O Governo de Roraima confirmou que vai leiloar o prédio da Escola Estadual Professor Diomedes Souto Maior, localizado no Centro de Boa Vista. Abandonado há nove anos, o espaço tem sido usado como ponto de venda de entorpecentes, desmonte de objetos roubados e moradia para usuários de drogas.
Nesta quinta-feira (4), foi constatado que há pessoas dormindo no prédio, a estrutura está completamente comprometida e o lixo se acumula no lugar. Moradores da região relataram insegurança e preocupação com a criminalidade devido ao descaso com o bem público.
“A noite fica muito perigoso, porque tem pouca iluminação. Depois de um certo horário, prefiro nem sair de casa. Já presenciei pessoas pulando muro várias vezes e a gente sabe que tem usuários de droga [no prédio]. A polícia já veio várias vezes, mas continua igual”, contou uma moradora.
Ela relatou ainda que sempre viveu próximo à escola abandonada, e que prédio é uma parte importante da história do bairro. Ao saber do leilão, a moradora relembrou que estudou na unidade nos primeiros anos de vida escolar.
“Sempre estudei nessa escola quando criança. Meu filho também estudou até anunciarem a reforma. A gente fica triste, porque era uma escola muito boa, com uma estrutura grande. Prefiro que reformem do que fazer leilão”, avaliou.
Mas esse era o plano do governo: revitalizar a estrutura. Em 2013, um ano depois de a unidade ser fechada por falta de estrutura, o governo anunciou que haveria reforma. Agora, quase uma década depois, o planejamento nunca saiu do papel. O Estado não justificou a decisão, e limitou-se a dizer que o leilão deve ser lançado nos próximos dias.
No ano de 2015, o governo tornou público que o prédio foi repassado para a Polícia Militar (PM), mas depois devolveu para a Secretaria de Estado da Gestão Estratégica e Administração (Segad).
À época, o Ministério Público do Estado (MPRR) informou que apurava o fechamento da unidade devido à reclamação dos moradores. Procurado pela reportagem, o órgão não respondeu que fim levou a investigação.
REPÚDIO
Entidades de movimentos sociais lançaram uma carta de repúdio contra a ação. O documento assinado pelo Comitê em Defesa da Escola Pública de Roraima, Associação dos Estudantes de Roraima (Assoer), Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinter), e outras organizações, afirma que o leilão descaracteriza a história de Roraima.
“Prédios escolares ao necessitarem de reformas ou mesmo de reorganização da oferta de ensino público foram abandonados. O Poder Público deixou que o patrimônio se deteriorasse para lhes imprimir outra finalidade, que muitas vezes descaracteriza a história. Pior ainda é leiloar, entregar a qualquer finalidade um prédio que abrigou uma das primeiras escolas da cidade de Boa Vista e que recebeu o nome do professor Diomedes Pinto Souto Maior, pioneiro da educação roraimense”, criticam.
No ano de 2009, uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa consagrou como documentos históricos e bens patrimoniais o acervo constante nas escolas, entre elas a Diomedes Souto Maior. Questionado sobre onde está o acerto, o governo não respondeu.
ABANDONADOS
Não é a primeira vez que o governo desativa prédios da Educação. Em 2019, o governador Antonio Denarium (sem partido) publicou decretos que desativaram as Escolas Estaduais 13 de Setembro e Idarlene Severino da Silva, ambas em Boa Vista.
A decisão causou movimentação entre os deputados estaduais, pais e estudantes da escola, que cobraram em manifestação que o prédio fosse reformado e entregue para uso educacional.
Por causa dessa postura do gestor, o deputado Nilton do Sindpol (Patri) chamou Denarium de “exterminador do futuro”. Já Evangelista Siqueira (PT) declarou que “quando o governo fecha escolas, ele tem que se preparar para abrir presídios”.
Naquele mesmo ano, o governador também desativou mais duas escolas no interior do estado: Professora Zoraide da Gama, localizada no município de São Luiz, e a Valério Magalhães, em Caracaraí. O motivo para isso foi que elas não estavam sendo utilizadass.
LEILÕES
Além do prédio da escola estadual, o Governo de Roraima também anunciou o leilão de outros patrimônios do estado. No próximo dia 18, o Complexo Agroindustrial Silos Graneleiros do Monte Cristo será leiloado pelo lance mínimo de R$ 14,9 milhões.
Nesta semana, a reportagem mostrou que o Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafir) volta novamente às negociações. A justificativa da Codesaima para realizar o leilão do espaço é que “o serviço de matadouro não faz parte das atividades essenciais, tipicamente estatais as quais nos propomos a desenvolver”.
Informações: Roraima em Tempo