Ottaci repassou mais de R$ 56 mil a posto de gasolina da mulher de Jalser

Que o candidato Ottaci Nascimento e seu mentor Jalser Renier possuem negócios escusos, já não é novidade para ninguém. Isso já foi estampado diversas vezes na mídia nacional. Um dos casos envolvendo a dupla chegou a ser divulgado no início deste ano pelo jornal O Globo, que mostrou que o deputado estadual movimentou R$ 90 mil em aluguel e gastos em um posto de combustível pertencente à mulher de Jalser, Cynthia Padilha.

A reportagem do O Globo mostrou que o valor empregado por Ottaci foi oriundo de cota específica da Câmara dos Deputados para o exercício da atividade parlamentar. Porém, o fato dessa verba ter sido destinada a um aliado político, tal prática configura-se como proibida porque a verba da Câmara deve financiar apenas as atividades do parlamentar, e não de aliados.

Em levantamento do Portal Boa Vista Já, Ottaci já repassou mais de R$ 56 mil ao posto de gasolina C. V. Derivados do Petróleo Comércio LTDA, que tem como sócios Vanina Vanderlei Gadelha Thome e Cinthya Lara Gadelha Padilha, esposa de Jalser Renier, conforme portal da Transparência da Câmara Federal.

https://www.camara.leg.br/cota-parlamentar/analitico?nuDeputadoId=3276&dataInicio=3/2020&dataFim=3/2020&despesa=3&nomeHospede=&nomePassageiro=&nomeFornecedor=&cnpjFornecedor=&numDocumento=&sguf=

Na ocasião, os investigadores detectaram que no endereço alugado por Ottaci funcionava o escritório do Solidariedade, partido no qual o parlamentar é filiado. Ao ser questionado, Ottaci tentou se justificar. “O deputado Jalser é presidente de honra do meu partido, além de ser um grande parceiro político. Por essa razão, fazemos uso do escritório de forma compartilhada”, afirmou, por meio de nota.

De acordo com reportagem, a Câmara dos Deputados gastou R$ 166 milhões com cota de atividade parlamentar, fato que contribuiu para que o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendasse um corte nas despesas da Casa, principalmente com publicidade, tendo em vista que o Congresso tem meios próprios para isso, como a TV Câmara.

Além de Ottaci, também foram citados outros deputados que beneficiaram aliados com recursos da Câmara, como Jaqueline Cassol (PP-RO), a que mais gastou (R$ 474 mil), Eder Mauro (PSD-PA), que gastou R$ 125 com divulgação, Vanda Milani, que repassou dinheiro da Câmara para o chefe da Casa Civil do Governo do Acre, Jacob Gomes de Almeida Júnior, pelo desenvolvimento de artes e desenvolvimento de projetos visuais, e Wilson Santiago que direcionou R$ 74 mil para uma locadora de carros na Paraíba, cujo sócio era seu próprio secretário parlamentar.

As ostentações de Jalser

A matéria do O Globo fez questão de lembrar também quem de fato é Jalser Renier, principal mentor e financiador da campanha de Ottaci para as eleições deste ano. No ano passado, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) ofereceu denúncia contra Jalser e outras 16 pessoas por desvios de dinheiro público da Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR), no âmbito das operações “Cartas Marcadas” e “Royal Flush”, deflagradas pelo Gaeco, em junho de 2016 e janeiro de 2019, respectivamente.

Com as investigações e a delação premiada de um dos envolvidos, após a Operação “Cartas Marcadas”, foi identificada a participação do denunciado Jalser Renier Padilha, presidente da ALERR, a partir de janeiro de 2015, estruturou e aperfeiçoou o esquema criminoso de desvio de recursos públicos do parlamento estadual, realizado por meio de processos licitatórios simulados.

Durante as investigações, inclusive com cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa do presidente da ALERR, o Ministério Público de Roraima (MPRR) destacou que o deputado e sua esposa viviam vida de luxo com bens avaliados em mais de R$ 1 milhão. Na ocasião, foram apreendidos na residência de Jalser e sua esposa, Cínthya, carros de luxo, óculos de sol, joias, relógios e bolsas importadas..

O MPRR analisou 36 procedimentos licitatórios apreendidos durante a Operação “Cartas Marcadas”, constatando desvios de dinheiro público que, somados, chegam ao expressivo valor de R$ 23.679.166,74 milhões, entre os anos de 2013 e 2016.

A organização criminosa era dividida entre quatro núcleos, cada um com papel diferenciado. A investigação levada a cabo na operação “Cartas Marcadas” já havia identificado três núcleos criminosos, quais sejam, o Núcleo de Agentes Públicos, o Núcleo Empresarial e o Núcleo de Operadores Financeiros e Laranjas. Com o aprofundamento da apuração criminal, chegou-se ao quarto e mais relevante Núcleo Criminoso, o Núcleo Político.