Descontrolado como sempre, Jalser chama deputado de “viadinho” e “mocinha”

Jalser é alvo de processo por quebra de decoro parlamentar por suspeita de mandar sequestrar o jornalista Romano dos Anjos. Ele já havia ofendido o relator Jorge Everton outras vezes, quando ironizou o sotaque do parlamentar

O deputado Jalser Renier (SD) chamou o colega de parlamento Jorge Everton (sem partido) de “viadinho” e “mocinha” durante uma confusão nesta segunda-feira (21) na Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR).

A confusão ocorreu porque Jalser Renier, alvo de processo de cassação de mandato conduzido pela Subcomissão de Ética, no qual Everton é relator, se exaltou por não concordar com a forma como ocorreu a oitiva das testemunhas.

Um vídeo registrado pela Rede Amazônica em Roraima durante a cobertura flagrou o momento em que o Jalser fala que que Everton “é um viadinho” e completa com “você é uma mocinha, você é uma mocinha”.

Antes, ele já tinha dito que Jorge Everton não valia “um tostão furado”. Após isso, Jalser foi retirado do plenário pelo advogado que o acompanhava. O parlamentar é suspeito de mandar sequestrar o jornalista Romano dos Anjos, em outubro de 2020, e, por isso, é alvo de um processo por quebra de decoro na Comissão de Ética da Casa.

Em nota, Everton disse que não vai se calar diante ao que classificou como “desespero do deputado Jalser”.

“Eu não vou me calar! Não vou me silenciar, sendo ameaçado, sendo injuriado, difamado e caluniado pelo desespero do deputado Jalser. Eu vou agir dentro da norma como eu sempre agi. Sou um delegado de Polícia, não tenho nenhum processo na minha vida. Não tenho nenhuma denúncia contra mim, diferente do acusado [Jalser Renier] que é conhecido pelo estado e pelo povo de Roraima”, afirmou.

As ofensas começaram após os depoimentos serem encerrados e o relator permitir que Jalser se manifestasse. Ele acompanhou todas oitivas ao lado do advogado e tentou interferir algumas vezes.

Procurado, por meio da assessoria, Jalser disse que não lembra de ter usado “tais palavras” e que não teve “a intenção de ofender ninguém”.

“Não me lembro do uso de tais palavras. Hoje foi um dia tenso e desgastante. Meu direito de defesa foi flagrantemente violado pela Subcomissão de Ética. Talvez, no calor do debate, eu tenha me excedido e, se usei algum termo impróprio, reafirmo aqui que não tive a intenção de ofender ninguém. Meu único propósito é manifestar minha indignação diante das graves acusações sem provas que meus adversários fazem contra mim”, ressaltou.

Deputado ironizou sotaque

Essa, no entanto, não foi a primeira vez que o parlamentar disparou ofensas contra o relator. Em novembro do ano passado, Renier ironizou o sotaque de Jorge Everton, que nasceu no estado nordestino do Sergipe, durante discurso em uma sessão da Ale-RR.

No discurso, Jalser deu ênfase ao sotaque de Everton ao usar o verbo “pedir”, enquanto comentava sobre um vídeo divulgado nas redes sociais do colega de parlamento.

Ainda nesta segunda, Jalser Renier chegou a dizer que o relator do processo “não vale um tostão furado” e que a reunião parecia um “picadeiro”.

Jorge Everton disse que mesmo tendo sido alvo das ofensas, não vai ser silenciado.

“Eu não vou me calar! Não vou me silenciar, sendo ameaçado, sendo injuriado, difamado e caluniado pelo desespero do deputado Jalser. Eu vou agir dentro da norma como eu sempre agi. Sou um delegado de Polícia, não tenho nenhum processo na minha vida. Não tenho nenhuma denúncia contra mim, diferente do acusado [Jalser Renier] que é conhecido pelo estado e pelo povo de Roraima”, disse o relator.

A subcomissão foi definida no dia 11 de novembro de 2021 para julgar os pedidos de cassação contra Jalser.

Em novembro do ano passado, Renier enviou para a Subcomissão uma lista de testemunhas com 32 nomes entre políticos, empresários, blogueiros, um juiz federal e o próprio jornalista Romano dos Anjos, vítima do sequestro. A relação foi apresentada junto a defesa escrita do parlamentar.

No entanto, dos 32 nomes, apenas quatro pessoas participaram da oitiva sendo eles: O secretário estadual de Segurança Pública, coronel Edison Prola, o ex-delegado-geral da Polícia Civil de Roraima, Herbert Amorim, a superintendente de Gestão de Pessoas da ALE-RR, Geórgia Amália Freire Briglia e o ex-segurança de Jalser, o PM Hélio de Pinho Pinheiro.

O secretário estadual de Segurança Pública, coronel Edison Prola, foi o primeiro a prestar depoimento. Prola iniciou dizendo que à época do crime, o então delegado-geral da Polícia Civil, Herbert Amorim, o procurou pedindo para que o delegado João Evangelista saísse da liderança das investigações do sequestro e que isso parecia ser motivado por “motivos pessoais”.

Herbert Amorim foi a segunda pessoa a depor. Em seu depoimento, ele negou as afirmações do coronel Edison Prola, mas disse que foi intimidado por Jalser Renier para barrar o inquérito que investigava o sequestro do jornalista.

Jalser Renier está no poder há 27 anos. Político considerado polêmico, o parlamentar protagonizou outros escândalos no estado, como o “Escândalo dos Gafanhotos” e as operações “Royal Flush” e “Cartas Marcadas”.

Suspeito do sequestro

Renier é suspeito de ser o mandante do sequestro do jornalista Romano dos Anjos e, por esse motivo, responde a um processo disciplinar por quebra de decoro na Comissão de Ética da Ale-RR.

O sequestro de Romano ocorreu na noite do dia 26 de outubro de 2020. Ele foi levado de casa no próprio carro. O veículo foi encontrado pela polícia queimado cerca de uma hora depois.

Romano teve as mãos e pés amarrados com fita e foi encapuzado pelos suspeitos. Ele passou a noite em uma área de pasto e dormiu próximo a uma árvore na região do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista. Na manhã do dia 27, começou a andar e foi encontrado por um funcionário da Roraima Energia.

As investigações do Ministério Público de Roraima sobre o sequestro do jornalista indicam que Jalser Renier usou do cargo de presidente e da estrutura da para ordenar o crime. A Operação Pullitzer, que investiga o caso, também apontou a participação no crime de oito policiais militares e um ex-servidor da Assembleia.

Ele é suspeito de oito crimes: violação de domicílio qualificado; cárcere privado e sequestro qualificado; roubo majorado; dano qualificado; constituição de milícia privada; organização criminosa; tortura-castigo qualificada; e obstrução da justiça.

Informações: G1 Roraima