Mulher morre após contrair Covid enquanto aguardava cirurgia de aneurisma no HGR

Roberlândia de Sousa Dias, 37 anos, estava na fila do procedimento desde 31 de janeiro. Ela morreu nesta quarta-feira (28), quase três semanas após ser diagnosticada com Covid

A autônoma Roberlândia de Sousa Dias, 37 anos, morreu de Covid-19 enquanto aguardava por uma cirurgia de aneurisma cerebral no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Ela estava na fila do procedimento desde 31 de janeiro.

Internada no HGR desde o dia 30 de março, unidade referência para casos de Covid, Roberlândia foi diagnosticada com o coronavírus no último dia 10 e morreu na UTI nessa quarta-feira (28), 18 dias depois. Ela deixou esposo e duas filhas, de 12 e 15 anos.

Em nota, a Secretaria estadual de Saúde (Sesau) afirmou que “não está apática ao caso” e que foram tomadas as providências necessárias, no entanto, “a paciente foi acometida pela Covid-19 e veio a óbito” (veja a nota na íntegra abaixo).

Antes de pegar Covid e morrer, Roberlândia gravou um vídeo com um apelo pela cirurgia de aneurisma.

“Eles pensam que é fácil ficar aqui dentro. A gente tem filhos lá fora. Minha filha todo dia me pede para voltar pra casa. Não é fácil a gente estar aqui. São mais de dois meses esperando por uma coisa e dói na gente. Não estamos pedindo nada demais, estamos pedindo para não morrer aqui dentro.”

Maria das Dores, irmã de Roberlândia, disse que a família ainda conseguiu na Justiça uma decisão obrigando o governo a fazer a cirurgia de aneurisma, o que não ocorreu.

Na decisão, do último dia 20 – quanto ela já estava na UTI com Covid, o juiz Aluízio Ferreira Vieira deu um prazo de 30 dias para a realização do procedimento e, em caso de descumprimento, determinou o bloqueio de valores necessários para a realização da cirurgia na rede privada. Roberlândia, no entanto, não resistiu ao vírus.

“É muita dor, é muita irresponsabilidade deixar uma pessoa dois meses em um hospital aguardando uma cirurgia e ela sair de lá em um caixão por conta da Covid”, disse Maria.

Durante o período de internação, Roberlândia e familiares conheceram outros pacientes que também aguardavam há meses no HGR à espera de cirurgias. Uma dessas é a aposentada Maria do Socorro Rocha dos Santos, de 68 anos. Também com aneurisma, ela teve o procedimento desmarcado quatro vezes.

A aposentada está internada no HGR desde o dia 8 de janeiro. Ela tem dois aneurismas, sendo que um é roto – quando as artérias se rompem e causam hemorragia.

“A gente tem medo que aconteça a mesma coisa. Já que não puderam fazer pela minha irmã, que façam por outras pessoas. Eu espero que a dona Maria consiga fazer a cirurgia. Ela está lá, sem as amigas dela. Duas conseguiram fazer, graças a Deus, mas a minha irmã não conseguiu”, pontuou Maria das Dores.

Nota da Sesau

A Secretaria de Saúde informa que após a verificação sobre a regulação do leito de UTI, pelo Núcleo Interno de Regulação (NIR) e check-list de todos os equipamentos necessários para a cirurgia, junto a equipe de neurocirurgia, o procedimento está marcado para a próxima quarta-feira, 05.

Reforça que a paciente Maria do Socorro Rocha dos Santos está internada no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento, sendo assistida e inclusive acompanhada pela equipe de neurocirurgia do Hospital, realizando os exames necessários e passando pelo controle de pressão arterial, ou seja, está recebendo a atenção que o caso requer.

A Sesau esclarece que não está apática ao caso, mas sim tomando todas as providências necessárias para que a cirurgia ocorra de forma segura. E que os mesmos cuidados foram adotados em relação a paciente Roberlandia de Sousa Dias, no entanto a paciente foi acometida pela Covid-19 e veio a óbito.

É importante esclarecer que a cirurgia de aneurisma é complexa e precisa ser realizada de forma segura e para isso é fundamental garantir que todos os equipamentos clínicos estejam disponíveis, bem como os insumos e medicação, além da equipe médica, e sem estas medidas não é possível realizar o procedimento.

A Sesau reitera que tem intensificado o trabalho para atender todas as demandas, inclusive aquelas não relacionadas a covid-19, e desta forma retomando as cirurgias eletivas de forma gradativa.

Informações: G1 Roraima