Chanceler venezuelano critica Bolsonaro após governo declarar apoio a novas eleições no país

O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, criticou o governo de Jair Bolsonaro após o Ministério das Relações Exteriores do Brasil apoiar a proposta dos Estados Unidos de novas eleições no país governado por Nicolás Maduro.

As declarações ácidas ocorrem em meio às denúncias do Departamento de Justiça americano, que oferece recompensa de 15 milhões de dólares a quem repassar informações sobre Maduro.

Nesta semana, o governo de Donald Trump pediu para que Maduro e o opositor Juan Guaidó se afastassem da política, para que fossem realizadas novas eleições, o que foi apoiado pelo Brasil.

Jorge Arreaza foi, então, às redes sociais rechaçar a postura do Itamaraty. “O governo do presidente (?) Jair Bolsonaro se considerava nacionalista. Hoje, nada mais é do que uma caricatura que entrega a política externa e a soberania do Brasil a Washington [capital dos Estados Unidos]”, disparou.

Na sequência do texto, voltou a dizer que os brasileiros sofrem as consequências de “ações equivocadas e improvisadas frente ao coronavírus”, num reforço ao que Nicolás Maduro já havia dito na semana passada.

APOIO

O governo brasileiro afirmou que existe “coincidência com os objetivos da proposta” em retomar a democracia na Venezuela. Atualmente, o Brasil reconhece Juan Guaidó como presidente encarregado.

“Somente a realização de eleições presidenciais livres, justas e transparentes poderá pôr fim à grave crise política, econômica e humanitária por que passa a Venezuela. Considera, igualmente, que a saída de Nicolás Maduro é condição inicial para o processo”, justificou o Itamaraty.

Contudo, o governo americano enviou recado a Guaidó, para que também se afastasse do processo, já que tenta, incansavelmente, derrubar Maduro do poder. O político declarou, nas redes sociais, que agradece o apoio em restabelecer a paz no país.

No ano passado, Guaidó se encontrou com Bolsonaro, durante visita aos países da América do Sul. Mesmo com apoio de mais de 50 nações, ele nunca conseguiu destituir Maduro do poder, já que os militares declararam fidelidade ao chavista.

Ainda sobre a proposta, o Itamaraty disse que vários elementos têm sido defendidos pela gestão Bolsonaro e o Grupo de Lima. Ponderou que a renúncia de Maduro e Guaidó e o estabelecimento de um Conselho de Estado, eleito pela legítima Assembleia Nacional, constituiria importante passo à solução definitiva para a crise na Venezuela.

“No entendimento brasileiro, a garantia de participação no processo de transição de todas as forças políticas comprometidas com a democracia, o repúdio ao crime organizado, a libertação de presos políticos, a restauração das imunidades parlamentares, a restruturação do Conselho Nacional Eleitoral e o restabelecimento de uma Corte Suprema de Justiça legítima são indispensáveis para a reconstrução do Estado de Direito e de um ambiente democrático na Venezuela”, finalizou.

REFLEXOS

Os reflexos da crise na Venezuela têm sido vistos no Brasil e principalmente em Roraima, onde há um constante fluxo de entrada de venezuelanos. Somente no ano passado, os números subiram 29%, segundo dados da Operação Acolhida.

Durante passagem pelo estado no mês de março, o presidente Jair Bolsonaro disse que conversaria com Donald Trump sobre a situação no país vizinho, já que as consequências eram severas e sentidas principalmente pelos roraimenses.

Mesmo após a reunião com o mandatário americano, Bolsonaro nunca voltou a falar sobre as ações definidas para acolhimento dos imigrantes no estado. A decisão mais recente foi o fechamento da fronteira com a Venezuela, como forma de evitar a propagação do coronavírus.

Informações: Roraima em Tempo – foto: Divulgação