O garimpo ilegal tem se aproximado cada vez mais de comunidades na Terra Indígena Yanomami avançou 30% em meio à floresta amazônica em 2020, ano da pandemia de coronavírus. O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (25), é de um relatório produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume).
A área total devastada pelo garimpo é de 2.400 hectares – equivalente a 500 campos de futebol, conforme o relatório. Com novas rotas de acesso, a atividade subindo os rios e se aproximando cada vez mais das comunidades indígenas, com novas rotas de acesso ao interior da floresta.
A liderança Yanomami e xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, diz que está preocupado e revoltado com a atual invasão garimpeira.
“Você vê a água suja ,o rio amarelado, tudo esburacado. Homem garimpeiro é como um porco de criação da cidade, faz muito buraco procurando pedras preciosas com o ouro e diamante. Realmente, retornou. Há vinte anos conseguimos mandar embora esses invasores e eles retornaram. Estão entrando como animais com fome, à procura da riqueza da nossa terra. Está avançando muito rápido. Está chegando no meio da Terra Yanomami. O garimpo já está chegando na minha casa”, afirmou Kopenawa.
Seis regiões afetadas pela devastação foram destacadas no documento “Cicatrizes na Floresta – Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami em 2020”. Entre elas, Waikás e Kayanau, com 35% e 23% do total das cicatrizes mapeadas.
O levantamento aponta, ainda, a localização exata de novos núcleos garimpeiros dentro da reserva indígena. Só o rio Uraricoera concentra 52% de toda a área devastada pelo garimpo, de acordo com o relatório. Também foram localizadas 35 pistas de pouso clandestinas durante o levantamento feito de janeiro a dezembro de 2020.
Satélites Planet e Sentinel 1 foram usados para analisar as imagens usadas na construção do relatório. Também foi realizado um sobrevoo, em dezembro de 2020, para complementar as imagens que fazem parte do documento.
Risco de genocídio
O relatório aponta, ainda, que a atividade ilegal põe em risco a vida dos indígenas da região, uma vez que os invasores têm levado a malária e a Covid-19 à região.
“Os dados indicam também parao aumento da pressão sobre os grupos de indígenas em isolamento voluntário Moxihatëtëma, pressionados pelo aumento da circulação de garimpeiros na região da Serra da Estrutura a poucos quilômetros de suas comunidades. Um eventual contato forçado, nesse estágio, arrisca desencadear num trágico episódio de genocídio”, diz trecho do relatório.
Além dos danos ao meio ambiente e doenças, a presença dos invasores também é um risco à vida dos indígenas pela tensão e conflitos constantes. Em junho do ano passado, dois jovens Yanomami foram assassinados a tiros no meio da floresta. Após as mortes, lideranças indígenas temiam um ciclo de violência.
Informações: G1 Roraima