Leitos vazios no HGR contradizem superlotação informada pelo governo

LEITOS VAZIOS: Pacientes chegam a esperar 48h por leitos de terapia intensiva ou clínicos, mas unidade diz que não tem

Leitos vazios em meio à superlotação do Hospital Geral de Roraima (HGR) provocada pela pandemia da Covid-19. O jornal Roraima em Tempo teve acesso exclusivo nesta segunda-feira (5) a três vídeos feitos que mostram camas sem pacientes, enquanto faltam leitos para quem entra na unidade.

Servidores relataram à reportagem que os leitos estão desativados e sem uso há pelo menos um mês no Bloco E do hospital referência para tratamento da doença. Isso quer dizer que na semana passada, quando as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) atingiram 100%, e os leitos clínicos foram a 107%, os leitos estavam sem uso no HGR.

A redução no número de leitos ocorreu entre maio e junho deste ano. De 90 UTIs, o governo fechou 36, restando apenas 54. Nesse domingo (4), os leitos clínicos permanecem acima da capacidade, em 107%, já o número de UTIs subiu para 59, ou seja, mais cinco. A questão é a falta de profissionais para atender os pacientes.

SOBRECARGA

Nesta semana, o Pronto Atendimento Airton Roche tinha apenas um médico. O déficit ocorre ainda com técnicos, enfermeiros, enquanto os aprovados em seletivos não são chamados. Somam-se a isso internados que não tomam banho por falta de compressa de pano. Quando é disponibilizada atadura, o item é usado para limpar os pacientes.

“Estamos sobrecarregados. Tem cadastro reserva dos seletivos feitos pela Sesau [Secretaria de Estado da Saúde]. Por que não convocam? Decidiram chamar de volta os servidores que estavam de férias, o que afeta o psicológico de quem está há mais de um ano na linha de frente da pandemia”, disse uma servidora em caráter reservado.

Na última sexta-feira (2), o secretário da Saúde, Airton Cascavel, decidiu suspender as férias de todos os servidores do HGR. Aqueles que viajaram tiveram que retornar para assumir o posto na unidade. A Sesau alegou “necessidade pública” e garantiu que vai contratar novos profissionais.

Outro vídeo obtido pelo Roraima em Tempo revela que em uma sala há três pontos de oxigênio sem atender pacientes. Semana passada uma denúncia indicou que infectados pelo vírus que chegavam à unidade não tinham acesso ao gás sob a alegação de que não havia nenhum ponto disponível.

Durante a gravação, um funcionário abre o fluxômetro (aparelho que controla a saída de oxigêncio) para provar que há gás nos tubos.

COBRANÇA

Por causa da falta de leitos de UTI na unidade de saúde, a Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima (OAB-RR) cobrou na semana passada a reabertura dos leitos. A promessa é que até esta terça-feira (6) sejam instalados mais dez. O Ministério Público também foi alertado sobre a situação, além da falta de medicamentos.

“Se você entra no Pronto Atendimento [Airton Rocha] e no Grande Trauma, estão lotados, com pacientes nos corredores, leitos totalmente ocupados. Mas no setor novo, ao lado, que eles inauguraram, estão os leitos vazios. A gente não entende por que não estão sendo usados. Parece que querem ver a superlotação”, declarou um servidor.

CITADA

Questionada, a Sesau não explicou os motivos de os leitos e os pontos de oxigênio não estarem sendo usados. Como resposta, a pasta emitiu a nota que segue na íntegra:

A Secretaria de Saúde informa que por conta da pandemia está ocorrendo escassez de mão de obra qualificada para atuação na terapia intensiva. Apesar disso, o governo sempre priorizou o atendimento na saúde, e desde o início da pandemia já aumentou em quase 300% o número de leitos de UTI em Roraima.

Informa ainda que somente na semana passada, foram abertos mais cinco leitos de UTI no HGR para garantir que a demanda de Covid-19 seja atendida com prioridade. Esclarece ainda que o Governo de Roraima trabalha para formalizar a abertura de mais seis leitos de UTI ainda nesta semana.

Informações: Roraima em Tempo