Agora já podemos culpar as mudanças climáticas pelas catástrofes no Rio Grande do Sul?

Lavoura de soja submersa devido as enchentes no RS

É necessário fazer essa pergunta, não é mesmo? Caso contrário, os autoproclamados especialistas do WhatsApp surgirão com críticas, alegando que se trata de uma narrativa da mídia e dos cientistas com tendências políticas. “Talquei”?

O fato é que algumas cidades no Rio Grande do Sul, como Sebastião do Caí, próxima a Porto Alegre, enfrentaram três enchentes nos últimos seis meses.

Moradores de São Sebastião do Caí perdem tudo com 3 cheias recorde em 6 meses

Rio Caí, um dos principais do RS, registrou maiores níveis em seis meses e volta a subir

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/05/moradores-de-sao-sebastiao-do-cai-perdem-tudo-com-3-cheias-recorde-em-6-meses.shtml

“De uns anos para cá as enchentes começaram a aumentar. Na vez passada bateu na parede, desta vez chegou ao teto. Não consegui tirar nada. Agora estava finalmente comprando as coisas que perdi na enchente passada, geladeira, impressora…”, conta a moradora.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjk42yexl73o

Quais são as chances de a população compreender que toda ação gera uma reação? E que governantes que, em vez de assumirem responsabilidade pelo futuro, optam pelo populismo imediatista, liberando tudo e impedindo o cumprimento das leis ambientais, são, em alguma medida, responsáveis por esses impactos?

O governador de Roraima, fortemente apoiado pela filosofia do ex-ministro Ricardo Salles e do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi um dos incentivadores e executores de uma das maiores devastações ambientais já registradas no estado. Ele, Denarium, foi pessoalmente ao Sul do país atrair produtores rurais com a promessa de que as regras ambientais seriam afrouxadas, conforme defendiam Jair Bolsonaro e Ricardo Salles. Em seu governo, Roraima se tornou recordista em desmatamento.

Curiosamente, alguns dos que promoveram o desmatamento em Roraima contribuíram para a destruição de seu próprio estado no Sul. E, se verificarmos seus WhatsApps agora, provavelmente encontraremos inúmeras fake news alegando que as enchentes são fenômenos naturais, ignorando a crescente periodicidade desses eventos.

Sim, enchentes são fenômenos naturais que ocorrem em intervalos de décadas, mas no Rio Grande do Sul elas estão acontecendo várias vezes ao ano.

Se isso ainda não ficou claro, é importante destacar: o Rio Grande do Sul será cada vez menos um grande produtor, como já foi, pois essas enchentes, com o tempo, desestimularão a garantia de seguros para casas e produções, levando o estado a um colapso.

A ignorância, combinada com a maldade e a imprudência, pode forçar a população do Rio Grande do Sul a migrar para outras regiões com menor risco de inundações.

Resta saber se os desmatadores vindos do Sul para Roraima abrirão seus corações e mentes e deixarão de negar a realidade, pois uma árvore derrubada aqui, sem o devido reflorestamento, contribui para inundações no restante do Brasil e do mundo.

Não se trata de proibir a abertura de áreas para plantio, mas sim de evitar o desmatamento sem a devida reposição, conforme exige o Código Florestal. A alegação de que essa reposição é cara e inviável é infundada, pois o custo da terra em Roraima é pelo menos dez vezes menor do que no sul do país, tornando perfeitamente viável o cumprimento do Código Florestal. No entanto, um estado governado por interesses escusos e voltado para o ganho fácil acaba por promover o desmatamento e a degradação ambiental.

Existe, contudo, uma solução para essa situação. Basta que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) casse o mandato do atual governador em exercício, permitindo que o estado possa eleger um novo líder comprometido com o desenvolvimento sustentável e o cumprimento das leis.