Com microscópio quebrado no HGR, família deve gastar R$400 mil em cirurgia

Erládio da Silva vai ter que optar pelo sistema privado de saúde: "“É lamentável essa situação na saúde pública do Estado"

As cirurgias de aneurisma no Hospital Geral de Roraima (HGR) estão suspensas há meses, porque o microscópio estaria quebrado, conforme denúncias de familiares de pacientes internados na maior unidade de saúde do Estado.         

O agricultor Erlandio da Silva Dionisio, 35 anos, morador do município de Caroebe, é um dos pacientes que aguardam pelo procedimento no HGR, onde ele está internado desde o dia 25 do mês passado.       

A irmã dele, a microempreendedora Sandra Dioniso Fernandes, que mora em Boa Vista, é quem acompanha a luta pela vida do irmão, pois os pais também são agricultores e moram em Caroebe

Ela contou que o irmão deu entrada no hospital de Caroebe com fortes dores de cabeça. “O médico apenas receitou dipirona, e internou meu irmão que passou a noite na unidade e recebeu alta no dia seguinte”, contou Sandra.       

Após cinco dias as dores continuavam e ele decidiu vir para Boa Vista. Fomos a uma clínica particular e ele foi consultado por um neurocirurgião, que também fez uma ressonância magnética e foi diagnosticado com dois aneurismas cerebrais. Gastamos R$ 1.800”, resaltou a irmã de Erlandio.     

No mesmo dia, com os resultados em mãos foram ao HGR. “Demos entrada pelo Grande Trauma e o médico que analisou os exames decidiu internar meu irmão devido a urgência do caso, pois ele corria um grande risco de rompimento das veias cerebrais”, relatou Sandra.

A microempreendedora disse que, após a internação, foi realizado o exame arteriografia cerebral e o médico marcou a cirurgia para o dia 31 de maio deste ano, no HGR. “Porém, depois o médico falou para gente que que o microscópio tinha queimado e que não podia mais realizar o procedimento. Meu irmão até hoje está internado, esperando por essa cirurgia”, disse.

“É lamentável essa situação na saúde pública do Estado. Ainda no HGR nos disseram que esse microscópio quebrado é velho, é do tempo do governador Ottomar Pinto. Do atual Governo do Estado já ouvimos várias histórias. Já disseram que compraram um microscópio de R$ 3 milhões, que depende de licitação, de outra vez falaram que esse equipamento chegaria em 30 dias e até agora nada”, contou Sandra.

Procedimento cirúrgico deve ser realizado em Manaus

Sandra informou que nesta quinta-feira (17) irá com Erlandio para Manaus, capital do Amazonas. “Vamos por conta própria, mas primeiro iremos procurar fazer essa cirurgia em um hospital público, por meio do SUS [Sistema Único de Saúde]. Caso contrário faremos em um hospital particular, inclusive já temos um orçamento e o valor da cirurgia é de quase 400 mil reais, fora os gastos de passagem, hospedagem, locomoção e alimentação”, contou.

Sandra repassou à reportagem os valores, conforme o orçamento enviado por um hospital particular em Manaus:       

ORÇAMENTO ANGIOGRAFIA CEREBRAL             

  • Taxa de sala (equipamento, medicamentos, contraste) R$ 1.500             
  • Materiais (OPME) R$ 2.300       
  • Equipe médica R$ 3.400             
  • Angiografia cerebral no valor de R$ 7.200

ORÇAMENTO DE EMBOLIZAÇÃO PARA DOIS ANEURISMAS

  • Taxa de sala (equipamentos, medicamentos, contraste) R$ 10 mil          
  • Materiais (OPME) para dois aneurismas R$ 282.908,00

“Nesse orçamento não está incluso o valor da UTI do hospital particular, pois a unidade de saúde não repassa por escrito, e nem o custo da internação hospitalar. É uma cirurgia muito cara, mas vamos tentar conseguir essa grana seja por meio de empréstimos bancários, pegar nossas economias. Meu irmão é jovem, tem uma filha, e só queremos que ele fique bem”, disse Sandra.         

Ela comentou ainda que os honorários médicos da equipe de neurocirurgia (neurocirurgião, anestesista e instrumentadores) custam R$ 40 mil. A unidade hospitalar privada informou à Sandra que o pagamento deve ser à vista (em dinheiro) no ato da admissão hospitalar ou depósito em conta.

OUTRO CASO   

Um morador da Vila do Equador, no município de Rorainópolis, também contou a dificuldade para a realização da cirurgia de aneurisma no sogro dele, que tem 59 anos.          

 “Meu sogro está internado no HGR desde o mês de abril. E nós, familiares, estamos de favor na casa de um amigo da nossa família aqui em Boa Vista. É uma situação muito triste, ver pessoas precisando de saúde e não tem”, comentou o genro, que pediu para não ser identificado.            

GOVERNO DO ESTADO – Sobre essa questão, a Sesau (Secretaria de Estado da Saúde) enviou a seguinte nota. Confira na íntegra:         

A Secretaria de Saúde informa que a manutenção corretiva do microscópio já foi realizada, e neste momento está sendo feita a fase final de teste da lente usada durante o procedimento, para posterior liberação do uso.             

É importante esclarecer que a cirurgia de aneurisma é complexa e precisa ser realizada de forma segura e para isso é fundamental garantir que todos os equipamentos clínicos estejam disponíveis.        

Informa ainda que a Pasta também trabalha na aquisição de um novo aparelho que será adquirido por meio de licitação.         

Informações: FolhaBV