPF). O órgão apurou notícias divulgadas na imprensa que relatavam a falta de medicamentos para malária e verminoses na TI Yanomami.

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Operação da PF apura desvio de verba de medicamentos no Dsei Yanomami – Foto: TV Imperial

As diligências do MPF identificaram, dentre outras irregularidades, o recebimento do vermífugo Albendazol em quantidades inferiores ao adquirido pelo órgão.

Além deste remédio, as suspeitas são de que apenas 30% de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo DSEI-Y teriam sido devidamente entregues.

Com o apoio de agentes públicos, os recebimentos das entregas seriam fraudados e indicariam o cumprimento integral da contratação.

Apenas em relação ao prejuízo para tratamento de verminoses, o esquema implementado no DSEI-Y teria deixado 10.193 crianças desassistidas. O que resultou no aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca.

O Ministério da Saúde (MS) estima que mais de 500 crianças Yanomami morreram pela falta de assistência.

Crise Yanomami e vergonha nacional

O escândalo sobre a tragédia dos Yanomami coloca Roraima novamente como vergonha nacional. E indo um pouco mais além, também é uma vergonha internacional, visto que, o mundo agora sabe que os indígenas foram completamente abandonados.

Além do abandono do Governo Federal, o Governo de Roraima, por exemplo, também não deu assistência nenhuma àquele povo.

Há dois anos o Estado entrega alimentos do programa Cesta da Família em Roraima. Contudo, não há registro do Governo entregando as cestas para os povos Yanomami. Ou seja, nem mesmo a situação de calamidade da TI foi suficiente para sensibilizar o govenador Antonio Denarium (PP).

Vale lembrar que, especialmente no ano passado, o gestor mobilizou grande parte das Secretarias de Governo com uso de toda a estrutura governamental como viaturas, combustíveis e servidores para entregar cestas básicas. Até mesmo as regiões de difícil acesso como as do Baixo Rio Branco, receberam as equipes do Governo de Roraima com cestas básicas entre 2021 e 2022.

A reportagem entrou em contato com o Governo sobre o assunto. Contudo, assim como fez diante da crise dos Yanomami, o Executivo se manteve em silêncio.

Responsabilidade

Mas antes disso tudo, é importante ressaltar que os primeiros que devem explicações são o senador Mecias de Jesus e seu filho, o deputado federal Jhonatan de Jesus, do Republicanos.

Eles indicaram os três últimos coordenadores do DSEI-Y. Inclusive, foi em uma dessas gestões que o MPF abriu investigação para apurar o desvio de medicamentos.

Uma das empresas também é alvo de investigação por suspeita de desvio de verbas da Covid-19 na Secretaria de Estado da Saúde do Governo (Sesau).

O primeiro coordenador indicado por Mecias no Dsei-Y foi Francisco Nascimento Filho. Em seguida, Jhonatan indicou Rômulo Pinheiro de Freitas. Por último, Mecias indicou o ex-vereador de Mucajaí, Ramsés Almeida da Silva.

Entretanto, a influência dos políticos não se limitava aos cargos mais altos do Dsei-Y. Pois Mecias indicou ainda Cândido José de Lira Barbosa no cargo de assessor especial. Sendo então, todas essas pessoas de confiança do senador e de seu filho.

Outro fato importante é que lideranças indígenas chegaram a responsabilizar Mecias pela tragédia dos Yanomami.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condsi-YY) Júnior Hekurari, por exemplo, responsabilizou o senador Mecias de Jesus (Republicanos) pela situação crítica.

Dessa forma, em tom de revolta, em abril de 2022, ele publicou um vídeo nas redes sociais onde criticou o senador por declarar apoio à exploração de minérios nas terras indígenas.

Veja o vídeo:

Além disso, o líder indígena relatou que Mecias tem influência no Dsei-Yanomami. Pois era ele quem indicava os coordenadores do órgão que gerencia a saúde dos Yanomami.

“Messias de Jesus têm influência dentro do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, qual durante esses últimos anos ele indicou os Coordenadores para assumir a gestão e mesmo com todo o seu conhecimento através dos relatórios e denúncias da situação do Território Yanomami, ele declara fielmente o seu apoio ao garimpo ilegal”.

Procurado, o senador Mecias de Jesus se manteve em silêncio sobre as acusações.

Fonte: Da Redação