Empresários querem cobrar ‘taxa’ para fila de posto fiscal em Pacaraima, denunciam caminhoneiros

Indignação não é com a taxa de R$ 10, mas com a imposição sem negociações, segundo os denunciantes

Caminhoneiros que trabalham com transporte de cargas na fronteira com a Venezuela denunciaram ao Roraima em Tempo que empresários da Cooperativa de Transporte Rodoviário (Coopertran) querem cobrar “taxa extra” para uso de espaço de fila no posto fiscal de Pacaraima.

A indignação dos caminhoneiros, que preferem não ser identificados, não é a taxa de R$ 10, mas a imposição sem negociações, e a falta de clareza quanto à destinação do dinheiro arrecadado.

Com o aumento da demanda de cargas para a Venezuela, a Receita Federal já não tem espaço para comportar a fila de caminhões diante do posto fiscal. A Coopertran conseguiu um novo terreno na cidade para os veículos estacionarem, mas quer cobrar dos motoristas a taxa para pagar o salário de uma pessoa contratada para administrar o espaço.

“Eles querem colocar um rapaz em um terreno cedido pelo Exército Brasileiro na chegada de Pacaraima. A categoria não aceita isso, porque a empresa de transporte internacional deveria fazer esses pagamentos”, disse um dos informantes.

Os denunciantes comentaram que se todos os caminhoneiros que passam pelo posto de Pacaraima pagarem a taxa, o valor será muito maior do que o que seria esperado para o pagamento do salário de uma pessoa.

“Todo dia passa pela Receita Federal cerca de 100 caminhões. Se cada caminhoneiro pagar R$ 10, são R$ 1 mil por dia, o que vira R$ 30 mil em um mês. Tudo isso para uma pessoa tomar conta de fila. Suspeitamos que esse dinheiro será usado para uma ‘rachadinha’ entre as empresas. Ou seja, pagaríamos um salário de R$ 30 mil, mas só uma parte iria de fato para o serviço, e o resto seria repartido entre as transportadoras”, contou outro denunciante.

IMPOSIÇÃO

Os motoristas também explicam que não houve reunião ou negociação com a classe para definir a taxa. A única comunicação da Coopertran sobre a nova “taxa” foi dada por representantes em grupos de mensagens.

A reportagem teve acesso às conversas. Em uma delas, um representante da cooperativa afirma que, caso os caminhoneiros não aceitem a taxa, órgãos como a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento Nacional de Trânsito (DNIT) seriam acionados para auxiliar uma fiscalização mais severa, o que pode comprometer as entregas.

“Vamos para cima do poder público para resolver. Já que a maioria não se conscientiza que isso não vai resolver rápido. Vamos pedir apoio a PRF para nos auxiliar, já que a maioria, pelo que vejo, não concorda numa forma paliativa até que se ache uma solução que seja condizente, respeitando nosso direito a estacionar e aguardar em um pátio de triagem”, mencionou o representante em uma mensagem.

Vários motoristas se demonstraram insatisfeitos com a forma com que a discussão foi conduzida pela Coopertran. “Fiquei chateado como fomos comunicados. Como se fôssemos obrigados a pagar. Porque R$ 10 não aperta, mas acho que não podem agir dessa forma. Até porque todo mundo está na mesma luta diária”, comentou um caminhoneiro.

“Se a Receita Federal não tem pátio, eles precisam arranjar um. Porque isso não é só botar no nosso lombo. É muito fácil. Jogar para nós pagarmos uma coisinha aqui e ali. Mas quando queremos aumentar o frete, o cara só falta dar um pulo para longe”, mencionou outro.

“Todo mundo em Roraima parece que tem medo de conversar. Não podemos baixar a cabeça para ninguém, precisamos conversar e decidirmos para que as coisas funcionem da forma que fique bem para todos”, finalizou outro.

CITADOS

Procuradas, a Receita Federal e a Cooperativa não enviaram posicionamento. O espaço está aberto para manifestação.

Informações: Roraima em Tempo