Relembre polêmicas que marcaram o governo de Suely Campos em Roraima

Suely Campos (PP) foi eleita em 2014 para mandato de quatro anos, encerrado antes do fim pela intervenção federal — Foto: Inaê Brandão/G1 RR
Suely Campos (PP) foi eleita em 2014 para mandato de quatro anos, encerrado antes do fim pela intervenção federal — Foto: Inaê Brandão/G1 RR

A governadora de Roraima Suely Campos (PP) foi afastada do cargo nesta segunda-feira (10) após o início da intervenção federal que tem o governador eleito Antonio Denarium (PSL) como interventor até 31 de dezembro.

A intervenção foi definida em decorrência do “grave comprometimento da ordem pública”, devido aos problemas relacionados à segurança e ao sistema prisional do estado, que se agravaram frente ao atraso no salário dos servidores, incluindo policiais e agentes penitenciários, que, sem receber desde setembro, entraram em greve.

“O que está acontecendo no estado é uma crise sem precedentes […] a partir de agora, o governador disse que vai diminuir a máquina, isso é importante. Eu não pude fazer porque sou daqui de Roraima e a pressão pelo emprego, pela subsistência das pessoas é muito grande”, disse ao deixar o cargo nesta manhã.

Primeira mulher a governar Roraima, Suely Campos foi eleita em 2014 após lançar a candidatura no lugar do marido, o ex-governador Neudo Campos, que foi barrado pela Lei da Ficha Limpa por condenação no ‘Escândalo dos Gafanhotos’. Desde então foram muitas as polêmicas. Relembre aqui alguns dos principais episódios que antecederam seu afastamento:

Nomeações de parentes

Logo depois de tomar posse, a governadora indicou vários parentes para cargos do alto escalão. Entre elas uma filha e uma irmã, que ainda ocupavam secretarias do estado até a intervenção ser decretada, além de sobrinhos dela e do marido, que também exerceu função no governo.

Na primeira composição, eram um total de 19 parentes mais próximos e distantes com salários que somavam quase R$ 400 mil. As nomeações causaram polêmica e levaram a manifestações contrárias do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado.

Prisão do marido

Condenado a 10 anos e 8 meses de prisão por envolvimento no caso gafanhotos, que desviou R$ 70 milhões em convênios oriundos da união em 2002, o marido de Suely, Neudo Campos, teve a prisão decretada em fevereiro de 2016.

À época ele tinha o cargo de consultor especial da governadoria – função que exercia sem remuneração – e chegou a ficar foragido por cinco dias antes de se entregar à Polícia Federal em 24 de maio de 2016.

Preso, ele ficou seis dias na sede da PF e algumas horas na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, o maior presídio do estado, onde passou mal e foi levado ao hospital. Em seguida, ficou internado, e, meses depois, obteve o direito de ficar em prisão domiciliar, medida que cumpre até hoje.

Pedidos de impeachment

A suspeita de desvio de dinheiro no sistema prisional levantada em CPI motivou a entrada de um pedido de impeachment de Suely na Assembleia Legislativa de Roraima em junho de 2017.

No requerimento, foi anexado um relatório sobre desvio de R$ 20 milhões no sistema prisional e acusação de que ela teria cometido crime de responsabilidade. À época, o estado declarou que o pedido era uma “aberração”.

Além desse, outros três requerimentos de impeachment contra Suely tramitam no Legislativo, segundo a assessoria da Casa, mas nenhum deles chegou a ser levado para discussão em plenário.

Rompimento e saída de vice

Bem antes de ser afastada, Suely Campos já estava sem vice. O ex-deputado Paulo César Quartiero rompeu com o governo e passou a ser de oposição ainda em abril de 2015 e, em janeiro deste ano, deixou de vez o cargo.

Quartiero disse ao renunciar que a decisão foi tomada por “incompatibilidade com as ações do governo”, criticou as nomeações de parentes e a do ex-deputado João Pizzolatti, que ocupou várias secretarias de estado.

Após a renúncia, o governo acusou Quartiero de ter recebido meio milhão do presidente da Assembleia Legislativa do estado, Jalser Renier (SD), para deixar o cargo. A alegação foi rechaçada pelas defesas de Jalser e de Quartiero.

Queda de braço para fechar a fronteira

Em abril deste ano, o governo do estado pediu ao STF para fechar a fronteira com a Venezuela em razão da vinda de imigrantes para o estado, e a ministra Rosa Weber, relatora do caso, negou o pedido por entender que a decisão cabe ao presidente da República.

Michel Temer, por sua vez, já disse que o fechamento é “incogitável” – declaração que foi reforçada nesta segunda após o interventor dizer que iria restringir o ingresso de venezuelanos no estado.

Com a negativa para o fechamento da fronteira, Suely passou a pedir o ressarcimento de R$ 188 milhões, valor que, segundo ela, foram gastos na prestação de serviços públicos aos imigrantes venezuelanos, mas ainda não houve decisão.

Sem acordo, Suely se envolveu em outra polêmica com a questão venezuelana. Em agosto editou um decreto que restringiu o acesso dos venezuelanos a serviços públicos. A medida, que levou ao fechamento temporário da fronteira por decisão de um juiz de primeira instância, foi considerada inconstitucional e acabou derrubada pela ministra Rosa Weber.

Derrota nas eleições 2018

Suely tentou se reeleger governadora nas eleições de 2018, mas foi derrotada ainda no primeiro turno da disputa. Ela obteve apenas 11,13% dos votos válidos (29,8 mil votos), sendo a terceira candidata menos votada.

Seus oponentes, o agora interventor Antonio Denarium (PSL) teve 42,7% dos votos válidos (113,4 mil votos) e o ex-governador José de Anchieta (PSDB), que faleceu na quinta-feira (7) vítima de infarto, obteve 38,78% dos votos (104,1 mil votos).

Prisão do filho

Há pouco mais de uma semana, Guilherme Campos, filho de Suely, foi preso em Brasília na operação Escuridão da Polícia Federal suspeito de chefiar um esquema de desvio que movimentou R$ 70 milhões em contratos para quentinhas de presos. Ela não era investigada e nem foi alvo da ação, mas a PF cumpriu mandado de busca e apreensão em um escritório anexo à casa dela.