São Paulo no Allianz deixa comerciantes apreensivos e com medo do pior: ‘A Leila vai cobrir o prejuízo?’

Na próxima segunda-feira (13), o São Paulo irá enfrentar o Água Santa, pelas quartas de final do Campeonato Paulista, no Allianz Parque, já que o Morumbi estará alugado para uso da banda Coldplay. A novidade foi possível graças um acordo com o Palmeiras, que, recentemente, usou a casa são-paulina para enfrentar o Santos, justamente porque o Allianz estava recebendo um show.

Na Rua Palestra Itália, porém, a ideia de receber o Tricolor não é tão bem vista pelos comerciantes locais…

Nas proximidades do estádio palestrino, praticamente todas as lojas, bares e restaurantes são identificadas com o Verdão, possuindo nomes associados à equipe e decorações tipicamente palmeirenses. Nesta terça-feira (7), a reportagem da ESPN conversou com vários proprietários e trabalhadores dos comércios locais e ouviu diversas manifestações de preocupação e incerteza.

Na lanchonete Palmeiras Lanches, por exemplo, já está decidido: o local não abrirá na segunda-feira, por medo do que pode acontecer com a chegada de milhares de torcedores são-paulinos.

“Isso tudo é uma péssima ideia”, lamentou um dos funcionários da casa, que preferiu não se identificar.

Um dos maiores restaurantes da rua, a Lanchonete Palestrinha até irá abrir as portas na segunda, mas planeja fechar por volta das 14h, antes que os fãs do Tricolor comecem a chegar ao Allianz Parque.

De acordo com Juliana Maranhão, filha do proprietário (que possui ainda outros três estabelecimentos em ruas próximas) e administradora do local, existe medo até mesmo de depredação e saqueamentos.

Ela irá abrir o lanchonete só até o horário do almoço, mas depois irá fechar as portas durante a tarde e a noite.

“Para nós, é um absurdo. Será colocada em risco a nossa segurança e dos nossos colaboradores. Sou moradora do bairro, tenho uma filha de quatro anos e não vou nem levá-la à escola (na segunda-feira). É um absurdo a Federação (Paulista) ter liberado isso. É um absurdo o que a (presidente do Palmeiras) Leila (Pereira) está fazendo. O Palmeiras está pensando só no dinheiro, só no bem deles? É ridículo isso do São Paulo vir para cá mandar o jogo. Isso não existe, é muito perigoso”, reclamou.

“A PM diz que vai garantir nossa segurança, mas que garantia nós temos? Em outros jogos, mesmo com mando do Palmeiras, na final do Mundial, por exemplo, a polícia estava aqui na rua e mataram uma pessoa na nossa porta! […] Minha porta está ao lado de um monte de torcidas organizadas. Como vão garantir segurança? É um absurdo!”, seguiu.

“Vou ter que perder meu movimento, pois temos convênios aqui. Não vamos atender nossos clientes e vamos ter que fechar, porque quem garante nossa integridade física? Se entrarem aqui e saquearem nossa loja, a Leila vai cobrir nosso prejuízo? Não, ela não vai ressarcir. […] Já ficamos dois anos com as portas fechadas (na pandemia de COVID-19), aí vêm a Leila e a Federação e fazem isso com a gente. Seremos obrigados a fechar. É uma injustiça o que estão fazendo com os comerciantes e moradores. Estou indignada com tudo”, complementou.

O Palmeiras foi procurado para se manifestar sobre as declarações da comerciante. Em posicionamento enviado à ESPN, o time salientou que o papel de garantir a segurança é das autoridades públicas, mas relembrou que, na recente partida contra o Santos, no Morumbi, não houve qualquer intercorrência.

“Questões relacionadas à segurança pública são de responsabilidade das autoridades e dos órgãos competentes. Cabe salientar que a partida entre Palmeiras e Santos, realizada recentemente no Estádio do Morumbi, transcorreu sem qualquer transtorno diante da colaboração de todos os envolvidos no evento”, disse o clube.

Para alguns, vida normal

Se há temor por parte de alguns comerciantes da Rua Palestra Itália, outros dizem que seguirão a vida normalmente durante São Paulo x Água Santa no Allianz Parque.

É o caso, por exemplo, de Jairo Costa Santos, que administra o Bar São Marcos, dedicado ao ex-goleiro palmeirense.

Segundo ele, a decoração do local, que possui diversos pôsteres de times campeões do Verdão, será mantida, e a expectativa é que os torcedores rivais saibam se comportar.

“Quando você vai na casa dos outros, não pode chegar bagunçando”, sentencia.

O plano de Jairo é abrir seu bar na segunda-feira e manter o funcionamento ininterrupto, inclusive durante o horário de São Paulo x Água Santa e depois.

Na Lanchonete Alve Verde, que fica bem na esquina da Rua Palestra Itália com a Rua Caraibas e é um dos principais pontos de encontros de torcedores palmeirenses, também está previso funcionamento normal.

“Até agora não me falaram nada (sobre fechar as portas na segunda-feira). Estou convocado normalmente para vir”, disse um dos funcionários da casa.

Outros comércios não identificados com o Palmeiras, como uma barbearia e um mercadinho, também ficarão abertos.

Lojas de camisas vivem incerteza

Se bares e restaurantes ainda podem “se virar” vendendo comidas e bebidas a torcedores rivais, o mesmo não se pode dizer das lojas de material esportivo da Rua Palestra Itália.

Em frente à entrada do clube social do Palmeiras, por exemplo, há a boutique oficial do Verdão, que comercializa todos os itens licenciados do clube, de camisas e agasalhos a copos e chaveiros.

De acordo com funcionários ouvidos pela reportagem, o plano é abrir a loja normalmente na segunda-feira até 18h, que é o horário de funcionamento normal.

No entanto, eles salientam que, na quarta-feira (8), haverá uma reunião decisiva com o comando do policiamento local e representantes dos comércios da região.

No encontro, será definido realmente se os estabelecimentos poderão ficar abertos, com vigilância da PM, ou se serão cobertos por tapumes, o que impediria o funcionamento.

Nas outras lojas, o clima é de incerteza. Funcionários da Tifosi, dizem que o local “não deve abrir” na segunda-feira. Perto dela, a Porcolândia também deve fechar entre domingo e terça.

“Não vale a pena abrir… Até os próprios palmeirenses que passam por aqui diariamente vão ter medo de frequentar o lugar no dia”, disse Vanderlei Laurino, vendedor da Porcolândia.

A Verde e Branco, outro grande espaço de vendas de uniformes, afirma que deve funcionar em horário reduzido, no máximo até 14h, mas depois encerrará o dia de trabalho.

Há ainda os casos de lojas de torcidas organizadas, como a da Mancha Alvi Verde, maior uniformizada do Palmeiras, além da sub-sede da Força Jovem do Vasco, que é aliada da Mancha.

Estes espaços, obviamente, serão fechados e protegidos pela PM, assim como aconteceu com a sede da Torcida Independente, no Morumbi, quando o estádio recebeu Palmeiras x Santos recentemente.

Torcedores se dividem

A reportagem da ESPN também ouviu torcedores do Palmeiras sobre a realização de São Paulo x Água Santa no Allianz Parque.

As opiniões se mostraram divididas, com aprovações e descontentamento. Confira alguns depoimentos:

  • “Pode ser que tenha muita encrenca, mas, pelo menos para mim, não tem problema nenhum. Para a torcida do Palmeiras em geral pode ser que exista um sentimento de desevença (com o São Paulo), mas, para mim, é normal e tranquilo”; Márcio Ricardo Félix

  • “Eu não acho legal o São Paulo jogar aqui. Na época que a gente alugava o Morumbi, era uma relação leonina que existia. Eu concordo em alugar o Allianz Parque só se a gente cobrar o São Paulo da mesma forma que eles nos cobravam nos anos 1990 e 1980”; Ricardo Caritato

  • “Acho que, por tudo o que aconteceu na história entre os times, e por financeiramente ser cobrado quando a gente utiliza o Morumbi, eu sou contra ceder o Allianz, para falar bem a verdade. Mas é uma decisão política. Vai entrar um dinheiro bom para o Palmeiras… Mas, pela rivalidade, eu sou contra. E acredito que, se houver qualquer ato de vandalismo, os responsáveis têm que ser punidos. Se houver qualquer depredação ao patrimônio do Palmeiras, tem que haver punição para que não ocorra novamente. E o mesmo vale para quando o Palmeiras jogar no Morumbi; Rafael Suzuki

  • “Pode receber o São Paulo aqui normalmente. Nós cansamos de jogar lá no Morumbi, então não vejo problema nenhum. Eles são rivais, não são inimigos, não temos que brigar com eles. Não vejo problema algum, pode vir jogar aqui tranquilo. Claro que há uma temeridade pela questão das organizadas, não acho legal nesse sentido, mas, tendo um bom policiamento, não vejo qualquer problema”; Antônio Aurélio

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