OPINIÃO: Em ano eleitoral, falta fiscalização do povo ou boa vontade do político?

Todo ano de eleição se repete o mesmo cenário. De todos os lados surgem entusiastas da política para questionar: “Onde estão os políticos?”. Do internauta que perambula pelas redes sociais para tecer comentários genéricos, como “nunca vi”, “não sei quem são”, “tem que tirar todos”, até o articulista de um veículo de comunicação que afirma, num tom desajuizado e leviano, que os vereadores estavam dormindo.

Contudo, não adianta abrir a fonte do questionamento sobre o que fizeram pela sociedade roraimense, se o próprio cidadão não cumpre o simples dever de acompanhar o que o vereador, o deputado, o prefeito, estão fazendo pelo Município ou Estado. É possível cobrar sem ao menos saber quem são os representantes da cidade? A culpa é única e exclusiva dos políticos? Todos são bancados com dinheiro público. Impostos recolhidos sobre serviços, bens e renda são transformados no salário do político. Além dos órgãos de controle, quem deveria estar interessado em fiscalizar o trabalho desses agentes deve ser o povo.

É público e notório que os Parlamentos amargam o vazio das poltronas nos dias de sessão, quando são discutidas propostas de interesse social. Será que algumas dessas pessoas que critica a ausência do legislador já foram a uma sessão ou audiência pública na vida? A falta de quórum (quantidade insuficiente de parlamentares para votar matéria) se estende ao público. Como um cidadão tem coragem de dizer que nenhum vereador ou deputado nada faz pela cidade, se ele sequer busca informações sobre os políticos na internet? Como um cidadão ousa em dizer que as proposições legislativas são, na grande maioria, para nomear ruas?

A Ordem do Dia, documento que detalha os projetos que serão apreciados, tornou-se cobiçada pela imprensa, mas não pelo cidadão. Com isso, tornou-se comum fazer comentários sem fundamento na internet, universo dominado pelos politicamente corretos, mas ausentes do mundo real, seja ele político ou não. Reclamar demais é doença, dizem os psicoterapeutas. A maneira como a realidade é interpretada e depois exposta, parece ser uma válvula de escape de transtornos, traumas e até o famoso ‘Complexo de Vira-lata’. O “reclamão” generaliza circunstâncias.

Será que alguém saberia responder por que não conhece os próprios representantes? É extremamente normal comentar sobre política e as pessoas demonstrarem aversão. No máximo que dizem é que o político não aparece na mídia. Ora, já dizia o ditado popular: Quem não é visto, não é lembrado. Contudo, nem todo vereador ou deputado é midiático, alguns estão expondo as proposituras na tribuna, em reuniões feitas nos bairros ou recebendo as pessoas nos gabinetes.

O representante público não é onipresente, muito menos a equipe que o acompanha. Na esfera municipal, por exemplo, a maneira mais fácil de resolver o problema da rua, da escola ou do posto de saúde, é entrando em contato com os vereadores ou explicando melhor para os servidores que estão todos os dias nos gabinetes, e a terceira e última opção é recorrer à imprensa.

Existem leis em vigor que beneficiam diretamente crianças, adolescentes, mulheres, pessoas com deficiência, trabalhadores e outros, em âmbitos como saúde, educação, assistência social, segurança, trânsito, infraestrutura, e por aí vai. E aqui vai uma dica: não precisa nada além de ser um internauta para descobrir tudo isso.

Nos sites institucionais existem informações importantes sobre o funcionamento do Legislativo, como a fiscalização do Executivo Municipal e Estadual e a elaboração de leis, as audiências públicas, visitas às unidades de ensino e saúde, visitas aos bairros, visita aos Conselhos Tutelares, Propostas para a Economia e Produção Agrícola, as indicações para a melhoria da capital e da população, indicações para as vicinais, análise de contratos e processos e a elaboração do orçamento com apresentação de emendas.

Em São Paulo existe uma iniciativa chamada “Adote um Vereador”, que reúne pessoas para acompanhar o trabalho diário de cada parlamentar, uma atitude coletiva, mas que pode ser individual. O eleitor pode e deve acompanhar o trabalho daquele político em quem ele votou. Há alguns anos foi criado o aplicativo “Tô de olho”, utilizado pelos eleitores do Rio de Janeiro. O Site Politize oferece maneiras de acompanhar a vida do Deputado Estadual, e ainda tem o Aplicativo “Poder do Voto”, para fiscalizar os deputados federais e senadores.

Em Roraima, além do site da Assembleia e das Câmaras, existem as redes sociais dos vereadores, deputados, e canais oficiais de comunicação como o Youtube e os portais dos políticos. Quer mais? Só exercendo cidadania e comparecendo nas sessões!

São 21 vereadores, ano que vem, serão 23 em Boa Vista. O número de Deputados permanece em 24. Você que reclama da ausência do Poder Público, já procurou pelo menos um dos nossos representantes? Se sim, e não resolveu, tentou com outro? Não dá para aceitar esses argumentos vazios de que eles nada fazem. Algumas situações são mais complicadas e levam tempo, e boa vontade política em alguns casos.

Por Iury CarvalhoJornalista