A humilhante ‘lapada’ de Ottaci

O jingle ‘Vai tomar lapada’ ganhou ressonância em todo o Brasil. Mas, em Boa Vista, ele se aplicou muito bem ao contexto do segundo turno. Concluída a apuração das urnas, a vitória de Arthur Henrique (MDB) foi confirmada com 116.792 votos, representando 85,36%. Ottaci (SD) conseguiu converter pouco mais de dois mil votos no segundo turno, alcançando 20.032 eleitores, com 14,64%. O feito é semelhante ao que a prefeita Teresa Surita (MDB) obteve na reeleição em 2016. Naquele ano, ela chegou a 121.148 votos, representando 79,39% dos votos válidos daquela eleição.

AVALIAÇÃO

A Coluna faz uma breve análise de como foram as eleições 2020 para a Prefeitura de Boa Vista. De certo modo, a escolha feita agora reflete no cenário que deverá se formar em 2022. Daí a importância de o eleitor manter um olhar atento desde já para a atuação dos parlamentares com mandato, especialmente porque a maioria só terá mais um ano e meio para mostrar serviço. E pelo visto, poucos irão conseguir fazer isso. Especialmente, aqueles que decidiram fazer uma pausa de seis meses no mandato na Câmara Federal para tentar ser gestor de Boa Vista.

SOLIDARIEDADE

Esta foi uma eleição de grupos políticos. De um lado, Jalser Renier (SD) apostou as fichas em Ottaci, que ele elegeu vice-prefeito de Alto Alegre e deputado federal, e achou que elegeria prefeito de Boa Vista. Jalser teve tanta confiança que traiu Frutuoso Lins, o vice-governador que discordou da gestão estadual. Para quem não lembra, Frutoso se filiou ao SD com a promessa de que seria o candidato a prefeito pelo partido, mas foi deixado de lado. Esse pode ter sido o primeiro erro estratégico do grupo. O segundo foi a pressão exercida por Jalser para tomar conta da Secretaria de Saúde. Politicamente, conseguiu, mas isso não ajudou a melhorar a imagem dele. Pelo contrário, na última semana, a declaração dada pelo secretário Marcelo Lopes, indicação de Jalser, causou revolta na população. Em uma rádio, ele afirmou que não faltava remédios no Hospital Geral de Roraima, quando vários foram os apelos compartilhados por familiares em busca de ajuda para comprar o que falta na unidade.

REFLEXOS

Seguido aos problemas da Saúde, Jalser ainda errou na pressão feita aos deputados estaduais. Alguns traíram os próprios partidos para garantir apoio a Ottaci, cumprindo o acordo com Jalser. O famoso áudio do deputado Renato Silva (Republicanos) é prova disso. Ele foi claro ao afirmar que Jalser pedia dinheiro aos deputados para usar na campanha de Ottaci. Ainda assim, se manteve na base de apoio. Assim como ele, Jalser aglutinou os deputados Renan Beckel (Republicanos) e Yonny Pedroso (SD), todos enrolados com a Justiça por crimes eleitorais. Junto a eles estavam também Carlos Olímpio, citado como principal laranja de Jalser, e Kleber Siqueira, réu no processo que investiga desvio milionário do Sistema Prisional. Essa junção fez o grupo de Jalser ganhar o apelido de Comando Laranja e aumentou a rejeição de Ottaci e Jalser.

SALDO LARANJA

Por fim, o grupo de Jalser se indispôs com quem apoiou a deputada Shéridan (PSDB). Ao decidir partir para o ataque, eles enfraqueceram a oposição ao grupo de Teresa Surita (MDB) e passaram a expor o que há de pior nas duas equipes, ajudando o MDB crescer. No fim das eleições, está provado que o saldo não foi nada positivo para o grupo de Jalser. Dependendo da celeridade da Justiça e da comprovação, Kleber Siqueira pode ser afastado do cargo de vereador. Carlinhos não foi eleito, apesar de receber total apoio de Jalser. Ottaci levou uma “lapada” nas urnas mesmo contando com altos investimentos e a maior base de apoio que um candidato a prefeito já teve na história da capital. E Jalser ficou tão queimado que teve que se esconder completamente da campanha de Ottaci. Eles gastaram muito, como é típico do grupo, e não obtiveram o retorno. Nem as próprias pessoas que trabalharam nas equipes votaram em Ottaci. Jalser termina essa eleição completamente humilhado.

PARECIDO

Não tão distante dessa situação ficou também o grupo que misturou os comandos de Shéridan, Mecias de Jesus (Republicanos) e de Antonio Denarium (Sem Partido). Crentes na possibilidade de enfraquecer Teresa Surita, eles trouxeram o que Sheridan apresentou como a maior base de apoio para gestão municipal. No palanque estavam os deputados federais Haroldo Cathedral (PSD) e Jhonathan de Jesus (Republicanos), além do senador Chico Rodrigues (DEM) e do ex-deputado federal Abel Galinha (DEM). De forma afetiva, Shéridan passou os primeiros dias da campanha mostrando força e união. Repetiu a proximidade com todos, mas não contava que Chico fosse ser pego pela Polícia Federal com dinheiro na cueca, após delação feita por um ex-servidor da Sesau. Hoje, ele está afastado do cargo, das funções do partido e escondido de todos. Ainda que não tenha nenhum envolvimento com o desvio de recursos, a ideia maluca de colocar dinheiro nas partes íntimas virou manchete internacional.

VERGONHA

Shéridan teve que apagar das redes sociais fotos com Chico. Depois, teve que tirar fotos com Abel Galinha, segundo ela, uma pessoa de bem, mas que foi visitado pela Polícia Federal por suspeitas de influenciar desvio de recursos da Saúde. Isso minou a campanha da candidata, que decidiu atacar Ottaci, expondo casos de agressão contra mulher e boatos de que ele não pagava pensão dos filhos. Ao invés de juntar forças, eles segregaram e fortaleceram a imagem dos outros candidatos como o próprio Arthur Henrique (MDB), e de Linoberg (Rede), que por cerca de mil votos não superou a rica campanha de Ottaci. Sheridan quase não conseguiu votos suficientes para voltar à Câmara Federal, tanto que foi apontada nacionalmente como a candidata com o voto mais caro em 2018. Agora, a situação para 2022 é mais delicada.

ONDA VERDE

Quem sai fortalecido dessa disputa é o MDB. A prefeita Teresa Surita deve encerrar o mandato em dezembro com um dos maiores índices de aprovação obtidos por um prefeito no país. Os feitos dos oito anos à frente da prefeitura são incontestáveis e ficarão marcados pelas transformação da infraestrutura da cidade e pelos programas sociais inovadores como o Família que Acolhe, que fez o mundo olhar para Boa Vista. Teresa concluirá o mandato com a entrega da primeira etapa do Parque do Rio Branco, uma obra que ficará para a história de Boa Vista e que marca Teresa para sempre na memória da cidade. Por isso, as pessoas decidiram confiar em que trabalhou ao lado dela por oito anos para dar continuidade aos cuidados com Boa Vista. Esse é o desafio de Arthur Henrique daqui para frente.

SAUDADE

Mas Teresa não fez tudo sozinha. Na briga entre os grupos de Jalser e Sheridan, a inércia do senador Mecias e Telmário Mota (Pros) e a vergonha protagonizada por Chico Rodrigues fortaleceram a imagem do ex-senador Romero Jucá. São muitos os relatos de pessoas que se arrependem das escolhas feitas em 2018 e que sentem saudades de Jucá, reconhecendo a atuação como uma das mais importantes para o Estado. Prova disso, é que o Parque do Rio Branco foi completamente viabilizado com os recursos garantidos pelo ex-parlamentar, assim como outras obras importantes da cidade. A verdade é que Jucá segue como o principal parceiro do trabalho de Teresa, conseguindo liberar verbas para atender as necessidades de Boa Vista e de outros municípios, mesmo fora do Senado Federal há dois anos.

MENTIRA

A população que acreditou na fake news da energia de 2018 abriu os olhos e entendeu que o tema não passou de uma grande mentira para prejudicar Jucá. Tanto que, após dois anos, nada em relação ao Linhão de Tucuruí avançou. E para destruir ainda mais o discurso de quem dizia que o Jucá se beneficiava das termoelétricas, o próprio presidente Jair Bolsonaro reconheceu que a energia térmica era a alternativa mais viável para garantir segurança energética de Roraima sem Tucuruí. Por isso, autorizou a ampliação da geração térmica no Estado. Os registros do Ministério das Minas e Energias mostram que, em 2018, foram registrados 83 apagões; em 2019 foram 37; e este ano apenas sete, até momento, comprovando eficiência no atendimento. Com tudo isso, a mentira de 2018 caiu por terra e sem conseguirem mostrar trabalho e nem cumprir promessas, os atuais senadores comprovam a competência do emedebista, que deve ser alvo de outras fake news até 2022. 

Informações: Roraima em Tempo – Foto: Arquivo Pessoal