As chuvas fortes e com volume maior do que o esperado em Roraima no mês de novembro surpreenderam muitos moradores do estado, mas não o aposentado Raimundo Pereira, de 72 anos. Cearense de nascimento, Raimundo mora há 23 anos em Boa Vista.
Quando chegava o mês de setembro no Ceará, Raimundo conta que os comentários começavam a surgir. “No dia tal, vai cair ‘aquela chuva’, e aí chovia o suficiente para brotar as primeiras flores [nos cajueiros] e em poucos dias os frutos”, relata o produtor.
Ao chegar em Boa Vista, Raimundo percebeu que essa chuva acontecia mais tarde. “Depois do período seco, quando começam a vir as primeiras chuvas mais fortes, sabemos que é a ‘chuva do caju’, complementa.
A ‘chuva do caju’ é conhecida entre os sertanejos como a primeira chuva mais forte depois do início da seca. Em Roraima, ela se inicia em novembro, mas chega mais cedo em estados do Centro-Oeste e do Nordeste do Brasil, que são grandes produtores da fruta. Sem ela, o cajueiro não consegue manter os frutos, comprometendo a produção.
O próprio cajueiro ajuda a entender a referência, como explica Frederico Schreiner, que é produtor da fruta em Roraima. “Aqui no estado, os cajueiros começam a florescer em novembro e a ‘chuva [do caju]’ cai no mesmo período”, destaca.
Ainda de acordo com o Schreiner, o cajueiro demora entre 30 e 45 dias para dar os primeiros frutos. “Alguns nascem no início do mês, mas o auge da colheita começa normalmente a partir do dia 15 de dezembro”.
A ‘chuva do Caju’ é inclusive mencionada no Hino do Município de Boa Vista, composto por Eliakim Araújo. Nos dois últimos versos da primeira estrofe, a canção cita o evento, “o Rio Branco veste-se de azul. Vem do arco-íris chuva do caju”.
SURPRESA
Apesar de já esperar a ‘chuva do caju’, o volume e a localização da chuva também surpreenderam o produtor. “A chuva costuma se concentrar na região Oeste de Roraima, mas esse ano ela se concentrou mais em Boa Vista”, contou Schreiner.
Apesar disso, a produção não foi afetada pelo grande volume de chuva, inesperado para a época “A umidade que veio com a chuva facilitou as condições para que um tipo de fungo se desenvolvesse e atacasse as flores dos cajueiros, mas isso não foi suficiente para afetar a safra”, explica o produtor.
ACIMA DA EXPECTATIVA
No mês de novembro, o volume de chuvas em Boa Vista atingiu 210,4 milímetros, de acordo com o Boletim Hidroclimático da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh). O índice é três vezes maior do que o esperado para o mês (61 mm), de acordo com o instituto Climatempo.
As chuvas fizeram com que o nível do rio Branco chegasse a 3,59 metros em novembro, de acordo com Agência Nacional de Águas (ANA). Até esse sábado (30), último dia do mês, o nível do rio estava em 2,17 metros.
De acordo com o meteorologista da Femarh, Ramon Alves, entre novembro e dezembro ocorrem muitos eventos de ZCAS [Zona de Convergência do Atlântico Sul] no Sudeste do país e, muita das vezes, “estão associados com o calor e umidade de nossa região, causando essas chuvas no estado”, explica Alves.
O meteorologista explicou ainda que a abrangência da chuva este ano foi maior do que em 2018. “No ano passado tiveram poucos eventos no oeste do estado e poucas chuvas em Boa Vista. Este ano as chuvas atingiram grande parte do estado, inclusive a capital”, complementa o meteorologista.
Informações: Roraima em Tempo