A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (CGVS) contabilizou mais de 450 casos de papilomavírus (HPV) em Roraima nos últimos dois anos. Em 2017, foram 153 confirmações e 181 no ano passado. Já este ano, até as primeiras semanas de novembro, 118 casos foram registrados. Os dados podem ser maiores se levados em consideração os diagnósticos da rede particular de saúde.
Uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) mais comum em todo mundo, o HPV fica alojado na pele e mucosa da região genital de homens e mulheres, causando lesões, verrugas e o desenvolvimento de câncer em subtipos mais graves. No estado, a maior incidência dos casos está nos jovens entre 20 e 29 anos. As mulheres representam 64% dos casos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), boa parte das pessoas é infectada logo após o início da vida sexual, sendo assim, a maioria dos homens e mulheres sexualmente ativos terão o contato com o vírus em algum momento da vida. Para a especialista em ginecologia, Rafaella Caleffi, o cenário é explicado pela precocidade da primeira relação e a falta do uso de preservativos.
“Os adolescentes estão iniciando a vida sexual cada vez mais cedo e muitos não têm informação sobre como se prevenir. Além disso, a camisinha [masculina] não previne 100% porque o contato genital, sem penetração, já é um foco de transmissão. Outro problema é o número alto de parceiros”, explicou.
Rafaella pontua que, para as mulheres, independente do método contraceptivo utilizado, é necessário alinhar com o preservativo para evitar a transmissão das infecções sexuais. A camisinha feminina é a mais recomendada por ser maior e conseguir abranger uma área de cobertura maior para a proteção.
TIPOS
O HPV pode passar anos inativo e sem manifestar qualquer sintoma clínico, mas mesmo assim pode ser transmitido no contato direto com a pele infectada. Portanto, sexo anal e oral feitos sem proteção também são de risco. Há evidências relacionando o papilomavírus com câncer de vulva, vagina, ânus, pênis e faringe.
As verrugas genitais, que podem não estar relacionadas com câncer, são altamente infecciosas, mas são tratáveis. Boa parte dos tipos de HPV desaparece com melhora do sistema imunológico no período de dois anos, somente alguns progridem para câncer. Nas mulheres, devido à mucosa vaginal ser maior, as chances de contágio aumentam e elas são as principais vítimas das ISTs.
Já os tipos 16 e 18 causam 70% dos cânceres de colo de útero, sendo o segundo tipo de câncer que mais atinge mulheres em todo mundo. No ano passado foram 570 mil novos casos e 311 mil mortes causadas pela doença em todo o mundo.
SINTOMAS
Dos principais sintomas clínicos aparentes são as verrugas genitais, em ambos os sexos. “Ainda temos as lesões que conseguimos detectar no preventivo com alterações no exame. O câncer de colo de útero é 99% com o HPV. É possível fazer também uma genotipagem do vírus e descobrir se é de baixo ou alto risco”, disse a médica.
A médica pontua que relações homossexuais também podem ocorrer a transmissão de vírus. Entre mulheres, é recomendável utilizar camisinha feminina e a masculina em objetos sexuais utilizados para penetração. Para os homens, é sempre importante verificar o tamanho do preservativo para evitar que saia durante a relação.
VACINA
Fora o uso do preservativo, um meio de evitar o câncer de colo de útero causado pelo HPV é através de vacinação. Na rede pública é ofertada para meninas de 9 a 14 anos e meninos a partir dos 11 anos, para que estejam protegidos antes da primeira relação sexual. Duas doses são aplicadas no período de seis meses.
Na rede particular em Boa Vista, apenas uma unidade hospitalar oferta a vacina com o valor de R$ 360 cada dose, sendo feita a aplicação de três. “Isso é a prevenção primária para destruir os vírus. A vacina vai proteger contra quatro subtipos de HPV. Se já teve a verruga, de baixo risco, nada impede de adquirir o de alto risco com outro parceiro. Então a vacina é sempre indicada”, justificou Rafaella.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), em 2018 foram aplicadas 27,5 mil doses da vacina. Este ano, o número chegou a apenas 11,1 mil, uma redução de 59%.
PREVENÇÃO
A especialista afirma a importância de conversas e orientações sobre as infecções sexualmente transmissíveis e difusão de informações sobre preventivos. Homens e mulheres devem realizar os exames com periodicidade para conseguir detectar qualquer tipo de alterações.
Informações: Roraima em Tempo