Documento revela que oito tipos de antibióticos estão em falta na UTI Neonatal da Maternidade de RR

Documento revela que oito tipos de antibióticos estão em falta na UTI Neonatal da Maternidade de RR
Fachada da maternidade – Foto: Yara Walker/Arquivo Roraima em Tempo

Quadro de especialistas reduzido, déficit de médicos em setores críticos e falta de medicamentos: documentos aos quais o Roraima em Tempo teve acesso na manhã desta quarta-feira (1º) revela uma situação grave na maior maternidade do estado.

A direção da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth enviou um pedido de providências ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para a solução desses problemas. Ela aponta como exemplo o término de seletivos de alguns especialistas sem possibilidade ou planejamento de renovação.

Da mesma forma, indica ainda a ausência de médicos em setores críticos, ou até mesmo sozinhos na cobertura de áreas com alto fluxo de atendimento.

“Nota-se também colegas médicos sozinhos escalados e consequentemente dando cobertura a mais de um setor, o que culmina em falta de condições mínimas para o exercício profissional”, detalhou o requerimento.

O documento ressalta ainda o tamanho da importância de se ter uma quantidade de médicos suficiente para o atendimento às gestantes.

“Indiscutível que a celeridade e a efetividade dos procedimentos/atendimentos podem significar a diferença entre a vida e a morte”.

O documento é do dia 31 de janeiro e foi enviado ao Conselho Regional de Medicina (CRM). Assim, pede ciência ao Conselho e providência sobre a situação.

Falta de medicamentos

Outro documento mostra a falta de oito tipos de antibióticos na UTI-Neonatal: amicacina; cefalotina; cefazolina; ciprofloxacino; claritromicina; metronidazol; oxacilina; e piperacilina-tazobactam.

Além disso, existem dois antibióticos em poucas quantidades, sendo um deles o ampicilina, que é utilizado para o combate a infecções de vários gêneros.

Crise

Quando se fala na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, logo a população lembra da estrutura improvisada que é inadequada para pacientes, filas extensas, demora no atendimento, falta de leitos e o que mais preocupa as mães: as mortes.

Só entre julho de 2022 e fevereiro deste ano, foram mais de 10 denúncias que chegaram ao Roraima em Tempo envolvendo um ou mais desses problemas.

O caso que mais chamou a atenção da população nas últimas semanas foi o da Gabriela Almeida, de 28 anos. Ela mora em Pacaraima e estava com 41 semanas e seis dias de gestação quando virou notícia ao ‘viralizar’ em um vídeo nas redes sociais.

A mulher entrou em desespero na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no último dia 2 de fevereiro. No chão da unidade, ela implorava para que os médicos realizassem a cesárea.

Com a repercussão das imagens, a secretária de Saúde, a advogada Cecília Lorezon, criticou gestantes que procuram atendimento na unidade. Em um grupo de WhatsApp, a titular respondeu uma reportagem sobre a superlotação da maternidade. No comentário, ela negou a situação e, além disso, disse que há pessoas que “se prestam a dar show”, referindo-se à Gabriela.

A Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR) protocolou no dia 10 de fevereiro uma pedido de informações à Sesau após divulgação de denúncias na imprensa sobre as condições e tempo de espera.

Além disso, o Ministério Público de Roraima (MPRR) chegou a abrir um procedimento para apurar o caso da gestante. A reportagem então questionou ao órgão se já havia algo de concreto sobre a investigação, mas não obteve resposta. Por outro lado, Gabriela afirmou que nunca foi procurada pelo MPRR.

‘Maternidade de lona’

Além da falta de agilidade no atendimento, a Maternidade Nossa Senhora de Nazareth ainda funciona em uma estrutura improvisada. A unidade é conhecida pela população roraimense como “maternidade de lona”, pois está instalada onde antes era o Hospital de Campanha.

Em setembro do ano passado, durante um período de fortes chuvas em Roraima, as pacientes e acompanhantes passaram por situações assustadoras. No dia 18 do referido mês, por exemplo, o pai de um recém-nascido detalhou momentos de terror na maternidade.

O homem contou que estava em casa quando a acompanhante da esposa ligou para relatar a situação caótica na maternidade. O alarme de incêndio tocava, forros caiam, a água invadia a unidade. Ou seja, um momento que deveria ser de felicidade para a família, se tornou frustrante.

Aluguel milionário da maternidade

A estrutura de tendas e lonas é alugada pelo Governo do Estado. Dessa forma, em agosto de 2021, a Sesau assinou o contrato de aluguel por R$ 10 milhões por um ano. Em seguida, fez um reajuste de 18% e o aluguel passou a ser cerca de R$ 12 milhões. No dia 9 de agosto de 2022, a Sesau renovou o contrato por mais um ano e aumentou o valor para R$ 13 milhões.

Conforme a pasta, o local abrigaria a maternidade, assim como o Hospital Geral de Roraima (HGR). Contudo, em vez do HGR, o Governo instalou o Hospital de Retaguarda, fechado em março deste ano.

Em 2021, a Sesau assinou o contrato em agosto, mas apesar disso, transferiu as pacientes da maternidade para o local no dia 5 de junho. Ou seja, dois meses antes.

Na ocasião, o governador Antonio Denarium (PP) afirmou que a situação duraria apenas cinco meses, enquanto concluía a reforma do prédio. Contudo, um ano e oito meses depois, a reforma da maternidade continua sem previsão de conclusão.

Citada

Após a divulgação das denúncias na imprensa, a Sesau se manifestou. Sobre os documentos da maternidade que relatam falta de médicos e de antibióticos, disse que as informações são caluniosas e divulgadas de forma leviana.

Por outro lado, a Secretaria divulgou que morreram 36 bebês na maternidade, apenas nos dois primeiros meses do ano. Apesar disso, afirmou que a divulgação das notícias têm o intuito de “causar desequilíbrio na sociedade”.

Por fim, disse que está realizando credenciamento médico de todas as especialidades para fortalecer o atendimento.

Fonte: Da Redação