CRISE NA SAÚDE – Médica denuncia falta de estrutura em maternidade

Conforme relato, 11 mulheres estariam aguardando parto cesárea na maternidade gerida pelo Governo (Foto: Roraima em Tempo)

A médica ginecologista Emília Alexandrino afirmou que a situação que vive atualmente o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré, onde ela trabalha há 18 anos, é consequência de má gestão, o que vem ocorrendo há muito tempo. Entre os problemas enfrentados pelos profissionais, para que desempenhem suas funções, está a falta de materiais, insumos e equipamentos.

“Se antes, os gestores não se preocuparam em tentar resolver essa problemática, agora mesmo é que não vão conseguir por causa da imigração venezuelana, que fez com essa situação se agravasse mais ainda”. ressaltou.

“Trabalho há 18 anos na maternidade, a única para atender todo o Estado, fronteiras e áreas indígenas. Sofremos um desabastecimento e sucateamento perenes há mais de dois mandatos governamentais. A crise provocada pela migração venezuelana tem nos afetado muito, mas não é a única causadora do caos em que estamos passando”, comentou a médica.

“Na maternidade não há leitos suficientes, além da falta de materiais e equipamentos médico-hospitalares, medicamentos, insumos, efetivo de médicos e paramédicos. Temos atrasos de pagamento para os profissionais dos diversos setores do hospital, rompimento dos contratos das empresas que fazem a manutenção e reparo de equipamentos por falta de pagamento. Se tivéssemos uma fiscalização seria da Vigilância Sanitária e dos órgãos de controle com as devidas sanções aplicadas, o hospital seria fechado, mas isso não tem como acontecer porque é o único e no Brasil não se constrói um hospital em 10 dias como na China”, disse.

A médica reforça que o número de mulheres que têm acesso a uma consulta com o especialista durante a assistência pré-natal é muito pequeno, e devido as grávidas não terem uma cobertura pré-natal adequada, muitos fetos morrem.

“Com isso as complicações no ciclo gravídico e puerperal são frequentes, as vezes culminando com a morte materna e/ou fetal. Diuturnamente nos nossos plantões temos a difícil tarefa de escolher em quem vamos aplicar a última ampola de anestésico, de antibiótico, de analgésico ou anti-inflamatório, colocar a última sonda ou bolsa coletora, usar o último LAP cirúrgico para cesárea, usar o último fio adequado e trabalhar constantemente com materiais inadequados, direcionar o último leito disponível na UTI”, relatou.

A médica denunciou ainda a falta de um detector fetal usado para escutar os batimentos cardio fetais na sala de parto e um carrinho de ressuscitação cardiopulmonar nas enfermarias, centro obstétrico ou emergência. “As condições estruturais da maternidade estão péssimas”, afirmou Emília.

Segundo ela, as cirurgias eletivas estão suspensas há meses, sem previsão para retornarem por falta de material e as filas das pacientes crescem e suas doenças se agravam. “Seus exames pré operatórios vencem por diversas vezes no aguardo de uma cirurgia que nunca chega. Os confortos médicos são verdadeiros “chiqueiros”. Não se tem roupas de cama, pijamas, roupas cirúrgicas. Estamos cansados, por vezes desmotivados e até irritados pelas exaustivas jornadas de trabalho e por não sermos atendidos nas nossas reivindicações”, contou a médica.

Emília contou ainda que a maternidade perdeu mais de 16 ginecologistas e obstetras nos últimos cinco anos, e o governo não ofereceu nenhum atrativo para que novos profissionais venham para a unidade de saúde. “Mas onde andam os órgãos de controle, o que o governador de Roraima e a prefeita de Boa Vista têm feito mediante ao caos da Saúde. E os parlamentares que têm os seus salários e vantagens sempre garantidos e em dia, que deveriam lutar pelo povo. Além do que, alguns já tiveram por várias vezes envolvimento em ilicitudes e morderam uma boa fatia das verbas da Saúde. Onde está a Promotoria da Saúde, o Ministério Público”, questionou.

Emília se disse indignada e repudiou toda forma de agressão, acusação generalista aos nós profissionais da Ginecologia e Obstetrícia do Estado de Roraima.

SESAU – A Secretaria de Saúde esclarece que tem dado toda a atenção necessária para a reestruturação do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, o que inclui a reforma no Bloco das Azaleias, prevista para iniciar no mês de março. Com a reforma, a Unidade ganhará 32 leitos de enfermaria.

Outra medida importante adotada pelo governador Antonio Denarium é a construção e ampliação da UTI Neonatal, que ganhará 50 leitos, e a UTI Materna, que receberá de cinco leitos. As obras incluem ainda a reformado Centro Cirúrgico, CME e laboratório.

O processo de reestruturação do HMINS inclui também a aquisição de equipamentos e materiais médico-hospitalares, que está em fase de finalização do parecer técnico, além da abertura de processo para a aquisição de medicamentos, medida que manterá o estoque abastecido de maneira regular.

Informações: Folha de Boa Vista – Foto: Edinaldo Morais