‘Maternidade se tornou um lugar de tortura física e psicológica’, diz mulher que perdeu filha após parto na unidade

‘Maternidade se tornou um lugar de tortura física e psicológica’, diz mulher que perdeu filha após parto na unidade
Maternidade Nossa Senhora de Nazareth – Foto: Divulgação/Secom-RR

Mariana Damázio de 33 anos, é uma das muitas mulheres que denunciou a violência obstetra e psicológica sofrida na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, em Roraima.

Ela relatou à reportagem o descaso que viveu durante os dias em que esteve internada na unidade e que resultou na morte da filha. Em 2021, Mariana engravidou e de acordo com ela, a gestação foi normal.

“Engravidei da minha menina e foi uma gestação toda normal. Minha filha esteve bem o tempo todo. Completei as 40 semanas e comecei a questão da dilatação e fazia aquelas visitas na maternidade, vai faz o toque e dizem: ‘você tem que caminhar’ e assim me mandavam para casa, sem dilatação”, explicou.

A mulher ainda explicou que enquanto esteve em casa, a bolsa rompeu e no dia 6 de fevereiro daquele ano, ela foi para a maternidade. No local a equipe médica tentou realizar parto normal, contudo, Mariana já apresentava histórico para cesárea. É que o penúltimo filho e que também havia nascido no local, teve complicações no parto. O bebê passou da hora de nascer, inalou matéria fecal e ficou com sequelas.

“Cheguei na maternidade, expliquei a minha situação de eu não ter passagem e de eu ter uma situação que eu vivi de medo, no entanto, tentaram parto normal porque eu já estava em trabalho de parto. Então no início como eu não tive progresso, fui abandonada em uma sala de parto sendo tratada como se eu fosse um bicho, como se fosse o maior erro do ser humano ter um filho […] Me davam remédio mas não tinha passagem para a minha filha”, disse a mulher.

Negligência e violência

Do mesmo modo, Mariana conta que a equipe não realizou exames para ouvir o coração da bebê. Procedimento importante para a mãe que entra em trabalho de parto.

“Não foi feito o exame para saber como estavam os batimentos da bebê. Até porque não tinha o aparelho que prestasse”, explicou.

Além disso, ela também relatou que um médico ao vê-la, e que era ciente do seu histórico a coagiu durante o parto.

“O médico entrou na troca de plantão e iniciou violência psicológica, ele disse: ‘se você já vive uma situação difícil como essa, porque que você está aqui de novo? álbum novo figurinha nova? Pare de ficar gemendo respire pelo nariz e boca como estou mandando você fazer, aí você vai gostar e vai voltar aqui de novo’. Então aquilo vai te causando um medo, você vai ficando mais calada e você mais se diminuindo por medo de ser maltratada e por medo de dar alguma coisa errada. E então eles me colocavam em posições desconfortáveis para tentar colocar minha filha para fora acabei tendo um descolamento de placenta e entrei em espasmo então não consegui mais me mexer e então foi quando me levaram as pressas para fazer a cesárea”, disse Mariana.

Como resultado, a criança nasceu com parada cardiorrespiratória e foi para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e sobreviveu por apenas 26 dias. Além disso, o atestado de óbito determinou que uma das causas da morte da criança foi por Encefalopatia Hipóxico Isquêmica, ou seja quando o bebê tem interrupção de oxigênio ou glicose, o que causa uma lesão irreversível.

“A maternidade se tornou um lugar de tortura física e psicológica. A maternidade se tornou um matadouro de mães e bebês. Ela se tornou uma fábrica de crianças com problemas de saúde infantil. Tudo isso porque elas passaram da hora de nascer. Não interessa se é o primeiro ou décimo filho da mãe, é sempre um momento difícil e uma explosão de sentimentos. A gente sente ansiedade, angustia, medo, dor. Por que tanto descaso? Porque nos tratam da forma que eles nos tratam?”, desabafou a mãe.

‘Medo na maternidade’

Mariana ainda relembrou a falta de dignidade dada às mães que aguardam o nascimento dos filhos no local. “A gente não tem uma dignidade ali dentro. É no tratamento da equipe, é o descaso no ambiente, é tudo! É um lugar que a sente medo.“, disse.

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O que diz a Sesau

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde (Sesau) para comentar o caso, no entanto, não houve retorno.

Fonte: Polyana Girardi