Daniela Mercury dá o primeiro beijo lésbico no plenário da Câmara

Um dia depois de levantar uma multidão na Parada LGBT em São Paulo, a cantora Daniela Mercury protagonizou nesta segunda-feira (24) o primeiro beijo lésbico na tribuna do plenário da Câmara. Durante um ato em comemoração aos 50 anos do marco histórico da luta do movimento LGBT em todo o mundo, Daniela beijou a sua esposa, a jornalista Malu Verçosa, ao receber a palavra da companheira. O público aplaudiu o casal. Veja no vídeo o momento do beijo:

No evento, as duas reiteraram o compromisso com a defesa integral de direitos, independentemente de gênero ou orientação sexual. Em seu breve discurso, Malu disse que o casamento com a cantora baiana foi um “ato político”, que o casal nunca cogitou “viver à sombra” e que, ainda hoje, enfrenta barreiras burocráticas no cotidiano familiar. “São coisas pequenas, simples, que parecem inofensivas, mas que causam um profundo constrangimento a nossa família, a nossa comunidade LGBT”, contou a jornalista.

Já Daniela disse estranhar como a simples mudança de gênero do parceiro representa um divisor de direitos no Brasil. “Eu era casada com homens e quando me casei com Malu, perdi todos os meus direitos. Vocês entendem a inversão? Que loucura. Como as pessoas não têm seus direitos básicos contemplados? Como, dentro de uma democracia, deixamos isso acontecer?”, questionou.

A cantora baiana defendeu o caráter político das paradas gays. Segundo os organizadores, cerca de 3 milhões de pessoas participaram do ato em São Paulo nesse domingo, o primeiro realizado no governo Bolsonaro. Daniela também falou do orgulho de ter assumido seu relacionamento e sua orientação sexual: “Sou uma mulher maravilhosa, uma lésbica inteligentíssima, talentosa e de sucesso”. “É certo sim, e eu sou muito feliz”, completou.

A artista ainda fez alusão ao tema da comemoração na Câmara, os 50 anos do chamado “Levante de Stonewall”, que faz referência à invasão policial, em 1969, ao bar de mesmo nome, que era reduto da comunidade homossexual em Nova York. “Que cada um comece a lutar para quebrar as paredes construídas pela sociedade, principalmente sobre o amor próprio. Nos marginalizaram, e continuam a fazer isso à luz do dia, num país democrático”, discursou. “Vamos continuar a pressionar.”

O motim de Stonewall durou duas noites e é considerado o marco histórico do movimento moderno de libertação gay e da luta pelos direitos LGBT nos Estados Unidos. E resultou na organização na 1° parada do orgulho LGBT, realizada na cidade americana em 1° de julho de 1970 para lembrar a revolta. “Precisamos de muitas rebeliões, muitos ‘stonewalls’, esse movimento contínuo na sociedade, para que a democracia se efetive e equalize o direito de todos”, defendeu Daniela.

Como mostrou o Congresso em Foco, a sessão solene foi marcada pela defesa da mobilização contra a homofobia, pelo reconhecimento de todos os direitos civis pela população LGBT e por críticas ao governo de Jair Bolsonaro. O presidente sempre foi notório opositor do movimento dentro do Congresso e é constantemente acusado por lideranças gays, lésbicas e transexuais de ser homofóbico.

Além de Daniela e Malu, dezenas de outras personalidades e entidades foram homenageadas. Entre elas, a ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, e o Congresso em Foco, que desde 2016 estampa a bandeira do arco-íris em suas páginas em apoio à defesa dos direitos de LGBTs.