Más condições de estradas prejudicam moradores da Raposa Serra do Sol, em Roraima

Sem manutenção periódica, má condição das rotas piora a vida de quem vive na Raposa - Edinaldo Morais/ Roraima em Tempo
Sem manutenção periódica, má condição das rotas piora a vida de quem vive na Raposa – Edinaldo Morais/ Roraima em Tempo

A divisa entre a BR-401 e o início da estrada que dá acesso à Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o Norte de Roraima, é um marco. Não apenas por dividir, mas por finalizar o trecho de asfalto e iniciar a passagem de terra. A viagem até chegar às primeiras comunidades da Raposa segue em condições precárias.

Entre estradas de terra esburacadas e quase intrafegáveis, a Raposa Serra do Sol fica entre os municípios de Uiramutã, Pacaraima e Normandia. Ao todo, são mais de 25 mil índios distribuídos entre 222 comunidades das etnias Macuxi, Taurepang, Patamona, Ingaricó e Wapichana. As condições das estradas são o tema da segunda reportagem da série ‘A outra face da Raposa’, divulgada ao longo desta semana pelo Roraima em Tempo.

A estrada que dá acesso à comunidade, no município de Normandia, está em péssimas condições. Por conta do período chuvoso, conhecido popularmente como ‘inverno’, os buracos ficaram mais evidentes.

“A estrada é muito solicitada e necessária. Muita gente trafega nela e é a única saída que a comunidade tem para chegar à cidade. Então, quando chega o inverno, a situação fica pior porque os buracos abertos durante o ano formam poças ou atoleiros”, explica o segundo tuxuaua da comunidade Raposa 1, Jonas Raposo.

ESTUDANTES

Além da estrada de acesso, as rotas dentro da comunidade também evidenciam os mesmos problemas, que são acentuados durante o período chuvoso.

Os alunos da Escola Estadual Indígena José Viriato, na Raposa 1, não possuem qualquer veículo escolar fornecido pelo governo ou prefeitura para irem estudar. Para isso, eles precisam andar a pé ou de bicicleta para chegar à escola, inclusive passando por dentro de um igarapé.

De acordo com Murilo Januário Moraes, estudante do 2° ano do ensino médio e representante dos alunos, cerca de 60 estudantes das comunidades do Parnásio e Raposa 2 precisam do transporte escolar para chegar à escola. Em busca de ensino, eles se arriscam pelas ‘péssimas estradas’.

“Agora que começou o período de inverno as estradas ficam piores. Temos que nos sujar e levar outras peças de roupa dentro da mochila para trocarmos quando chegarmos à escola”, relatou Murilo.

PONTE

O caminho para chegar à escola ficou mais difícil desde o início das aulas deste ano, no dia 20 de maio, pois a ponte que passa sobre o igarapé que corta o acesso entre a Raposa 2 e a Raposa 1 foi queimada por indígenas que moram na região.
Sem o acesso, os estudantes têm que atravessar o igarapé dentro da água, após tirarem os sapatos e levantarem a barra da calça.

Os materiais para a reconstrução da ponte, como as vigas de madeira, por exemplo, já estão no local, mas a obra ainda não foi iniciada, “e nem nos passaram previsão alguma”, completa o estudante Murilo.

Quando chove o problema fica mais grave. O nível do igarapé sobe e os estudantes do turno vespertino e noturno têm que atravessar com a água à altura do peito, segurando as mochilas no alto. Após completarem o trajeto com as roupas molhadas, trocam de roupa quando chegam à unidade escolar e seguem para sala de aula.

REFLEXOS

“Por ser uma área federal, pedimos ajuda para quem está a nível federal. Conversamos com o Exército, Corpo de Bombeiros e o Ministério Público Federal já veio ver nossa realidade, mas nada foi resolvido desde então”, conta o segundo tuxaua, Jonas Raposo.

As chuvas que atingem a comunidade durante o inverno dificultam, sobretudo, o tráfego de veículos de grande porte, como ônibus e caminhões e agravam ainda mais a situação das estradas na região.

“Há muito tempo, no papel, já era para a estrada de acesso estar praticamente asfaltada, mas isso vem se arrastando. E aí o pessoal da saúde e da educação sofre muito com essa história”, relata Raposo.

Por conta dos problemas na estrada, os veículos de saúde que fazem a transferência de pacientes para Normandia demora mais para chegar, fazendo com o estado de saúde do paciente piore durante o trajeto ao hospital.

“Buscamos apoio de políticos para que alguma emenda fosse liberada e garantisse pelo menos o asfaltamento da estrada, mas eles só vêm à comunidade no tempo da campanha, prometem e nunca mais dão uma resposta. Não acreditamos que essa situação vá mudar, enquanto não houver uma atitude mais firme do governo federal”, desabafa Raposo.

SEM NOTA

A reportagem entrou em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), órgão responsável pelas estradas do estado, mas não obteve resposta.

Informações: Roraima em Tempo