O senador Telmário Mota (Pros) se pronunciou na CPI da Covid-19 do Senado Federal nesta quinta-feira (20) para elogiar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e criticar a Operação Acolhida, voltada para atendimento de refugiados venezuelanos em Roraima.
Segundo ele, a Acolhida foi criada pelo então presidente Michael Temer para “estrangular” o estado. Mesmo assim, o senador elogiou a gestão de Pazuello como comandante da Força-Tarefa, logo após ela ter sido criada em 2018.
Internautas no Twitter se sentiram confusos com o discurso e criticam a fala por falta de coerência com a investigação da CPI, voltada para analisar se a postura do Governo Federal durante a pandemia do coronavírus influenciou a propagação do coronavírus no país e o colapso do sistema público de saúde do Amazonas.
Essa não é a primeira vez que Telmário fala e causa polêmica na CPI da Covid. Na semana passada, em dia de oitativa com o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, ele defendeu tratamento precoce não reconhecido pela ciência contra o vírus.
ACOLHIDA
“Quem o escolheu [Pazuello] para comandar aquela Acolhida foi o [partido] MDB, do senador Renan, que foi o Michel Temer naquele momento. Fui contra a Acolhida ali [em Roraima], queria ela dentro da Venezuela, igual fizemos com o Haiti. Porque realmente ela trouxe consequências negativas para meu estado, até hoje […] A Acolhida foi uma maldade do Temer, porque ele queria estrangular meu estado”, declarou Mota.
No início de 2018, cerca de 600 pessoas viviam na praça Simon Bolívar, no bairro Pricumã, além de centenas que dormiam em semáforos das principais avenidas de Boa Vista. À época, a prefeitura estimava que mais de 40 mil imigrantes estavam na cidade. A falta de fiscalização na fronteira de Roraima com a Venezuela fez até com que casos de sarampo voltassem a ser confirmados no país.
Desde que a Acolhida foi implantada em abril daquele ano, mais de 51 mil imigrantes foram regularizados, vacinados e enviados para outros estados com carteira de trabalho assinada. Cerca de 88% dessas pessoas vieram para o estado em famílias.
A Acolhida também anexou e regularizou imigrantes que ocupavam espaços públicos abandonados, além de ter construído o Hospital de Campanha para pacientes com coronavírus no ano passado. Quase 900 mil atendimentos foram realizados a imigrantes somente na fronteira com a Venezuela.
Telmário também contou que, apesar de considerar a Acolhida uma “maldade”, ele ficou impressionado com o trabalho realizado por ela em um almoço que teve com o Pazuello.
“Quando Pazuello assumiu a Acolhida em nosso estado, nós divergimos. E um dia ele me convidou para almoçar ali, e me mostrou um passo a passo, desde quando um venezuelano chegava até a interiorização. E nesse momento eu tive a oportunidade de conversar com várias pessoas de entidades internacionais, inclusive a ONU, e todos sem exceção me disseram que aquela Acolhida era de excelência, humanitária, respeitosa e de muita qualidade. […] Isso significa que vossa excelência tem gestão”, ponderou.
Assim como o senador, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já usou a Acolhida como argumento para defender Pazuello como ministro da saúde.
Mesmo assim, ele admitiu em outubro do ano passado que não sabia o que a sigla SUS [Sistema Único de Saúde] significava antes de assumir o cargo no Governo Federal. Na CPI, ele argumentou que disse essa frase para expressar a “surpresa” de conhecer o trabalho do SUS.
Mais uma vez, a fala do senador durante a CPI rendeu comentários de diversos tipos no Twitter. Alguns comentários indicaram que Telmário foi xenofóbico com o povo venezuelano ao dizer que o acolhimento deles foi prejudicial para Roraima.
“Telmário mota soltando uma xenofobiazinha de leve para temperar sua fala”, afirma um comentário. “O senador Telmário pediu a palavra pra agradecer um almoço pro pazuello e ser xenofóbico”, menciona outro.
Diversas pessoas não entenderam qual a ligação da Operação Acolhida com a CPI da Covid, e o motivo do senador querer comentar sobre imigrantes venezuelanos em Comissão voltada para investigar o Governo Federal.
“Agora temos o senador Telmário Mota contando fanfics [história contada por um fã]”, afirma outro comentário.
Internautas ironizaram que o senador estaria “se vendendo” para o Governo Federal, e lembraram que o parlamentar é investigado por atrapalhar investigações da Polícia Federal contra desmatamento ilegal de madeira na Amazônia.
“Senador Telmário Mota se vendendo por um prato de almoço. Tá difícil, heinnnnn…”, apontou um tweet.
Informações: Roraima em Tempo
