Dê, neste Natal, um livro de presente

Um caderno aberto na mesa da sala esperava que chegasse a tão famosa inspiração para escrever a dissertação pedida pela nova professora como dever de casa.

Quem poderia ajudar nesta tarefa impossível. Não posso – comentou envergonhado com a mãe.

Sábia, como sempre disse sem titubear, leia um livro. Nele estão entre linhas e linhas um mundo imenso à sua espera, cheio de surpresas, novas terras, outros rios que chegam até o mar.

Sim? Perguntou desconfiado. Tentar? Não custa. Vou fazer isso.

Rápido como ele só, correu até a praça, livro embaixo do braço juntar o útil ao agradável, o frescor da brisa, a música entrando devagarinho pelos ouvidos, saboreando cada palavras qual sorvete de chocolate. Ora parava numa frase, ora repetia um trecho interessante. Caia a tarde, acabava o dia. Milhares de imagens pululavam ao seu redor.

-Dona Susana viu o Pedrinho por aí?

-Vi sim. Anda pela Praça das águas, lendo.

– Lendo? Não é que o garoto escutou meu conselho.

– Como?

– Deixa pra lá.

Nos dias que se seguiram, moradores que cruzam as praças, esbarravam com um leitor atento, que mal levantava os olhos quando alguém passava.

Nas livrarias entravam e saiam bolsas carregadas, sem comentar que, as luzes se apagavam bem mais tarde que o horário normal.

Corria a boca pequena pela cidade que Pedrinho havia tirado dez na redação, inédito fazia anos.

… olhando as águas descerem caudalosas em direção ao mar leva consigo muitas histórias. A do habitantes do lavrado, das meninas e meninos queimados de sol nas ilhotas surgidas depois da última subida do rio pós estação das chuvas. Pescadores profissionais ou domingueiros, lanchas para baixo para cima formando ondas majestosas, namorados de mãos dadas extasiados com Por de Sol na Orla Taumanan, que costuma extrapolar toda e qualquer beleza. O rio corre suave acariciando suas margens, até encontrar o estupendo parceiro e desaguar no outro afluente que vai percorrer igual até abraçar o mar…

Desde então conta a lenda que nunca mais faltou imaginação para tagarelar nas esquinas. Que os livros caminham noite a fora por muitos quartos iluminados, e se pode até ouvir o farfalhar das página.

Que as livrarias são ponto de encontro para todas as idades, e somente ficam vazias quando seus leitores saem rapidinho para verem o terceiro instante do Por de Sol.