Não teve crise, pandemia, crash econômico ou inflação que impedissem o enriquecimento pessoal de uma pequena parcela dos já ricos aqui de Roraima. Dentre eles, adivinhe, o próprio governador do Estado, Antonio Denarium (PP). Sua declaração de bens enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentou um salto significativo de quase R$ 6,5 milhões nos últimos quatro anos, tempo em que está no poder. Agora, a riqueza pessoal declarada pelo governador passa da casa dos R$ 21 milhões. Ô, glória.
Diante de indicadores que mostram um Estado quebrado, com empresas atadas a condições fiscais que arruínam qualquer negócio, e trabalhadores que dependem cada vez mais do poder público para sobreviver, acho de bom tom questionar a multiplicação desses bens, diante de cenários tão contracorrentes por aqui. O “cada dia melhor” confirma-se como um cumprimento na seita dos mais abastados, que estão se esbaldando em benesses direcionadas, ofertadas por uma gestão que não tem compromisso com o cidadão, mas sim com o seleto grupo de escolhidos.
Na contramão de tanta fartura, o roraimense segue seu sofrimento para honrar as contas mais básicas, até mesmo para conseguir comer. Sem entender das necessidades de sua gente, Denarium briga por uma nova chance, para continuar fazendo igual, trabalhando para poucos, e servindo a bem menos gente ainda. É disso o que precisamos? A resposta é por sua conta, caro leitor.
Neste momento, o que o roraimense deseja é uma gestão que entenda cada vez menos de como aumentar o próprio patrimônio, e aprenda a governar para que todos nós tenhamos chances de viver melhor, com condições reais de dignidade, e não somente os escolhidos. A pavimentação da estrada da história política de Roraima está cheia de buracos, assim como nossas rodovias e vicinais.
Aulas de administração pública
O governador precisa aprender alguma lição sobre investimentos públicos, responsabilidade fiscal e valorização do funcionalismo com o prefeito da capital, Arthur Henrique (MDB). Nesta quinta-feira (11), o prefeito anunciou aumento de 10% para todos os profissionais do município. Após muito planejamento, Arthur viu que dava para direcionar os investimentos corretos para onde realmente importa. Ele entende que sem valorização do trabalhador, o serviço público fica estagnado, não avança, só cai.
Além disso, Arthur também anunciou benefícios para os servidores da educação, com recursos do Fundeb, e reconheceu que tudo isso só foi possível porque recebeu a prefeitura das mãos de Teresa Surita (MDB) com as contas equilibradas. Quando se trabalha em parceria, com quem entende, não tem como dar errado. Quando se trabalha jogando contra, com conchavos e aliados de procedência política duvidosa, podemos constatar claramente o desnível de prioridades.
Problemas existem também no município, não digo que é um mar de flores. Ainda mais com uma bancada federal de deputados e senadores que fazem questão de fingir que Boa Vista não existe, nitidamente resistindo a destinar recursos públicos para obras de grande impacto por aqui. Assim, cercado de políticos birrentos e desafetuosos, o prefeito vai se esquivando de muita gente incompetente que não entende de administração pública, para manter a qualidade na prestação dos serviços em Boa Vista. E são esses mesmos políticos que gostam de ver o circo pegar fogo, na hora das necessidades públicas da capital.
No Hospital infantil, por exemplo, um dos maiores gargalos da gestão municipal, a queixa é por demora em atendimentos médicos, com muita criança para ser clinicada. Quando encontra-se uma solução, como o seletivo para médicos aberto a poucos dias, vê-se a raiz do problema: oito especialidades médicas sequer tiveram inscritos para esse seletivo. Tem vaga, mas não tem médico interessado. Como é que resolve?
Um governo parceiro encontraria meios de trazer gente para trabalhar aqui. Deputados e senadores aliados do prefeito seriam de grande valia para brigar em Brasília pela volta de programas como o “Mais Médicos”, que ajudava a desinchar a demanda excessiva daquela unidade. Mas não, o que vemos é um bando de bajuladores do governador subindo no palanque e gritando “Roraima está cada dia melhor!”, deixando o gestor municipal sozinho em meio aos problemas da cidade que elegeu toda a bancada que está em Brasília.
É o ano para fazermos o balanço e observarmos quem realmente se importa com as condições de vida da nossa gente.
É muito apoio sem futuro
E esse grupo só fica maior. Talvez Denarium já seja o governador com a maior quantidade de políticos apoiadores na história de Roraima. Não por um serviço bem feito, muito pelo contrário, mas pelas barganhas vergonhosas que estão sendo tramadas bem na cara da população. É nítido e patético ver, por exemplo, o presidente da Assembleia Legislativa, Soldado Sampaio (Republicanos), deixar uma lei de autoria do deputado Janio Xingu (PP) que dispensava o pagamento da segunda via de documentos como o RG, ser aprovada naquela Casa e depois totalmente vetada pelo governador. Sampaio acatou a ordem de Denarium e derrubou a lei, como se ela nunca tivesse existido.
Veja a que ponto chega a subserviência do ex-chefe da Casa Civil, atual presidente de um Poder, para obedecer irrestritamente as ordens do governador. Que tipo de Poder é esse que não reage e nem contesta os desmandos e desfeitos do Executivo? Se o problema for de ordem legal, a Comissão de Constituição e Justiça daquela Casa deveria ser remontada do zero, porque ali não parece ter ninguém que lê a Constituição Federal antes de autorizar a tramitação de um projeto de lei. É essa mesma Comissão, comandada por Catarina Guerra (União Brasil), também aliada do governador, que dá o aval para que projetos inconstitucionais cheguem ao plenário, sejam votados e aprovados, e depois derrubados, fazendo o Legislativo perder tempo e dinheiro.
Além da humilhante aprovação do PL de Xingu seguida de um sonoro “não” do Executivo, e subsequente acato de Sampaio, podemos listar como exemplo a aprovação das leis que permitem o uso de mercúrio em garimpos de Roraima (já derrubada pelo STF) e a proibição de destruição de maquinários de garimpo cuja inconstitucionalidade só espera validação pelo mesmo Tribunal Superior. Se ao invés de pensar no populismo eleitoreiro a Assembleia assumisse o seu papel de Poder Independente, nossas condições seriam outras em vários âmbitos da sociedade. Mas assim, cheio de alianças com nenhuma vantagem para o povo, nosso Estado está tomado por gente que pensa em tudo, menos na nossa população.
Já disse uma vez por aqui e insisto: Política não é empresa para dar lucro, e quem tem que estar lá, é quem entende de gente. É na confiança de que a força do povo é maior do que a vontade de enriquecer com a política que devemos seguir na esperança de dias melhores. Roraima não merece ficar cada dia mais pobre, enquanto eles ficam cada dia mais ricos.
- Por Rubens Medeiros – Roraima1
* O título da coluna contém ironia. O valor acrescido do patrimônio do governador foi em quase 1/3.