Na busca de um lugar para viver, imigrantes venezuelanos continuam invadindo prédios públicos e privados na Capital. Além das antigas Secretaria de Educação e Desporto (Seed), Secretaria de Estado da Gestão Estratégica e Administração (Segad) e do Ginásio Poliesportivo Vicente Feola, o “Totozão”, pelo menos outros dois locais vêm sendo ocupados na Capital. O motivo, segundo os próprios imigrantes, é a falta de vagas nos abrigos.
O primeiro deles é prédio que abrigará as novas instalações da Polícia Militar de Roraima (PMRR), localizado na avenida Minas Gerais, no Bairro dos Estados. Cerca de 150 imigrantes, entre adultos e crianças, residem no local há quase cinco meses. Um deles é o autônomo Bonaid Ospino, que vive há três anos em Boa Vista e viu na ocupação uma oportunidade de juntar dinheiro para ajudar a família na Venezuela.
Atualmente, Ospino trabalha meio período do dia em um supermercado localizado no bairro Aparecida. Este, segundo ele, foi outro motivo que o fez ocupar o prédio. “Com o dinheiro que recebo eu só conseguiria alugar um apartamento em bairros muito distantes. Aqui eu consigo ir ao trabalho a pé e poupo o dinheiro que gastaria com transporte para mandar para minha família”, disse.
Em frente ao prédio, uma placa do Governo do Estado informa que o local será utilizado para instalações da PM, apesar de não esclarecer datas. Ospino contou que servidores do Governo chegaram a visitar o local no início do mês e avisaram que as famílias tinham até o dia 22 de dezembro para sair. Os imigrantes não se retiraram, assim como os servidores não apareceram mais.
O venezuelano chegou a comentar que as famílias que vivem no local estão recebendo intimações e até ameaças de moradores da redondeza, a fim de que se retirem. Ele reforçou que não há vagas nos abrigos da Capital, assim como muitas famílias não possuem renda suficiente para pagar aluguel e contas. “Não é uma escolha estar aqui vivendo dessa forma, mas é o que temos”, falou.
O segundo lugar é o antigo Centro de Informática do Governo, situado na avenida Ville Roy, próximo do Centro Cívico. O espaço, entretanto, não pertence ao Estado, que apenas alugava o local para o funcionamento do Centro. Na tarde desta quinta-feira, 26, cerca de cinco imigrantes foram vistos pela reportagem limpando o espaço. Nenhum deles quis falar com a equipe.
Entre os prédios ocupados há mais tempo está o Totozão, na Praça Ayrton Senna, que passou a ser utilizado pelos imigrantes ainda em 2018. Atualmente, sete famílias residem no local, entre homens, mulheres e crianças e jovens de zero a 17 anos. Uma dessas mulheres é Gisela Paredes, que passou a morar no ginásio com a família há pouco mais de 10 dias para esperar o processo de interiorização.
Gisela esclareceu que chegou a ser encaminhada para alguns dos abrigos quando chegou a Boa Vista, mas que as vagas disponíveis eram direcionadas apenas a mulheres grávidas e pessoas com algum tipo de necessidade especial. “Já sabia que tinham famílias aqui, algumas moram há mais de um ano, até, então meu marido e eu resolvemos ficar para esperar a interiorização. Temos família no Mato Grosso”, disse.
Gestão da imigração é da Operação acolhida, diz Governo
Sobre a ocupação dos prédios públicos, a Secretaria de Comunicação Social informou em nota que a gestão da imigração venezuelana é da Operação Acolhida, responsável pela remoção voluntária de imigrantes que ocupam prédios públicos desativados. Sobre a nova ocupação no antigo Centro de Informática do Governo, a Secom reforçou que se trata de um prédio privado, que em gestões passadas era alugado para o Governo, e que o setor que funcionava no referido prédio está sediado na Secretaria de Fazenda (Sefaz).
Sobre o prédio no Bairro dos Estados, a nota informou não ser um local apropriado para moradia e acrescentou ser necessária a retirada dos imigrantes por questão de segurança, uma vez que os prédios estão desativados, aguardando reforma na estrutura física, que será feita no momento que houver disponibilidade orçamentária. A nota destacou ainda que os prédios estão desativados há mais de oito anos, “perpassando por outras gestões de governo anteriores à atual”, finalizou.
Acidentes não são responsabilidade do Estado
Um dos pontos comuns entre as ocupações aos prédios públicos e privados é a questão da estrutura. Pelo abandono de anos, as instalações não trazem a segurança adequada para o quesito moradia, como é o caso do Boa Vista Shopping. E se algum acidente acontecesse em um desses locais? De quem seria a responsabilidade? Do Governo? Bom, de acordo com o advogado Getúlio Cruz Filho, não.
“Legalmente não há ocupados, a menos que exista uma autorização expressa de uma autoridade pública informando que os imigrantes podem residir nesses locais”, disse. Por se tratar de uma invasão, os imigrantes acabam por assumir os riscos, diferente do que acontece com os abrigos, que são construídos especificamente para o acolhimento dessas pessoas. “No caso, se algum acidente ocorre em um desses abrigos, a responsabilidade é do Governo Federal”, concluiu.
Informações: Folha de Boa Vista – foto: Diane Sampaio