A saga da BR-174 – de Boa Vista a Pacaraima. Veja você mesmo!

Sem manutenção, principalmente entre Boa Vista e o “100”, na entrada para RR-203 que leva ao município de Amajari, o motorista vai certamente dirigir por até cansativas e exaustivas quatro horas, só na ida

O portal Mídia Roraima percorreu essa semana o trajeto de 213 km entre Boa Vista e o município de Pacaraima, cidade que faz fronteira com a Venezuela, e encontrou uma estrada completamente abandonada, desgastada, perigosa e sem qualquer estrutura para o viajante.

De todo o trajeto, pouco mais de 50 km estão “trafegáveis”, permitindo acelerar um pouco, mas com atenção. Há três anos essa viagem durava cerca de duas horas, mas hoje só se consegue chegar na fronteira no dobro do tempo. Sem manutenção, principalmente entre Boa Vista e o “100”, na entrada para RR-203 que leva ao município de Amajari, o motorista vai certamente dirigir por até cansativas e exaustivas quatro horas, só na ida.

Não existe um posto de abastecimento ou qualquer estrutura para o viajante descansar ou pedir socorro. O que não faltam nessa estrada, além dos buracos, são placas do “Governo Trabalhando”. Porém, até Pacaraima, não há sequer um trabalhador do Governo de Roraima fazendo serviços.

Durante toda a vigem, o que encontramos um pouco antes do Polo da Batata Doce (altura do km 520) foi um caminhão do Grupo Sinalmig trocando pneu furado, por não aguentar o tranco. A partir do km 530, começa uma dança de caminhões e veículos desviando das imensas crateras na pista. Mas, para iludir o motorista, seguem quase firmes, nem todas já de pé, as insistentes placas do Governo do Estado.

Os riscos para quem vai ou vem na estrada esburacada são altos. Ora os carros estão de um lado da pista, ora de outro e tudo no mesmo sentido. É preciso invadir a contramão por várias vezes durante o percurso para fugir das crateras e as chances de acidentes aumentam consideravelmente. O que se vê pelo caminho são motoristas se arriscando e desviando dos milhares de buracos na pista. Há aqueles já cansados que aceleram reto arremessando pedras para tudo que é lado. Estávamos atras de um caminhão que fez isso e foi um dos momentos tensos da viagem.

Em determinados trechos, antes da ponte do rio Uraricoera, leva-se mais de 30 minutos para percorrer 14 km.

A partir da ponte, a pista tem melhores condições de tráfego, mas isso graças ao ex-governador Anchieta Junior, por conta de um asfalto que resistiu nos últimos quatro anos, recebendo apenas alguns tapa-buracos (nem todos tapados) pelo DNIT.

A partir do km 606, começa um trecho onde a pintura de faixas é recente, porém toda irregular, sob um asfalto já antigo. Mesmo assim essa sinalização vai desaparecendo quando chega perto do igarapé Anibal.

No km 615 já se tem faixas brancas laterais na pista que são importantíssimas principalmente à noite, mas foram pintadas só até o km 628. A partir deste trecho, novamente os motoristas são obrigados a realizar manobras perigosas e invadir o lado contrário da pista.

Após 142 km percorridos a partir de Boa Vista, os primeiros trabalhadores são vistos pela equipe do Portal, mas que não são do Estado e sim da empresa Sanches Tripoloni, contratada pelo Governo Federal, DNIT, para realizar obras e manutenções na BR-174, do entroncamento para o Uiramutã até Pacaraima. Segundo equipe de operários da terceirizada, as obras já duram três anos e não serão finalizadas tão rápido assim porque as chuvas já começaram.

Um dos operários chegou a se queixar que em apenas uma semana todo o serviço feito na sarjeta da estrada para o escoamento da água da chuva, foi destruído. “É um desperdício de dinheiro. A gente faz e a chuva leva”, disse.

Você, que costumava viajar a Pacaraima e Santa Elena, antes da pandemia, vai assustar-se com o estrago desses 3 anos sem qualquer manutenção. Próximo à serra, chega a dar uma agonia. Com as obras, as matas ciliares foram todas derrubadas, dando lugar a muralhas de contenção. Muitas árvores foram derrubadas, favorecendo desmoronamentos de ambos os lados da pista.

No km 708 está a base do canteiro de obras da Sanches Tripoloni, que segundo os próprios trabalhadores não vai poder operar por muito tempo. Dentre conversas com motoristas de táxi, a análise é a mesma:.“Foram dois anos de pandemia, quando a estrada estava praticamente sem ser utilizada, e o Governo do Estado não fez nada nesse período para recuperar o asfalto ou garantir o bom fluxo na BR. Agora, o que a gente vê são só placas que apareceram perto das eleições”.

Sequer as obras do Governo Federal estão trazendo algum benefício. Há mais de três anos trabalhando nos últimos 20 km de estrada para chegar ao município de Pacaraima, a empresa sequer garantiu a manutenção desse trecho para a passagem dos veículos. Neste curto trajeto, leva-se quase uma hora para subir a serra. A sensação é de não ter fim aquele trecho, de tão perigoso e intrafegável.

A BR-174 está jogada à sorte e ao descaso. Após quase quatro horas de viagem, finalmente, chegamos a Pacaraima, município brasileiro devastado pela invasão venezuelana. A cidade, invadida por estrangeiros, está suja e mal cuidada.

E se a ida de Boa Vista a Pacaraima foi cheia de transtornos e aventuras perigosas, a volta não poderia ser diferente. Saindo de Pacaraima, a tensão só aumenta porque de cara vem a descida da serra, sem acostamento algum e só penhasco nas laterais.

Após 10 km descendo a serra, 1a parada por quase 20 minutos, com muitos taxistas impacientes por conta das obras. Uma equipe estava fechando uma cratera bem próximo a uma curva perigosa. No início desse retorno a Boa Vista, demoramos quase 30 minutos para percorrer 10 km.

Depois, em outro trecho, foram mais 45 minutos para o ponteiro marcar apenas 15 km percorridos, isso porque estávamos em uma caminhonete 4×4. Não víamos a hora de chegar a Boa Vista. A nossa melhor surpresa estava bem no meio da pista. Um jabuti todo encolhido, escapando das rodas dos veículos. Descemos, claro, e o colocamos em um local seguro dentro da mata. Afinal, toda vida importa.

Caro leitor, se você vai pegar a estrada de Boa Vista a Pacaraima, vá com o coração aberto para surpresas e preparado para qualquer tipo de situação. É buraco que não acaba mais e os perigos de acidentes constantes. Fique atento! Uma viagem rápida a esse destino, com parada só para almoço e xixi, leva em média 10 horas. Boa sorte!

Informações: MídiaRR