O número de focos registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em terras indígenas (TIs) nos nove primeiros meses deste ano é o maior desde 2011 e representa o dobro do que foi verificado no ano passado.
Foram 5.242 pontos flagrados pelos satélites em áreas demarcadas na Amazônia neste ano, contra 2.680 contabilizados no mesmo período de 2011 e 2.544 em 2018. O recorde da década ocorreu em 2010, com 7.451 pontos de queimadas em áreas indígenas.
Os dados usados na análise compreendem o período de 1º de janeiro a 30 de setembro. A comparação feita pelo G1 considera os balanços do Inpe a partir de 2009. O Programa Queimadas do Inpe analisa a situação das TIs considerando os focos dentro e fora do seu território. A terra indígena Karipuna, que tem 153 mil hectares e fica em Rondônia, é a mais ameaçada quando o critério é o número de focos no entorno do limite demarcado.
Nos últimos 10 anos, o povo aparece sete vezes no topo da lista de terras com mais focos detectados em um raio de até 5 quilômetros do território.
No caso dos Karipuna, o fogo encontrado na fronteira é consequência das fazendas que cercam o território. Os produtores desmatam e depois queimam para conseguir manter o pasto para o gado.
Por serem um povo com poucos indivíduos, os cerca de 20 karipunas que vivem na área atacada por madeireiros e grileiros estão sob ameaça de genocídio, de acordo com o Ministério Público Federal.
Fogo dentro do território
Já o Parque do Xingu, que compreende 16 povos em um território de 2,642 milhões de hectares também dentro da Amazônia, registra o maior número de focos em sua própria área.
Os povos do Xingu têm um território 17 vezes maior que o dos karipunas, e tiveram sete vezes mais focos de queimadas no interior de sua terra no período.
De acordo com Anne Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), é fato que os povos indígenas têm o costume de queimar roças dentro da terra. Entretanto, ela explica que isso ocorre há milhares de anos. Por isso, o aumento dos focos nestas terras só pode ser explicado pela entrada de invasores e/ou períodos fortes de seca.
O G1 apontou neste ano que a Amazônia registrou os índices de chuvas mais altos dos últimos quatro anos. Considerando ainda que no bioma não há fogo espontâneo, os especialistas são unânimes em relacionar o aumento dos registros à queima de biomassa resultante do desmatamento.
Entre os estados do bioma Amazônia, as terras indígenas localizadas em Mato Grosso, no Pará, no Amazonas e em Rondônia são as que mais aparecem na lista dos 30 povos indígenas mais afetados pelo fogo.
Informações: G1