A Hutukara Associação Yanomami (HAY) voltou a alertar a União sobre os impactos causados pelo novo coronavírus nas comunidades indígenas em decorrência da presença de garimpeiros nas localidades.
Em manifestação no processo que solicita a retirada de não-índios das comunidades, a entidade informou que os diagnósticos positivos da doença entre as etnias Yanomami e Ye’kwana chegam a 55% do total de casos confirmados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-Y) até o dia 26 de julho.
Segundo o documento, o aumento mais expressivo dos casos de contaminação da doença nas últimas semanas foi registrado nas áreas mais afetadas pela atividade garimpeira ilegal, sendo as comunidades de Waikás, Paapiu Novo e Apiau.
Na comunidade de Waikás, a Hutukara afirmou que “dezenas de indivíduos passaram a apresentar sintomas da Covid-19 ao longo do mês de julho, após um jovem ter tido contato com garimpeiros”. A comunidade, que tem 149 moradores, possui 48 infectados.
Já na região do Paapiu Novo, um áudio de uma liderança indígena comunicou que o garimpo avança na comunidade. Lá, foram 17 casos positivos de coronavírus.
“O áudio registra ainda como garimpeiros circulam na comunidade impondo sua vontade sem embaraço em prejuízo da comunidade, assediando mulheres, ameaçando os indígenas e desviando medicamentos destinados ao atendimento público da saúde indígena”, escreveu a entidade.
No Apiau, foi formada uma área para isolamento voluntário de indígenas e que, atualmente, está cercado de focos de garimpo a poucos quilômetros do aldeamento. A região tem 16 diagnósticos positivos
“Os grupos em isolamento voluntário são particularmente vulneráveis à disseminação de doenças estranhas à sua imunogênese, de tal monta que um eventual contato forçado no contexto da pandemia pode representar o desaparecimento de toda a comunidade, uma tragédia anunciada que se aproxima à revelia do Estado”, complementou.
CENÁRIO
Ainda de acordo com a Hutukara, não há registro de diminuição do garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami, mesmo diante à pandemia do vírus. Dados de satélite do mês de junho mostraram um avanço e 5% na área degrada pela atividade garimpeira, totalizando 109,14 hectares de terra.
De acordo com a Hutukara, há insuficiência de informações e testes para detecção da doença dentro das localidades, indicando que os números de contaminados e mortos pelo coronavírus podem atingir patamares significativamente maior do que o registrado oficialmente.
“Aos poucos confirma-se um cenário dramático de disseminação da Covid-19 por entre as comunidades que, embora tenham autonomamente optado por manter isolamento em suas aldeias, foram impedidas de mantê-lo pela imposição do contato com garimpeiros que circulam ilicitamente em suas casas, à revelia do Estado”, criticou.
Os dados do boletim epidemiológico do DSEI-Y contabilizam 242 diagnósticos confirmados entre os indígenas e quatro óbitos. Há 19 casos em investigação. Já entre os profissionais nas comunidades, os números positivos chegam a 223.
A Hutukara solicitou que a União cumpra a decisão judicial e faça a remoção dos garimpeiros, mediante pagamento de multa diária.
‘COMPLEXO’
O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação civil pública para que a União, junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apresentassem um plano de retirada dos garimpeiros.
Entre o conflito judicial, o órgão fiscalizador associa à permanência dos garimpeiros à um possível genocídio dos povos originários. Já o Governo Federal não realizou a entrega de um plano concreto para que os não-índios fossem retirados.
Logo após o encerramento para que o plano fosse colocado em prática, a União garantiu que a montagem do plano é “complexo” e que poderia agravar a situação de pandemia nas comunidades se feito de forma incorreta. Frente a isso, pediu a suspensão do processo.
Informações: Roraima em Tempo – Foto: Divulgação/Hutukara