Roraima e os desafios na pandemia

O Estado inicia o mês de março enfrentando o desafio mundial da luta contra a nova variante do coronavírus (Foto: Divulgação)

A frase do prefeito Arthur Henrique (MDB) em uma live deste domingo à noite define bem o que o país e todos os gestores públicos enfrentam: uma nova onda do coronavírus, mais agressiva devido às variantes. Estudos preliminares mostram que as variantes já identificadas da Covid-19 estão espalhadas pelo mundo e têm como característica principal serem mais transmissíveis. A do Amazonas, que circula em Roraima, traz o agravante confirmado esta semana. Uma carga viral dez vezes maior que as demais. Significa dizer que um paciente infectado com a variante do Amazonas tem 10 vezes mais vírus no organismo. Os pesquisadores avaliam se isso pode tornar a doença mais letal. Por enquanto, não há resposta. Existe apenas uma concordância universal: para conter a proliferação do vírus é preciso reduzir o contato entre as pessoas. Ou seja, isolamento social.

ESFORÇO

Esse tem sido o esforço de vários países no mundo todo. A maioria parte logo para o temido Lockdown, estratégia que algumas cidades brasileiras tiveram que adotar recentemente, para conter o número de pessoas infectadas com a doença, considerando o número de leitos disponíveis. Em Boa Vista, a proposta da Prefeitura foi manter todas as atividades em funcionamento, reduzindo o horário especialmente pela noite, quando as pessoas costumam se encontrar em casa nas casas de parentes ou amigos. É perceptível que todos estão cansados de ficar trancados em casa e com a fiscalização, os roraimenses estão fugindo para os sítios aos fins de semana, ou mantendo almoços, jantares e pequenas reuniões nas casas dos amigos. De toda a forma, alguns seguem se aglomerando de maneira desnecessária e aí, o risco e o número de pessoas infectadas aumenta.

MUDANÇAS

Na sexta-feira (26), quando o prefeito Arthur anunciou as medidas, o cenário da pandemia era de 495 novos casos confirmados em 24 horas, apenas cinco leitos clínicos estavam disponíveis. A ocupação dos leitos de UTI era de 80% e os semi-intensivos 70%. Essa conta acende um alerta porque deixa claro que se houver necessidade entre os novos infectados, o risco de haver leitos para atender todos é muito grande. São esses números que também ajudam a alertar as pessoas que ainda não estão conscientes da gravidade dessa doença. É a partir desses dados que as medidas de isolamento são estabelecidas. E aqui cabe um parêntese para destacar a maneira como o novo prefeito de Boa Vista tem buscado agir. Em janeiro, conversei com representantes de classes para tomar as medidas. E agora, mesmo com a gravidade do cenário, buscou mediar o controle sanitário com a preocupação social, derivada dos impactos na economia, mantendo todas as atividades funcionando durante a semana, ainda que com horário reduzido. E depois de avaliar novos índices, ouvindo os apelos especialmente dos empresários, dos trabalhadores, mas também da equipe técnica, flexibilizou o delivery que era um ponto polêmico nas novas medidas restritivas.

RESPONSABILIDADE

Desta forma, o delivery seguirá permitido normalmente para itens considerados essenciais como alimentos, medicamentos, material de higiene e limpeza. A flexibilização se estende até os dias 6 e 7, que correspondem ao final de semana mais rigoroso, quando não será permitido o funcionamento de nenhum estabelecimento comercial. Porém, a Coluna destaca que nenhum resultado positivo será alcançado se não houver a colaboração de todos. O objetivo das medidas restritivas é reduzir o contato entre as pessoas e com isso, frear a transmissão do vírus. Se não houver sucesso neste período, as medidas seguintes terão realmente que ser mais drásticas, como vem acontecendo em outras cidades brasileiras. Ou seja, evitar o lockdown é uma responsabilidade que deve ser compartilhada por todos, especialmente, pelos empresários que acabam sendo bastante afetados quando há a necessidade de apertar o isolamento social.

CORRUPÇÃO

Diante do cenário desafiador da pandemia, o que ainda complica mais no Brasil é a corrupção. Neste fim de semana, a revista Crusoé trouxe uma matéria com novas revelações sobre a investigação que aponta o senador Chico Rodrigues (DEM) como um dos políticos que direcionou contratos emergenciais com recursos da saúde para conter a pandemia. Quando a Polícia Federal chegou em sua casa de surpresa, Chico escondeu R$ 30 mil na cueca. O caso repercutiu no mundo inteiro e apesar de toda a vergonha, constrangimento e falta de explicação para os atos praticados, o parlamentar continua ocupando uma cadeira no Senado Federal, falando em nome do povo de Roraima. É uma vergonha.

INTERFERÊNCIA

A investigação da Polícia Federal seguia a linha de que Chico teria se beneficiado de recursos da saúde, indicando empresas para contratos com o Governo do Estado e lucrando com o pagamento de produtos e serviços superfaturados. Ele teria agido assim para direcionar a compra dos famosos respiradores, pagos de forma antecipada pelo Governo do Estado. No que já havia sido divulgado pela Polícia, havia a suspeita de envolvimento pessoal de Chico com algumas empresas locais, entre elas a Haiplan e a Gilce Pinto. Pois bem, com acesso ao relatório da PF, a revista Crusoe publicou mensagens trocadas entre os representantes da empresa Gilce Pinto, a secretária de Educação, Leila Perussolo e a desembargadora Eliane Bianchi. A ação de Chico foi no sentido de garantir que a empresa tivesse o contrato garantido com o Governo do Estado, mesmo com questionamento e indícios de irregularidades. Mas, depois das mensagens, deu tudo certo e a empresa conseguiu o contrato com a pasta. Ficou comprovada a interferência direta de Chico, o seu interesse pessoal na empresa Gilce Pinto, além da conveniência da secretaria estadual de Educação e até da desembargadora. Foi a esse esquema de favorecimento de empresas que a Polícia Federal deu o nome de conluio.

MUDOU DE IDEIA

A internet não perdoa mesmo. E quem sentiu isso na pele neste final de semana foi o senador Telmário Mota (PROS). Ele gravou um vídeo para defender o agora amigo e governador Antonio Denarium (Sem partido). Muita gente começou a falar mal do governador depois que fiscais da ADERR divulgaram a apreensão de uma carne abatida de forma ilegal. Bastou isso para muita gente lembrar que Denarium é o sócio majoritário do Frigo10 e que mesmo tendo prometido em campanha eleitoral que não ia fechar o Mafir, acabou com as atividades do Matadouro Estadual. Hoje, ele praticamente monopoliza o mercado de abate de animais junto com seus sócios do Frigo10. Pois bem, Telmário tentou defender, dizendo que era fake news do que ele chama de “grupo do mal”. Não deu outra. Internautas foram resgatar um vídeo onde Telmário aparece descompensado e raivoso, xingando Denarium e dizendo que “Denarium, você não vai me calar, porque você quer fechar o Mafir para fortalecer o Frigo10, o frigorífico do qual tu é sócio”. Pelo visto, Denarium não só calou o senador como também o deixou pianinho. Agora todo mundo quer saber o quanto custou (R$) para Denarium fazer Telmário mudar de ideia tão radicalmente. Barato não foi.

Informações: Roraima em Tempo